Cinema e mística: um caminho possível ao Divino. Entrevista especial com Angelo Atalla

Para o médico e também cinéfilo, “todo filme é basicamente religioso. A abordagem de diferentes temas se encontra com o papel que a religião tem em nossas vidas”

Frame do filme A Árvore da Vida | Foto: divulgação Imagem Filmes

Por: João Vitor Santos | 16 Fevereiro 2021

 

Quando se fala em filmes de religião, inevitavelmente nos vem à mente as inúmeras versões sobre a paixão de Cristo. Mas para Angelo Atalla, cinema de religião é bem mais do isso. “No dizer de Paul Tillich, todo filme é basicamente religioso. A abordagem de diferentes temas se encontra com o papel que a religião tem em nossas vidas e como ela expressa valores universais. Assim, não é necessário ser um determinado filme considerado religioso apenas porque aborda aspectos da atividade religiosa, dedicação e crença religiosa”, observa, em entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Médico, ele se diz seduzido pelo cinema como forma de expressão sobre a vida, sobre o humano e, até mesmo, sobre o Divino. “Fui atraído pela imagem em movimento e sua complexa estruturação para atingir o objetivo de despertar nossas emoções e nos inserir no mundo, através da ‘Lanterna Mágica’”, resume.

 

Aliás, a própria relação com sua profissão, que lida com morte, vida, dor e êxtase, revela uma possível forma de entendimento sobre nossas relações no mundo através do cinema. “Foi neste ambiente misto de fantasia e fé religiosa que norteei minha formação humanitária e que, anos depois, me levaria à Medicina. Tudo veio a partir dessas relações. O restante é consequência”, reflete. Ou seja, Atalla vê a medicina não como uma técnica, mas como relações. Isso o leva a compreender que a busca por um Deus, ou o Divino, não se resume apenas a figuras sacras. E, por que não, ver no cinema um caminho para essa conexão? “É uma vitória da humanidade se adaptar a seu tempo e representá-lo [Deus, o Divino] com liberdade e criatividade”, observa.

 

A perspectiva do médico vem ao encontro do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, ao promover projeto Filmes em Perspectiva, realizado pelo IHU em parceria com o Canal Paz e Bem. O objetivo é, através da Sétima Arte, abrir reflexões acerca do Sagrado e de nós mesmos. Ao longo da entrevista, Atalla ainda faz um recorrido sobre as transformações do que chama de cinema de religião, assim como as muitas formas que Deus vem assumindo seja no cinema estadunidense, europeu e até mesmo brasileiro.

 

Ele, juntamente com Faustino Teixeira e Mauro Lopes, comentou o filme Meu amigo hindu (2015), de Hector Babenco, uma das produções discutida no ciclo Filmes em Perspectiva, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira e o Canal Paz e Bem. O ciclo iniciou em fevereiro deste ano e foi encerrado em 15-12-2021, com o comentário do filme A noite americana, de François Truffaut. Ao total, 18 filmes foram comentados e todos estão disponíveis na página eletrônica do IHU e também no Canal do IHU no YouTube.

 

Angelo Atalla (Foto: arquivo pessoal)

Angelo Atalla é graduado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, possui mestrado em Medicina Interna e doutorado em Clínica Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, com concentração em Hematologia. É Professor Associado da Universidade Federal de Juiz de Fora até 2017. Além de apaixonado por cinema, é professor da Faculdade Governador Ozanam Coelho, onde ministra aulas nas Disciplinas de Semiologia Médica, Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente. Na Medicina, vem atuando principalmente em transplante de medula óssea em casos de trombose e trombofilias, linfoma, imunossupressão, infecções oportunistas e neutropenia.

 

A entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU foi publicada originalmente no dia 03-02-2021.

 

Confira a entrevista.

 

IHU On-Line – O que diferencia o ‘cinema para diversão’ do cinema enquanto arte?

