Os bispos católicos da Inglaterra e do País de Gales devem fazer uma revisão completa de seus procedimentos em relação ao abuso sexual infantil.

A reportagem é de Ruth Gledhill, publicada por The Tablet, 24-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

A revisão "independente e abrangente" envolverá sobreviventes no processo. Em um comunicado divulgado quando os bispos se reuniram em Roma para a visita "ad Limina Apostolorum" – aos túmulos dos Apóstolos - os bispos dizem que passaram tempo juntos refletindo novamente sobre o impacto dos recentes relatórios contendo "revelações gritantes" de abuso sexual infantil dentro da Igreja Católica, incluindo na Inglaterra e no País de Gales, e de fracassos evidentes da liderança local".

Esses relatórios deixam claro que tanto os bispos quanto os líderes religiosos, em vários lugares, não conseguiram proteger as crianças sob seus cuidados daqueles que lhes causaram grande dano, disseram.

"Em particular, os fracassos dos bispos em ouvir ou dar crédito àqueles que se manifestaram corajosamente sobre os profundos danos que sofreram com o abuso na infância, juntamente com os passos que alguns tomaram para encobrir ou minimizar os abusos que se tornaram conhecido, são uma grande traição da confiança depositada neles pelos fiéis e das responsabilidades que o ofício episcopal pressupõe".

Enquanto estavam em Roma, "o impacto e as consequências da vergonha e tristeza que sentimos estarão constantemente em nossos corações e em nossas orações, especialmente quando viemos orar no túmulo de São Pedro e no túmulo de São Paulo, momentos-chave em nossa visita".

Eles também discutirão a questão com o Papa Francisco quando o encontrarem na sexta-feira.

Os bispos, que tentaram construir uma cultura de salvaguarda na prática da Igreja Católica na Inglaterra e no País de Gales desde o relatório de Lord Nolan em 2001, pediram à Comissão Nacional de Salvaguarda Católica que encomendasse uma "revisão inteiramente independente e abrangente" das estruturas de salvaguarda que atualmente operam dentro da Igreja Católica na Inglaterra e no País de Gales.

"Com importância, nós procuraremos assegurar que as vozes das vítimas e sobreviventes de abuso, através do Painel Consultivo de Sobreviventes estabelecido pelo NCSC (sigla em inglês para a Comissão Nacional), informem completamente a revisão e suas recomendações", disseram. "Ao pedir esta revisão, estamos dando um passo importante para cumprir a recente injunção do Santo Padre em sua Carta ao Povo de Deus em relação ao abuso sexual: nenhum esforço deve ser poupado para criar uma cultura capaz de impedir que tais situações aconteçam. A declaração dos bispos foi divulgada na véspera da próxima audiência do Inquérito Independente sobre Abuso Sexual contra a Igreja Católica (IICSA, na sigla em inglês). A audiência preliminar sobre o estudo de caso da Arquidiocese de Birmingham ocorrerá amanhã à tarde, terça-feira, 25 de setembro.

Danny Sullivan, ex-presidente da Comissão Nacional de Salvaguardas da Inglaterra e do País de Gales, deu boas-vindas cautelosas à esta declaração. Ele disse ao The Tablet: “A declaração refere-se a bispos e líderes religiosos que falharam em proteger as crianças aos seus cuidados, mas depois falha ao não abordar os dois grupos de líderes que se concentram apenas nas ações dos bispos. Assim, ficamos imaginando quem chamará os líderes das ordens religiosas para prestar contas, pois pelo menos uma das ordens que tenho consciência se recusa a encontrar com vítimas e sobreviventes, tratá-los com compaixão ou oferecer apoio a eles ou a suas famílias. Essa divisão entre bispos e líderes religiosos causa grande dor e frustração às vítimas e aos sobreviventes”.

Ele também questionou por que não houve nenhuma menção na declaração sobre o trabalho do IICSA. "O cardeal Nichols, como padre da Igreja neste país, irá se oferecer para participar do Inquérito e responder às perguntas dos consultores jurídicos de vítimas e sobreviventes? É isso que as vítimas e os sobreviventes querem que ele faça e, se ele comparecesse, seria um poderoso exemplo de prestação de contas”.

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