24 Setembro 2018
O Papa Francisco readmitiu à plena comunhão eclesial os sete bispos chineses que foram ordenados sem o consentimento da Santa Sé. E, ao mesmo tempo, criou uma nova diocese em território chinês, pela primeira vez desde o nascimento da China comunista.
A reportagem é de Gianni Valente e publicada por Vatican Insider, 22-09-2018. A tradução é de André Langer.
Em duas notas divulgadas menos de duas horas depois do comunicado em que se anuncia a histórica assinatura do Acordo Provisório entre a China e a Santa Sé sobre a nomeação de bispos católicos na China, o Vaticano e o governo chinês divulgam as duas primeiras decisões concretas tomadas pelo Papa Francisco no âmbito das negociações sino-vaticanas que levaram ao acordo: o Sucessor de Pedro, “com vistas a apoiar a proclamação do Evangelho na China”, diz a primeira nota, decidiu readmitir à plena comunhão eclesial os bispos “oficiais” ordenados sem mandato pontifício, isto é, sem o consentimento da Santa Sé. Os sete bispos são: Giuseppe Guo Jincai, Giuseppe Huang Bingzhang, Paolo Lei Shiyin, Giuseppe Liu Xinhong, Giuseppe Ma Yinglin, Giuseppe Yue Fusheng, Vincenzo Zhan Silu e Antonio Tu Shihua, que faleceu em 04 de janeiro de 2017 e que, indicou a nota, “antes de morrer, tinha manifestado expressamente seu desejo de se reconciliar com a Sé Apostólica”.
O texto divulgado pela Sala de Imprensa do Vaticano também cita que o Papa Francisco faz votos de, com as decisões tomadas, “se possa iniciar um novo caminho, que permita superar as feridas do passado, realizando a plena comunhão de todos os católicos chineses”. Recorda ainda que a comunidade católica na China “é chamada a viver em colaboração mais fraterna, para levar com renovado empenho o anúncio do Evangelho. De fato, a Igreja existe para testemunhar Jesus Cristo e o Amor misericordioso e salvífico do Pai”.
Em 2011, diante da última crise sino-vaticana, provocada pela celebração de novas ordenações episcopais ilegítimas, a Santa Sé havia declarado (pela primeira vez de forma explícita nas longas negociações chinesas) que os bispos consagrados ilegitimamente teriam sido excomungados “latae sententiae" (automaticamente). Mas, nesse contexto, no dia 06 de junho de 2011, o Pontifício Conselho para os Textos Legislativos (assinada pelo cardeal Francesco Coccopalmerio e pelo bispo Juan Ignacio Arrieta, da Opus Dei, e publicada no dia 11 de junho no L'Osservatore Romano) divulgou uma declaração para recordar, entre outras coisas, as “circunstâncias atenuantes” que era preciso ter presente nos casos de ordenações episcopais ilegítimas, quando “a pessoa que comete o crime como ordenante ou como ordenado é ‘obrigada por grave temor, embora seja relativamente o caso por necessidade ou por grave desconforto’”.
A segunda nota, divulgada hoje [sábado, 22 de setembro] simultaneamente pela Sala de Imprensa do Vaticano e pelo governo chinês, informa que, “com o desejo de promover o cuidado pastoral do rebanho do Senhor e para responder mais eficazmente ao seu bem-estar espiritual, o Sumo Pontífice Francisco decidiu criar na China Continental a diocese de Chengdé, sufragânea de Beijing, com sede episcopal na igreja catedral de Jesus Bom Pastor”.
À frente da diocese estará Giuseppe Guo Jincai, secretário da Conferência Episcopal Chinesa (órgão que ainda não tem o reconhecimento oficial da Santa Sé), um dos sete bispos canonicamente legítimos que acaba de ser readmitido à plena comunhão pelo Papa Francisco no âmbito das negociações que possibilitaram o acordo entre a China e a Santa Sé. Mas a diocese não constava até agora na lista das dioceses católicas chinesas do Anuário Pontifício, uma vez que foi fundada conforme as indicações das autoridades chinesas em maio de 2010, para que as dioceses coincidissem com as estruturas administrativas provinciais.
A constituição da nova diocese pelo Papa é um excelente exemplo de como as futuras negociações sino-vaticanas vão enfrentar e procurar resolver as questões pendentes: a disparidade entre a rede real das dioceses católicas na China, modificada nas últimas décadas pelas autoridades chinesas (quase sempre seguindo os critérios de unificação entre as instituições políticas e administrativas e as dioceses) e a estrutura diocesana chinesa oficialmente reconhecida nos documentos oficiais do Vaticano, que corresponde à divisão das dioceses católicas em vigor antes da chegada ao poder de Mao Tsé-Tung.
No Anuário Pontifício ainda há muitos nomes das antigas dioceses chinesas, mas não aparecem os nomes dos bispos titulares das respectivas dioceses. Em seu lugar há apenas pontos suspensos...
A criação da nova diocese reconhece uma circunscrição eclesiástica criada de acordo com a indicação do governo chinês e sem a autorização da Santa Sé. Ao mesmo tempo, pela primeira vez, os governantes chineses aceitaram o princípio de que as novas circunscrições eclesiásticas sejam criadas pela Santa Sé e reconhecem a autoridade do Papa na criação de dioceses em território chinês.
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Papa readmite os bispos chineses “ilegítimos” e cria uma diocese na China - Instituto Humanitas Unisinos - IHU