Angelo Atalla – Minha formação é em Ciências da Saúde e, como todos, aprecio a capacidade da arte em produzir beleza e estimular nossas reflexões sobre o mundo que vivemos e, já que o cinema já tem mais de um século, em mergulhar na alma de outras pessoas que por aqui passaram, suas percepções, angústias, esperanças. Particularmente, fui atraído pela imagem em movimento e sua complexa estruturação para atingir o objetivo de despertar nossas emoções e nos inserir no mundo, através da “Lanterna Mágica” [lanterna mágica ou epidascópio é a antecessora dos aparelhos de projeção modernos. Foi inventada no século XVII e sua primeira descrição deve-se ao jesuíta Athanasius Kircher na sua obra Ars Magna Lucis et Umbrae de 1645, ainda que foi o dinamarquês Thomas Walgenstein o primeiro a lhe dar o nome de lanterna mágica].

Feito este pequeno preâmbulo, acho importante para tentar fazer esta diferenciação, quase impossível, lembrar que o cinema dos irmãos Lumiére era visto como um invento que trazia animação à fotografia e era exibido em salas para um público que se extasiava com a novidade. Neste sentido, poderia dizer que o cinema nasce como “documentário”. Apenas após George Méliès (um ilusionista e dono de um teatro de variedades) perceber seu potencial, o cinema se torna sinônimo de divertimento para as massas. Ou seja, o cinema tem sua origem no documentário, mas foi no entretenimento que se firmou no coração das pessoas.

 

 

Logo os intelectuais da época viram no cinema potencial para expressão artística. O Manifesto de Riccioto Canudo, em 1911, dividia as seis artes entre aquelas que tinham relação com o tempo e as que tinham relação com o espaço. O cinema era a síntese delas e foi, então, denominado Sétima Arte. Por isto, enfatizo a grande dificuldade de diferenciar as duas formas de expressão pela subjetividade que a percepção de arte alcança com o tempo e com as transformações culturais. Exemplos disso são os filmes “noir” americanos e os musicais, que eram vistos com reservas pelos críticos e com delírio pelos públicos.

 

 

Vejo, portanto, muito difícil fazer esta distinção. Tela grande versus televisão, projeção em salas versus streaming e outras questões são debates que ainda trarão muita discussão. Todos vimos Martin Scorsese se referir aos filmes da Marvel como parques temáticos e não como cinema. Mas ele próprio afirma que é uma questão de gerações. Qualquer tentativa de diferenciar arte de entretenimento será só recorte de um tempo histórico e essa questão revela muito mais da eterna luta de classes do que sobre a evolução da arte em si.

 

 

IHU On-Line – Como compreender o que senhor define como ‘cinema de religião’? Onde e como cinema e religião se cruzam?

Angelo Atalla – Esta definição é mais uma figura de linguagem que um estilo. No dizer de Paul Tillich, todo filme é basicamente religioso. A abordagem de diferentes temas se encontra com o papel que a religião tem em nossas vidas e como ela expressa valores universais. Assim, não é necessário ser um determinado filme considerado religioso apenas porque aborda aspectos da atividade religiosa, dedicação e crença religiosa. É uma complexa interação entre mitos, simbologia, metáforas e magia.

Como estabelecer estes paradigmas? A busca da identidade do personagem e sua religiosidade (“Luzes de Inverno” de Bergman, “A última tentação de Cristo” de Scorsese e “Fé Corrompida”, de Paul Schrader), a necessidade de redenção (“O Sacrificio” de Tarkovsky e Homens e Deuses, de Xavier Beauvois), o universo sacro (“Asas do Desejo” de Wenders e “Madre Joana dos Anjos” de Jerzy Kawalerowicz)? Trata-se, portanto, de uma correlação entre o mistério e o mundo.

 

 

 

IHU On-Line – Como a linguagem cinematográfica traduziu as narrativas religiosas ao longo do tempo?

