25 Março 2025
Entrevista com Olga Cherevko, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), em uma ligação direta da Faixa de Gaza. “Há uma enorme escassez de sangue para transfusões, níveis críticos também nos estoques de alimentos, água e medicamentos. (...) Estamos à beira da fome, não sei quantos dias mais temos para evitá-la. (...) Somos forçados a dividir as porções alimentares em duas para alimentar o maior número possível de pessoas”.
A entrevista é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 24-03-2025.
Ainda há produtos alimentícios disponíveis no mercado?
Cada vez menos. E os preços estão disparando. No norte da Faixa, um saco de farinha de 25 quilos agora custa cerca de 30 dólares, antes custava 8. A gasolina custa mais de dez dólares o litro, e de fato os moradores de Gaza costumavam diluí-la com óleo de cozinha. Mas isso também acabou. Para dar uma ideia da flutuação dos preços, um cigarro, que obviamente não é um item necessário para a sobrevivência, chegou a custar até cem dólares. Apenas um cigarro. Agora está em torno de dez dólares. Os moradores de Gaza os quebram e os cortam com folhas de chá, para que durem mais.
Autoridades israelenses alegam que a ajuda humanitária está sendo levada por militantes do Hamas. É assim mesmo?
Não acho que esse seja o problema. Nosso trabalho, como OCHA, é entregar ajuda às pessoas que precisam. Temos sistemas de controle, mecanismos para garantir e monitorar pontos de distribuição. Claro, como em qualquer conflito, há vazamentos, não é segredo. Quando acontecem, levamos muito a sério. Mas dizer que a comida e o combustível que entraram foram para o Hamas não me parece certo.
Quantas novas pessoas deslocadas você vê?
Após a retomada dos bombardeios e as últimas ordens de evacuação, calculamos cerca de 120.000 pessoas.
Os militares israelenses designaram “zonas humanitárias” seguras para os deslocados, mas os palestinos também relatam bombardeios lá. Como estão as coisas?
A realidade é que nenhum lugar na Faixa de Gaza pode ser considerado seguro. É por isso que nem sequer os chamamos de zonas humanitárias.
Qual é a maior emergência agora?
Há uma enorme escassez de sangue para transfusões. Então estamos em níveis críticos nos suprimentos de comida, água e medicamentos. Já era uma catástrofe antes, mas agora, com a retomada do conflito e o bloqueio da ajuda humanitária entrando em sua quarta semana, é ainda pior.
Quantos hospitais ainda conseguem receber e prestar cuidados aos feridos de guerra?
Sabemos de 13, no início da guerra eram 39. No entanto, nenhum deles pode ser considerado totalmente funcional. Antes, havia um total de 271 pontos de saúde na Faixa, incluindo hospitais de campanha, pequenas clínicas, centros de primeiros socorros e estruturas semelhantes. Hoje, 36 ainda estão funcionando. Não há ambulâncias suficientes, paradas pela falta de combustível, mas também pela falta de peças de reposição, porque o bloqueio foi imposto a elas também.
Tem alguma notícia de alguma epidemia em andamento?
Sim. Todas as doenças estão aumentando, por causa da água e da situação sanitária que é desastrosa. Há ruas completamente cobertas de lixo, e campos submersos por esgoto.