30 Março 2021
Głódzie e Janiak terão que viver longe das dioceses, não celebrar missa em público e indenizar uma fundação de vítimas. O Papa concede uma "pausa" a Stefan Hesse, que renunciou após a publicação do relatório de Colônia
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 29-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
De Colônia à Polônia, o eco dos escândalos pelos abusos do clero se reacende no coração da Europa. Enquanto na Alemanha, o Papa concede um "time out" ao bispo de Hamburgo, Stefan Hesse, que renunciou após a publicação do relatório sobre os abusos na Arquidiocese de Colônia a partir do pós-guerra, na vizinha Polônia a punição do Vaticano recai sobre dois bispos por terem ocultado casos de pedofilia em suas dioceses. Uma providência que surge depois de meses de polêmica e investigações. Os dois bispos em questão são o arcebispo de Gdansk, Leszek Sławoj Głódzie, e o ex-bispo de Kalisz, Edward Janiak, nomes acompanhados há anos por um vespeiro de críticas na Polônia por comportamento impróprio não só em casos de abuso, mas também por questões relacionadas com a administração do ministério.
Um comunicado de imprensa apresentado hoje pelo núncio na Polônia à imprensa – ao qual teve acesso o Vatican Insider - informa que a Santa Sé, após receber relatórios formais, conduziu um procedimento por negligência com base nas "disposições do Código de Direito Canônico" e as indicações do Motu proprio de 2019 "Vos estis Lux mundi" com o qual o Papa Francisco estabeleceu novas e universais normas processuais relativas à responsabilidade dos bispos.
Ao Arcebispo Głódzie foi imposto residir fora da arquidiocese de Gdansk, a proibição de participar em cerimônias ou reuniões religiosas públicas, a obrigação de pagar uma quantia adequada com fundos pessoais à fundação "Fundaja tow", que ajuda as vítimas de abusos. Em 13 de agosto de 2020, Francisco havia aceitado a renúncia apresentada aos 75 anos por Głódź e nomeado para Gdansk um administrador apostólico "ad nutum Sanctae Sedis" (até ser designado um novo) na pessoa de D. Jacek Jezierski. Este último, auxiliado por sacerdotes de fora da diocese, conduziu investigações sobre o arcebispo, rodeado de críticas e protestos desde os anos 1980.
A acusação de encobrir um padre abusador – que também apareceu no documentário de maio de 2019 “Tylko nie mów nikomu” ("Não conte a ninguém") dos irmãos Sekielski, o "Spotlight" polonês - é na verdade apenas uma das muitas acusações contra Głódź, acusado pela mídia polonesa de ser um ex-colaborador da inteligência militar da República Popular da Polônia, ou de ter humilhado e intimidado seus colaboradores. Aliás, em uma investigação transmitida pela conhecida emissora TVN24, uma dúzia de padres - sob anonimato - alegou que Glódź regularmente maltratava seus subordinados e oferecia cargos eclesiásticos a pagamento, com os quais financiava um estilo de vida luxuoso.
As mesmas penas de Glódź foram impostas ao D. Janiak: portanto, a proibição de viver na diocese de Kalisz e de participar em cerimônias religiosas públicas e a obrigação de pagar do seu próprio bolso uma quantia adequada para a fundação das vítimas. Janiak é acusado de encobrir um padre de sua diocese, o padre Arkadiusz Hajdasz, que foi transferido para várias paróquias onde, por mais de um quarto de século, abusou de vários menores, sem nunca ter sido punido.
A história havia sido divulgada também pelo docufilme dos Sekielskis, que entrevistaram duas das vítimas de Hajdasz e afirmaram que Janiak havia lhe garantido proteção. Uma investigação preliminar foi realizada sobre o caso pelo arcebispo de Poznan, Stanislaw Gadecki, mas o primaz da Polônia, o arcebispo de Gniezno Wojciech Polak, delegado do Episcopado para a proteção de menores, no verão de 2020 havia então colocado tudo nas mãos da Santa Sé, enviando um apelo formal para pedir "iniciar procedimentos".
O Papa Francisco, em 25 de junho daquele ano, havia nomeado um administrador apostólico "Sede plena" para Kalisz, o Metropolita de Lodz Grzegorz Rys, ordenando que Janiak (que permanecia nominalmente ordinário) permanecesse fora da diocese durante o período da investigação sobre a negligência.
Também na Polônia, há menos de duas semanas, circulou a notícia de que se previa uma providência contra o cardeal Stanislaw Dziwisz, eminente figura da Igreja polonesa, durante 39 anos secretário pessoal de João Paulo II. Uma comissão estatal parece acusar o famoso cardeal de ignorar as alegações de violência sexual de sacerdotes contra menores depois de se tornar arcebispo de Cracóvia em 2005. Dziwisz sempre rejeitou essas acusações, alegando ter passado os últimos cinquenta anos de sua vida "a serviço do Igreja, do Papa e da Polônia” e confiar numa “investigação transparente”.
Voltando para a fronteira, os escândalos sobre a pedofilia do clero continuam a assombrar a Alemanha, onde os resultados de uma investigação independente sobre a gestão de abusos na Arquidiocese de Colônia foram apresentados em 18 de março. O relatório, produzido pelo escritório de advocacia Gercke & Wollschläger sob encomenda do cardeal Rainer Maria Woelki, mostrou números dramáticos: mais de 200 abusadores, 314 vítimas, violências que ocorreram de 1975 a 2018 e 63% causadas pelo clero.
Alguns bispos, após a publicação, apresentaram suas renúncias ao Papa; entre estes o pároco de Hamburgo, Stefan Hesse, ex-diretor de pessoal da arquidiocese de Colônia e vigário geral do então cardeal Joachim Meisner, falecido em 2017. Segundo o relatório, onze violações de obrigações de ofício (contra Meisner, por outro lado, vinte e quatro, cerca de um terço de todos os casos examinados).
Hesse renunciou no mesmo dia, embora afirmando que "nunca participou de acobertamentos": "Estou pronto para assumir minha parcela de responsabilidade pela falha do sistema." O Papa ofereceu hoje "uma primeira resposta" à renúncia do bispo, concedendo-lhe "uma pausa", sem especificar a sua duração. Durante a sua ausência, o Vigário Geral Ansgar Thim será responsável pela "correta administração" da Igreja de Hamburgo.
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Abusos, punidos na Polônia dois bispos por negligência. Na Alemanha, "time out" para o bispo de Hamburgo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU