20 Setembro 2018
Uma delegação vaticana está se preparando para ir à China antes do final de setembro, com o objetivo de firmar o acordo tão esperado sobre os procedimentos para a nomeação dos futuros bispos católicos. A informação é do “Global Times”, que cita “fontes que têm familiaridade com o tema”. Depois de tantos “alarmes falsos” lançados por grupos e agentes contrários ao acordo entre Pequim e o Vaticano, desta vez a revelação pareceu verdadeira, precisamente pela fonte que a difunde: o jornal online em língua inglesa que é considerado órgão semioficial do Partido Comunista chinês, utilizado para informar, no Ocidente, o pensamento e as instâncias da liderança chinesa em relação aos cenários globais.
A reportagem é de Gianni Valente, publicada por Vatican Insider, 18-09-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
O “Global Times” cita que entre ambas as partes não há “disputas sobre questões de princípio”, e, “se o encontro sair bem, o acordo poderia ser assinado”. O jornal online chinês menciona que faz parte do acordo a legitimação canônica dos 7 bispos chineses consagrados no passado sem o consenso papal, inclusive os bispos para quem havia se estendido a pena da excomunhão. Além disso, conclui o diário, o diálogo está sendo feito “em âmbito religioso”, deixando de lado o âmbito político sobre o estabelecimento de relações diplomáticas entre Pequim e o Vaticano.
As revelações do “Global Times” contêm indícios úteis para apreciar a natureza real do possível acordo entre China e Santa Sé. Enquanto existem algumas pessoas que se dedicam sem descanso para tratar de impor uma chave de leitura exclusivamente política ao possível acordo entre Pequim e os Palácios vaticanos, as partes mais significativas do artigo do “Global Times” confirmam indiretamente que os critérios pastorais que movem a Santa Sé na negociação sobre a delicada questão do catolicismo na China são: ajudar a melhorar a condição dos católicos chineses no contexto político e social em que se encontram, abrindo a todos novos espaços para viver e expressar publicamente o vínculo de comunhão com a Igreja de Roma.
Curiosamente, a mesma publicação indicou na primavera de 2010 os pontos de um possível acordo sobre os procedimentos para nomear os bispos católicos na China, que desde então, em pleno Pontificado ratzingeriano, eram o centro das negociações entre a Santa Sé e o governo chinês. O acordo, explicou naquela época o acadêmico chinês Liu Peng, diretor do Instituto Pu Shi para as Ciências Sociais, teria começado pelos mecanismos para selecionar “in loco” (mediante consultas entre os representantes das paróquias) os nomes de candidatos ao episcopado. Depois estes deveriam contar com a aprovação do governo de Pequim, antes de serem submetidos à avaliação da Santa Sé para a decisão definitiva. A Santa Sé, explicou o professor chinês em 2010, dando a impressão de estar bem informado, poderia ter recusado os candidatos que não lhe pareciam indicados para o papel de bispo.
Então teriam se levado em consideração outros nomes, com outras etapas de consultas, até que se encontrasse o candidato ideal. O “sistema” apresentado desde 2010 pelo “Global Times” potencialmente poderia ter arquivado para sempre a eventualidade de ordenações episcopais ilegítimas, celebradas sem o mandato pontifício. E as revelações que circularam até agora, tanto em meios de comunicação chineses como ocidentais, sugerem que também os procedimentos que poderiam ser provados com o novo acordo sobre a nomeação dos bispos católicos na China não deveriam ser muito diferentes dos que já tinham sido delineados em 2010.
Nessa época, o possível acordo que foi apresentado pelo “Global Times” não teve sucesso. E pouco tempo depois voltou a cair uma cortina de gelo entre Pequim e o Vaticano, no mais enigmático “cabo de guerra” que sustenta o árduo caminho das relações sino-vaticanas. Pietro Parolin, que no passado se encarregou de conduzir as negociações com os chineses na condição de “vice-ministro do Exterior” vaticano, precisamente naquele momento crucial foi enviado como núncio apostólico na Venezuela (a partir do outono de 2009). Depois, desde novembro de 2011 até junho de 2012, os funcionários chineses impuseram uma série de ordenações episcopais ilegítimas, celebradas sem o consenso do bispo de Roma, e, pela primeira vez, a Santa Sé declarou publicamente que para os bispos ordenados ilegitimamente se dispunha a pena canônica da excomunhão automática.
Naquele momento tão difícil, o Papa Bento XVI, em seu livro-entrevista “Luz do mundo” (2010), indicou entre “os fatores que promoveram o desenvolvimento positivo da Igreja na China” “o vivo desejo de estar em união com o Papa”, que “sempre esteve presente com os bispos ordenados legitimamente”, e “isto lhes permitiu percorrer no caminho para a comunhão, ao longo do qual foram acompanhados pela obra paciente que cada um deles cumpriu individualmente”. Assim, há mais de oito anos, o Papa Ratzinger se referia aos fatores dinâmicos que agora poderiam ajudar a reconhecer o possível acordo entre a Santa Sé e o governo chinês, como um passo importante no caminho para a plena reconciliação entre os católicos chineses. Que estão chamados (todos eles) a reconhecer a comum pertença à Igreja una, santa, católica e apostólica.
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Aproxima-se o acordo sobre os bispos entre China e Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU