24 Outubro 2025
Quase metade dos 7.875 pacientes que já saíram foram parar no Egito, Emirados, Turquia, Catar, Jordânia, mas na Europa a Itália é quem mais fez isso, com 196 pacientes internados, enquanto EUA e Canadá mal hospitalizaram duas pessoas.
A reportagem é de Alessia Candito, publicada por La Repubblica, 24-10-2025.
Quarenta e um pacientes deixaram Gaza ontem de manhã, juntamente com 145 acompanhantes. "Esta é a primeira evacuação médica desde o início do cessar-fogo", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que apelou a todos os países para que reabrissem seus hospitais.
Quase metade dos 7.875 pacientes que já receberam alta foram parar no Egito, Emirados Árabes Unidos, Turquia, Catar e Jordânia. Mas, na Europa, a Itália foi a que mais fez isso, internando 196 pacientes, enquanto os EUA e o Canadá mal internaram duas pessoas. "Precisamos fazer mais", brada a OMS.
Há mais de 15.600 pessoas na fila, um quarto delas crianças. Mira, de 10 anos, ainda espera ter tempo e força suficientes para lutar contra a insuficiência renal aguda que sofre, e os pais de Yazan, um menino de 7 anos com anomalias cerebrais congênitas que precisaria de cirurgias regulares para sobreviver, querem acreditar no mesmo. Por enquanto, eles só podem esperar, mas em Gaza, até o tempo é um luxo: 740 pessoas, incluindo 137 crianças, segundo a Médicos Sem Fronteiras, morreram entre julho de 2024 e agosto de 2025 enquanto aguardavam transferência para tratamento no exterior. "Essas são mortes evitáveis, causadas não apenas pela destruição de hospitais e instalações de saúde", diz Javid Abdelmoneim, presidente da MSF, "mas também pela inação política".
Após dois anos de bombardeios e ataques terrestres e aéreos direcionados em Gaza, apenas 14 dos 36 hospitais permanecem abertos e estão apenas parcialmente operacionais. Faltam equipamentos e departamentos inteiros – confirma o último relatório da ONU – foram intencionalmente destruídos. "Há milhares de pacientes com necessidade urgente de tratamentos especializados que não podemos mais fornecer aqui", diz o Dr. Morten Rostrup, dos departamentos superlotados do Hospital Al Aqsa. "Mas mesmo a ajuda básica prometida não está chegando em quantidade suficiente, e tudo é necessário aqui."
Um grupo de 41 ONGs, incluindo organizações humanitárias renomadas como Médicos do Mundo, a CISS italiana, ActionAid e Terres des Hommes, também denunciou a situação. Elas explicam que 94% dos caminhões bloqueados por Israel pertencem a ONGs e, "em três quartos dos casos, o motivo é que as organizações 'não estão autorizadas' a fornecer ajuda humanitária", apesar de estarem presentes em Gaza há anos.
É o fruto venenoso da repressão do governo Netanyahu à ajuda humanitária, que deixou mais de US$ 50 milhões em suprimentos essenciais e centenas de trabalhadores fora da Faixa de Gaza. Eles são necessários, especialmente em hospitais. Desde o início do conflito, pelo menos 1.722 médicos e paramédicos foram mortos, centenas foram presos e 95 permanecem. Entre eles, além do renomado pediatra Abu Safiya, preso de jaleco branco enquanto pedia às Forças de Defesa de Israel (IDF) que poupassem o hospital Kamal Adwan e seus pacientes, está também o Dr. Mohammed Obeid, da MSF, que pede incansavelmente sua libertação imediata. "Exigimos que seus direitos, sua dignidade e sua liberdade sejam restaurados sem mais delongas."
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