18 Setembro 2018
A estabilização histórica dos laços entre a China e o Vaticano está progredindo rapidamente para uma aceitação por parte dos chineses em relação a um princípio básico das sociedades ocidentais baseado na divisão entre política e religião, negado durante milênios.
O artigo é de Francesco Sisci, publicado por Settimana News, 15-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Por milênios o imperador da China acumulava poderes políticos e religiosos. Mesmo no século XVII, no auge da influência dos jesuítas na China - quando os padres Shall ou Verbiest eram ministros na corte do governo Qing -, o imperador nunca concedeu a nomeação de um bispo, considerando isso como violação papal a seus poderes.
Atualmente a China chegou a uma decisão diferente, permitindo que o Papa fosse o chefe formal dos católicos.
A decisão do Partido Comunista surgiu após décadas de pesquisas e conversas com Roma. Fundamentalmente, surgiu a partir do final da década de 1990, quando os líderes chineses perceberam que as pessoas comuns tinham uma grande necessidade de "satisfação espiritual". O Partido Comunista, com sua ideologia materialista, não podia satisfazê-lo, e a velha estrutura religiosa, confucionista, budista e taoísta, também foi apagada por décadas de domínio maoísta de cunho totalmente antirreligioso.
No início de 2000, o partido apoiou um ressurgimento budista, organizando conferências maciças e convocando os Bodhisattvas de toda a Ásia, aprofundando também as conversas com a Santa Sé. Reconheceram a necessidade de apoiar também outras religiões para ajudar a estabelecer uma "sociedade harmoniosa", como declarou o 17º congresso do partido em 2007. No entanto, as negociações se foram se arrastando na medida em que Pequim não sentiu nenhum senso de urgência.
Uma aceleração do processo veio nos últimos dois anos com a projeção global do Papa Francisco. Com isso, a liderança chinesa percebeu que a Santa Sé era um “poder global” e, como uma grande potência ambiciosa, a China não podia se dar ao luxo de evitá-la.
O próximo acordo inovador, então, aumentará a liberdade religiosa na China - não apenas para os católicos, mas para todos. Pequim não tem interesse em apoiar o catolicismo como uma "religião estatal". Por outro lado, deseja compensar as incursões católicas com aberturas para outras religiões.
Além disso, a divisão dos domínios entre política e religião constitui o princípio fundamental do qual a divisão moderna de poderes derivou no Ocidente. Assim, a aceitação desse princípio pelo Partido Comunista significa uma abertura oficial do dogma - até então intocado e de monopólio total do poder comunista.
Isso não significa que o Partido Comunista esteja pronto para democracia - muito longe disso. Mas os chineses mais flexíveis deram espaço para a liberdade ideológica, visando melhorar a harmonia social, assim como há 40 anos abriram as reformas de mercado para melhorar o desempenho econômico.
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Bastidores do futuro acordo histórico entre Vaticano e China - Instituto Humanitas Unisinos - IHU