Angelo Atalla – Fazer filmes sobre religião e religiosidade sempre foi atraente para a indústria. Cecil B. DeMille ao ser perguntado porque preferia filmar histórias bíblicas respondeu que jamais desperdiçaria 3000 anos de publicidade gratuita. Ver a “A Vida de Cristo” produzida na Itália e na França na primeira década do Século XX, foi uma obrigação durante anos e sempre exibida na Sexta-Feira Santa para acentuar a devoção das pessoas.

 

 

O cinema americano percebeu este filão com mais rapidez que o europeu. Em 1923 e 1927 DeMille lança “Os Dez Mandamentos” e “O Rei dos Reis”. Cristo era retratado com reverência e de forma solene, mas esta visão foi mudando e outras formas de apresentação (mais de 60 atores o interpretaram) fizeram grande sucesso e foram importantes para fortalecer o sentimento de fé nas pessoas.

 

 

Os musicais como “Godspell” e “Jesus Cristo Superstar” ambos de 1973 ou comédias ("Alguém lá em cima gosta de mim” de 1977 e ”A Vida de Brian” de 1979) humanizaram a figura divina com consequente empatia.

 

 

Na Europa, a apresentação de Cristo foi consagrada por Pasolini, ateu convicto, no seu ‘Evangelho segundo São Mateus” trazendo a importância social do Evangelho e elogiado por João XXIII como o melhor filme sobre Cristo já feito.

 

 

Bunnel é iconoclasta e engraçado ao representar Jesus em “A Via Láctea”. Não podemos esquecer, também, o Brasil através do ótimo filme de Cacá DieguesDeus é Brasileiro”. Ou Alanis Morissette, cantora canadense, como Deus em “Dogma” de 1999. E Morgan Freeman, negro, representando Deus em “Bruce, O Todo Poderoso” de 2003.

 

 

É uma vitória da humanidade se adaptar a seu tempo e representá-lo com liberdade e criatividade. Isto vindo de uma origem repressora e policialesca de códigos puritanos e hipócritas como a “Magna Carta” dos produtores e distribuidores do cinema americano em 1927 que entre dezenas de proibições veda a profanação pontual – por título ou lábio – e inclui as palavras Deus, Senhor, Jesus, Cristo (a menos que sejam usadas com reverência em relação às cerimônias religiosas adequadas), inferno, maldição, Deus e todas as outras expressões profanas e vulgares.

Temos hoje, no dizer de Mark Kellner, “uma reverência envolta em familiaridade e até mesmo casualidade” e consequente reforço da espiritualidade. Afinal, ninguém mais imagina Deus como uma sarça ardente com a voz de Charlton Heston.

 

 

IHU On-Line – Como o cristianismo é apresentado pelo cinema, especialmente ocidental? E como as outras religiões aparecem por esse cinema?

Angelo Atalla – Os grandes sucessos de bilheteria, na primeira metade do século passado, com temas bíblicos ou religiosos que reforçavam valores ocidentais e atitudes morais, a começar pelo cinema mudo, eram consumidos e assimilados por espectadores que se sentiam confortáveis por verem suas convicções traduzidas pelo cinema. Os Estados Unidos eram um país de imigrantes formado por católicos, protestantes, judeus, muçulmanos e budistas. E a não diferenciação das pessoas por sua religião, com a identificação de um denominador comum de religiosidade entre elas – que podemos definir como atitudes morais –, foi uma grande habilidade de Hollywood.

Com seu alto poder de manipulação e, ainda, apoiado na esteira das grandes produções bíblicas, o cinema americano mergulhou, sem reservas, no discurso político, se apropriando de mensagens subliminares, envolvendo a Guerra Fria e o combate ao comunismo (“Os Dez Mandamentos”, de 1956). Buscava-se, assim, enfatizar o modo de vida americano como algo que provinha da Bíblia e que, Deus, portanto, estava ao lado da América.

 

 

Enquanto isso, na Europa, Ingmar Bergman e vários outros diretores do continente questionavam a responsabilidade de Deus para com o homem, assim como o silêncio dos Céus frente à busca humana por respostas. É o que podemos ver em “Luz de inverno”, 1963, e “O Sétimo Selo”, 1957.

 

 

Nos anos seguintes, porém, o quadro mudou. As histórias épicas deram lugar a filmes que analisavam o papel da religião em gerar angústia e conforto aos homens na tomada de decisão, seja enfrentando ou assumindo os valores intrínsecos à civilização ocidental. É o tempo dos grandes diretores, independente de suas crenças e seus filmes, entre eles Pasolini, Bergman, Visconti, Zefirelli, Scorsese, Paul Schroeder e Terrence Malick. Todos retratam, através de narrativas do cotidiano, a influência e a importância da religião em nossas vidas.

 

 

 

 

 

Curiosamente, Hollywood faz, então, o movimento reverso. Em vez da solene figura de Deus, apresenta um personagem divino, mas tão próximo do humano que o sentimos como um companheiro, um igual, conforme citei na resposta anterior. Tudo contextualizado no tempo. Os próprios filmes de terror e de vampiros são catalisadores do reforço na fé em Deus, para enfrentar o desconhecido. Recentemente, temas que abordam pedofilia na Igreja dominam o discurso religioso no cinema.

 

 

Oriente esteriotipado

Sobre outras religiões, gostaria de citar o artigo de Taieb Oussayfi, em seu blog na plataforma Medium (23/07/2018): “Alguns filmes que exploram religiões e tradições não-cristãs menosprezaram ou depreciaram as imagens do ‘Outro’. Eles criaram uma imagem padronizada e fixa do Oriente como incivilizado e rude, do Oriente como místico e esotérico e dos africanos como selvagens, bárbaros e perigosos. Esses filmes geraram um sentimento de superioridade no americano branco e, assim, contribuíram para aumentar o sentimento de supremacia do americano sobre outras culturas, religiões e raças”.

 

IHU On-Line – O senhor considera que o cinema americano apresenta a religião e o europeu o discute. Gostaria que recuperasse essa sua tese e destacasse porque se dá essa distinção.

Angelo Atalla – O cinema americano pode ser avaliado sob diferentes óticas. A primeira delas diz respeito ao uso da religião e da religiosidade, para exploração comercial. É o que vemos em “Sansão e Dalila”, 1949, “Os Dez Mandamentos”,1956, “Ben-Hur”, 1959, e “A Maior História de Todos os Tempos”, 1956. Apesar do background bíblico, esses filmes atendem meramente a interesses mercantis, assim como qualquer outra história cinematográfica que abordou Deus e religiões nesta época.

Sob uma segunda perspectiva, observamos a exploração da cultura religiosa popular, pelo fortalecimento dos laços entre o espectador e seus valores, impulsionada pela confiabilidade que o cinema despertava nas pessoas. Temos aí produções poderosas que traduzem bem esta finalidade, como “A Felicidade Não se Compra”, 1946, “O Milagre da Rua 34”, 1947, e outros filmes natalinos.

 

 

Finalmente, sob o terceiro viés, chegamos aos cineastas que buscaram o entendimento a partir da reflexão sobre o papel da religiosidade na vida humana e na sociedade, destacando seus benefícios, malefícios e determinismos. Estes cineastas são a exceção e são representados, principalmente, por Scorsese, Copolla, Malick e, mais recentemente, Paul Schrader, em “O Silêncio”, 2016, “O Poderoso Chefão”, 1972, “A Árvore da Vida”, 2011, e “Fé Corrompida”, 2018, respectivamente.

 

 

Já os cineastas europeus abordam a religião no cotidiano e sua capacidade de influenciar vidas, sociedade e política. Trazem à tona o quanto somos frágeis, manipulados e aprisionados em nossas convicções, e torturados pelos valores arraigados. Discutem a dor de romper com eles e a dor de não conseguir romper, para nos libertar por meio do entendimento. E, ainda, abordam nossa incapacidade de superar o sofrimento dos que nos são próximos. Assim é essencial entender Pasolini (em “O Evangelho Segundo São Mateus” e “Decameron”), Tarkovsky (em “Solaris” e “O Sacrifício”), Haneke (em “A Fita Branca”), Buñuel (em “Nazarim”, “O Anjo Exterminador”, “Viridiana” e “O Estranho Caminho de San Tiago”), Dreyer (em “A Paixão de Joana D’Arc”) e Bergman (em sua trilogia sobre o silêncio de Deus, além de “Gritos e Sussurros”, “Fanny e Alexander” e, claro, “O Sétimo Selo”). Aqui se tem uma tentativa séria e elegante de trazer a discussão religiosa ao grande público espectador e alimentar com conhecimento seu poder transformador social. Note que me refiro a filmes antigos que estão hoje imortalizados e cada vez mais atuais e necessários.

 

 

IHU On-Line – Quais os melhores filmes que falam acerca da religião e de Deus? Por que o senhor considera esses os melhores filmes?

Angelo Atalla – Estas são escolhas muito pessoais. Sou muito crítico à elaboração de listas de melhores filmes, melhores gêneros, melhor ator e outras indicações no modelo dos festivais e do Oscar, e também de como estes júris são escolhidos. Sempre haverá um direcionamento ideológico ou circunstancial ou ainda estético que refletirá o tempo em que estas obras foram avaliadas. Como falamos antes, a grande maioria dos filmes são obras comerciais em seu objetivo e usam a religião como catalisador de emoções. Não sou contrário a isto. Cinema é um negócio que exige investimento e procura retorno de capital. É uma indústria com enorme poder de transformação cultural sobre as pessoas e nosso tempo. E aí uma lista, que eu elabore, pode ser tediosa ou incompreensível para outros e injusta com muitos filmes.

 

 

Mas vamos lá. É uma lista muito pessoal sobre filmes que influenciaram minha vida.

 

1- “A Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo”, nas diversas versões, durante as décadas de 1910 e 1920, em que as cópias se multiplicaram pelo mundo. Exibidas, principalmente durante a Páscoa, em praças, circos, coretos, teatros e cinemas por quase 60 anos, arrastavam multidões que reafirmavam sua fé. Estes filmes têm a força do pioneirismo, a delicadeza da estrutura e a sinceridade em suas intenções. Imperdível, cada um deles.

 

2- “A Paixão de Joana D'Arc”, de Carl Theodor Dreyer, (1928). A magnífica interpretação de Maria Falconetti, materializando em seu rosto a superioridade do espírito humano sobre a tortura e a dor, através da fé.

 

 

3- “Os Dez Mandamentos”, de Cecil B. DeMille (1956). Uma superprodução magnífica que, exalando a superioridade moral do povo judeu sobre o Faraó, passou a mensagem da vitória da civilização ocidental contra o comunismo. Um filme religioso que nada tem a ver com religião.

 

 

4- “Tortura do Silêncio”, de Alfred Hitchcock (1953). A impressionante interpretação de Montgomery Clift, como um padre suspeito de homicídio que não pode limpar o seu nome sem quebrar o selo do confessionário.

 

 

5- “Gritos e Sussurros”, de Ingmar Bergman (1972). A frivolidade da vida frente à realidade da morte e a redenção dos personagens pelo amor.

 

 

IHU On-Line – O senhor é um médico, mas que mergulhou nas reflexões sobre cinema e religião. Como chegou a esses caminhos?

Angelo Atalla – Nasci em uma cidade do interior de Minas na década de 1950. Meus pais eram filhos de imigrantes libaneses e italianos de origem pobre e católica. Comecei a me abrir para o mundo através dos filmes antigos exibidos com cinco ou seis anos de atraso em relação ao seu lançamento. Minha infância e adolescência foram fortemente influenciadas pelas experiências que vivi nas salas de cinema da minha aldeia, assim como nas aulas de catecismo e nos ofícios de coroinha realizados na Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Foi neste ambiente misto de fantasia e fé religiosa que norteei minha formação humanitária e que, anos depois, me levaria à Medicina. Tudo veio a partir dessas relações. O restante é consequência.

 

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