18 Dezembro 2024
"Mas entre as virtudes às quais damos pouca importância, podemos dizer que a fortaleza ainda é uma virtude, a terceira virtude cardeal de acordo com a tradição filosófica e teológica ocidental?", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado em La Repubblica, 16-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Hoje é difícil falar das virtudes. Pensamos de imediato em uma leitura moralista, porque não se compreende mais a virtude como um hábito que faz parte da formação do caráter. Na realidade, a virtude é a dimensão estável e evidente dos aspectos mais profundos da pessoa do ponto de vista psicológico, moral e espiritual.
Não é uma virtude teologal, dom do alto, mas algo que pode ser adquirido por meio da busca, do exercício e da constância, ao longo do tempo de atitudes e ações voltadas para realizar o bem.
Hoje, devemos reconhecer que uma das deficiências mais graves na paideia, na educação, está na abordagem das virtudes.
Mas entre as virtudes às quais damos pouca importância, podemos dizer que a fortaleza ainda é uma virtude, a terceira virtude cardeal de acordo com a tradição filosófica e teológica ocidental?
Talvez ela seja mal compreendida hoje em dia porque o termo está muito relacionado com a “força”? Ou talvez em reação a uma específica leitura de Nietzsche e de seu “homem forte”? No entanto, no passado, a fortaleza era considerada a virtude por excelência. Era a virtude “condição necessária de todas as virtudes”. Era considerada indispensável para uma vida bela, boa, feliz e que valesse a pena ser vivida, era considerada decisiva. É somente com a fortaleza que se pode firmiter operari, operar com firmeza, removendo os obstáculos para que a ação decidida siga seu curso e seja bem-sucedida.
Como uma família pode ser construída se não houver essa virtude da fortaleza nos pais e, especificamente, no pai? Os filhos que crescem precisam sentir e ver a possibilidade de aderir a algo seguro, algo firme. E como se pode governar uma comunidade sem ser “fortes”? Como se pode combater a força que agride e tenta destruir sem pessoas fortes que, com discernimento, saibam lutar e se defender? E é justamente na capacidade da luta que a virtude da fortaleza deve ser exercida, no sustinere, ou seja, na resistência, mesmo que seja longa e trabalhosa.
O contrário da pessoa forte não é o medroso, mas o impotente, que, em sua paralisia para operar, deixa que a violência que o habita escape para fora dele.
Precisamente por falta de fortaleza, ele se tornará um traidor, deixando o trabalho sujo para os outros e, assim, escondendo sua incapacidade também de se opor à pessoa forte. Onde há falta de fortaleza, floresce o silêncio cúmplice, o cuidado é omitido, a justiça não pode ser exercida por causa da arrogância de quem possui poder, o silêncio cúmplice de quem não quer ver supera toda compaixão. Muitos elogios à fragilidade são celebrados hoje em dia, mas a fragilidade é um grito que pede ajuda, cuidado, o interesse de pessoas fortes, não de pessoas cúmplices da astenia generalizada.
Por fim, gostaria de lembrar que a virtude da fortaleza é o fundamento da esperança. Porque aquele que sabe esperar pode fazê-lo mantendo os pés num terreno firme para depois se lançar para a frente, pode esperar com base em coisas certas e nunca sozinho, mas junto com os outros.
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Elogio da virtude chamada fortaleza. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU