07 Dezembro 2020
Na corrida pela vacina anti-Covid, a anglo-sueca AstraZeneca ocupava a primeira posição até uma semana atrás. Depois, a notícia de um erro no preenchimento de uma dose e a necessidade de aprofundamentos atrasaram a fase de aprovação.
A entrevista é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 04-12-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Piero Di Lorenzo, o senhor é presidente da IRBM de Pomezia [empresa de biotecnologia molecular italiana], que produziu materialmente a vacina da AstraZeneca. O que tem a dizer a esse respeito?
Que é descabido falar de erro que impediu a experimentação. A verdade é que, em um lote do produto usado em um grupo de voluntários, havia sido inserida uma quantidade menor de produto. Essa situação, que veio à tona logo após a vacinação, foi imediatamente comunicada às agências reguladoras com uma integração do protocolo experimental. A partir da análise de todo o protocolo feito no fim da fase 3, constatou-se que aquela linha teve uma eficácia muito maior do que as outras, ou seja, de 90%.
E isso não é um erro?
Poderíamos falar de erro se isso tivesse vindo à tona durante a fase de administração e só tivesse sido descoberto no fim. Neste caso, repito, encontramo-nos diante de uma contingência feliz. A história da pesquisa científica está repleta desses casos fortuitos que deram resultados históricos: pensemos apenas na penicilina e nos antibióticos.
A AstraZeneca foi a única entre as multinacionais que trabalham com vacinas a comunicar dois níveis de eficácia, 70% e 90%. Por quê?
Foi considerado justo dar publicidade a todos os resultados individuais das várias linhas do protocolo, informando sobre o feliz caso que havia se verificado. Em vez disso, tudo isso foi instrumentalizado para desacreditar a experimentação e atrasar a chegada do nosso produto ao mercado.
De quanto será o atraso?
Certamente não sou eu que posso ditar os tempos da validação da EMA [o Ministério da Saúde italiano]. Espero que, dentro de algumas semanas, eles consigam concluir a análise dos dados que, de acordo com o que sei, serão enviados em sete a dez dias, salvo imprevistos.
A IRBM produzirá doses para a venda?
A nossa vocação é a pesquisa. Agora, estamos empenhados em realizar os testes de validação nas produções feitas no exterior e em particular na Inglaterra, mas eu prometi ao ministro Speranza e ao presidente da AstraZeneca que, se for útil, também daremos uma mão na produção, produzindo uma dezena de milhões de doses em 2021.
O trabalho continua normalmente?
Não. A normalidade acabou quando foi divulgado o preço de venda da vacina (2,80 euros por dose). Desde então, começamos a sofrer ataques de hackers profissionais muito violentos, que se intensificaram quando foi divulgada a quantidade de mais de três bilhões de doses que seriam produzidas. Já tivemos sete ataques muito pesados.
Ataques de quem?
Só posso dizer que vieram do exterior.
Qual era o objetivo?
Entrando no servidor da IRBM, roubar os dados sensíveis da operação da vacina. Só graças aos especialistas e às defesas corporativas, e com a ajuda das instituições competentes, é que pudemos resistir. Mas pense que agora não podemos mais usar e-mails e telefones para todas as comunicações de dados sensíveis, e eu lhe garanto que é um grande grão de areia na engrenagem.
O momento leva a pensar no motivo “político” para enfraquecer a posição de uma vacina que é econômica e fácil de transportar.
Bem, eu seria hipócrita se respondesse que não pensei no jogo geopolítico que poderia estar por trás desses fatos, sobre o qual eu ouvi falar por parte de alguns comentaristas. Mas eu prefiro afugentar os maus pensamentos.
A experimentação continuará, depois da aprovação do EMA, na Itália?
Todas as linhas de experimentação continuarão, porque ainda se esperam respostas quanto ao tempo de eficácia do soro. Também é verdade que, pelo mesmo motivo, os testes estão começando em vários outros países, incluindo a Itália.
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“Estamos sob ataque: hackers tentam atrasar a execução da vacina” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU