25 Abril 2025
Os líderes mundiais estão chegando. Trump: “Gostaria de conhecer todos eles.” Na Praça São Pedro também estarão migrantes, pobres e trans. E eles ainda serão os últimos, tão amados pelo Papa, a acolher o corpo em Santa Maria Maggiore depois da procissão no coração de Roma.
A reportagem é de Annalisa Cuzzocrea, publicada por La Repubblica, 25-04-2025.
Acredita-se que o espírito de Francisco se sentirá mais tranquilo quando os restos mortais do último Papa chegarem ao cemitério de Santa Maria Maggiore, onde cerca de quarenta pessoas o aguardarão, segurando uma rosa branca: pobres, mulheres vítimas de tráfico, transexuais, presos em liberdade condicional e um representante da comunidade cigana. Pessoas que o Pontífice conheceu, dando a todos uma palavra de conforto, um gesto de proximidade, agora escolhidas para o último adeus no lugar dos grandes da Terra que lotarão o funeral na Praça São Pedro.
O Papa da paz, aquele que assumiu o sofrimento dos refugiados e o de Gaza, que implorou ao mundo que se desarmasse e pusesse fim às guerras, verá reunidos no centro do cristianismo aqueles que poderiam tê-lo escutado, mas não o fizeram. Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu não estarão lá, e não por medo do mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional que o governo italiano demonstrou de mil maneiras que não quer aplicar. Mas talvez fosse demais comparecer ao funeral de Francisco, depois das palavras de sua última mensagem de Páscoa, dirigida ao sofrimento da Ucrânia e do Oriente Médio. E depois dos telefonemas diários para a paróquia em Gaza, mesmo nos últimos dias.
Mas haverá Donald Trump, que disse ontem à noite: "Quero conhecer todos os líderes que estarão em Roma". E ameaçou: "Acredito firmemente que Zelensky e Putin querem a paz, mas eles precisam se sentar à mesa de negociações. Tenho meu prazo, depois do qual as coisas serão diferentes." E por isso é fácil imaginar que o presidente ucraniano tentará falar com ele, para fazê-lo entender por que pedir a Kiev que desista da Crimeia, do Donbass e de garantias de segurança confiáveis significa exigir que seu país deixe de existir. Ou talvez seja Olena Zelenska quem tente se aproximar de Melania Trump, despertando-a de um torpor absoluto e quase contínuo.
A cerimônia não ajuda. Os chefes de Estado serão sentados, como aconteceu no funeral de João Paulo II, seguindo a ordem alfabética dos diferentes países. Em francês. E por isso é provável que Trump esteja próximo do presidente Macron e do primeiro-ministro britânico Keir Starmer, mas a uma distância segura de Zelensky, que não o encontra desde que foi duramente atacado e insultado na Casa Branca.
Daquele completamente inusitado “estamos ansiosos por isso” escrito quando anunciou sua presença e a de Melania em Roma, Trump deixou claro que estaria disponível para encontros que vão muito além do luto pela morte de um Papa que não compartilhou absolutamente nada de suas políticas. E ele disse isso e deixou claro de mil maneiras. Acima de tudo, com a carta muito pesada enviada aos bispos americanos sobre as deportações de migrantes.
Biden também estará no funeral, e é mais provável que o ex-presidente americano seja quem vá abraçar Zelensky. E haverá Ursula von der Leyen, que está fortemente torcendo por uma reunião paralela com Trump. Primeiro tópico: os direitos atualmente suspensos em relação à UE.
Ainda ontem, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, seguindo a linha ditada pelo primeiro-ministro Giorgia Meloni, se conteve: essas coisas não podem ser feitas assim. Com pressa. E, de fato, é difícil entender como entre 23h — horário previsto para o pouso do Air Force One em Roma — e 13h de amanhã, data prevista para sua nova decolagem, possam ser mantidas conversas que resolvam questões complexas como a política comercial mundial ou duas crises sangrentas que, nessas mesmas horas, mataram mulheres e crianças em Kiev e Gaza.
O fato de alguém querer tentar mostra como os grandes que se ajoelharão diante do caixão de Francisco estão desorientados por um novo tempo que eles não conseguiram prever. E quanta falta esse Papa fará não tanto a eles, mas aos refugiados que a Mediterranea Saving Humans trará à praça, com mais direito de estar ali do que um presidente como Milei, que como argentino terá a primeira fila, apesar dos insultos reservados a Francisco durante a campanha eleitoral. Ele o chamou de “representante do mal na Terra” por sua defesa da justiça social. Mas os funerais, como sabemos, são um rito que faz esquecer tudo. Até mesmo os de um Papa que veio dos confins da Terra para tentar — até o fim — salvá-la.