19 Abril 2018
"Mas será que o cristão moderno não corre cada vez mais rápido na direção do egocentrismo?", questiona Orlando Polidoro Junior, teólogo, pastoralista e bacharel em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR.
Já em imersão e olhando de frente para a vultuosa e avassaladora onda globalizada do capitalismo neoliberal, que com a mesma força impulsiona mais fortemente a secularização mundial da sociedade, como o “cristão moderno” tem enxergado e tem vivido sua espiritualidade neste mar – atraente, porém turbulento e extremamente perigoso?
Fé, esperança e caridade são três elementos fundamentais para o crente navegar com segurança (cf. Mt 8,23-27) no Reino terreno anunciado por Jesus (cf. Lc 17,20-21). No entanto, está visível que inúmeros cristãos, tanto os mais fiéis à sua crença, como também os conhecidos cristãos por tradição [domingueiros esporádicos], embolados nessa onda, estão se afastando, mas não dos perigos globais, e sim das bênçãos e das graças promovidas pela Santíssima Trindade [paz interior].
Não podemos e nem devemos generalizar, mas está estampado em todas as faces desta sociedade tecnológica e secularizada que, a idolatria ao dinheiro tem afastado inúmeros cristãos do verdadeiro sentido das benevolências ensinadas por Jesus em Seu Evangelho.
Nós, brasileiros, estamos convivendo muito próximos desta realidade sócio-religiosa, claramente visível através das atitudes de alguns políticos em todas as esferas de atuação, visto que a maioria afirma ser cristã. Maravilha, né! Mas então como explicar todas as falcatruas/desvios de dinheiro público que os mesmos estão manipulando há tantos anos. Que tipo de cristão batizado e confirmado é este que perde completamente sua vocação de discípulo? A culpa é da secularização e do capitalismo, ou é a de uma formação cristã má construída?
Seguindo o ditado popular, tudo tem um preço, vale destacar: Jesus não tinha preço, tinha valores, mas jamais os colocou em mesas de negociações. Todos os seus valores Ele depositou na mesa da partilha e no madeiro [Kenosis]. Seguindo este princípio, como o cristão moderno tem dado crédito e têm partilhado estes preciosos valores neste mundo tão high-tech?
Navegamos num sistema capitalista ascendente; poderoso e perigoso, pois provoca e induz a sociedade, principalmente a dos grandes centros, a um ritmo de vida “sobre pressão”, frenético e eufórico. O povo de Deus está mergulhado profundamente num complexo tão desmedido e maluco [...] e como consequência tem se desviado facilmente do Caminho, da Verdade e da Vida (cf. Jo 14,6).
“Quando o capitalismo faz da busca do lucro o seu único propósito, corre o risco de se tornar uma estrutura idolátrica, uma forma de culto. A ‘deusa fortuna’ é cada vez mais a nova divindade de uma certa finança e de todo aquele sistema do jogo que está destruindo milhões de famílias do mundo” (Papa Francisco).
Então fica a pergunta, para aonde caminha a humanidade quando se questiona sobre o plano de Deus, consciente de que é uma comunhão plena de amor; de partilha, de respeito, de dignidade e de paz? Mas não uma paz negociada mediante conflitos, se trata da paz interior do ser humano. Paz divina – capaz de transfigurar o cristão pela via redentora da Santíssima Trindade.
O Amor do Deus de Cristo e do Espírito Santo está presente na história, nunca fácil desde que a conhecemos, contudo, é repleta de misericórdia, não apenas para os que n’Ele creem e confiam, mas para todos os que promovem o bem comum. Onde há ações de caridade/fraternidade, há também, acima de tudo, a presença do amor da Trindade Santa. Aceitemos ou não, independentemente de qualquer tipo de crença, de religião e até de ateísmo ou de paganismo, onde se promove atos de amor ao próximo – lá está o Deus de Jesus, O Cristo – acolhendo, confortando e se manifestando em graças, principalmente no coração dos virtuosos.
As Virtudes Teologais têm sua natureza na fé, na esperança e na caridade. Com isso, estes requisitos não podem ser vistos apenas como uma certa tendência pessoal, conduzidos pelo acaso, devem sim, ser tomados como posse e vividos em sua mais preciosa essência. As virtudes infundidas por Deus no ser humano, se fundam nas Virtudes Teologais, adaptando as faculdades do homem para que possa participar da natureza divina.
A Fé é uma virtude sobrenatural infundida pela vontade de Deus na alma do cristão, para que Ele possa revelar suas grandes obras. A fé não se funda na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus (cf. 1 Cor 2,5). Entretanto, com o “poder” do livre-arbítrio, o cristão moderno tem limitado sua fé, ao ponto de não a vivenciar como fonte de paz espiritual – fonte do bem pessoal e social, pois conduz à experiência pascal, fazendo com que se nasça novamente para as promessas de Jesus no Pai.
A Esperança também é uma virtude sobrenatural que gera mais confiança para seguir a caminhada. Mas de que forma o cristão moderno tem crido e tem depositado sua esperança? Será que na plenitude da riqueza financeira e da saúde perfeita e eterna? Certamente esta inversão de valores cristãos é a causa que tanto tem ofuscado a Verdade.
E a Caridade? O §1829 do nosso Catecismo nos apresenta um iluminado significado: “A caridade tem como frutos a alegria, a paz e a misericórdia; exige a beneficência e a correção fraterna; é benevolência; suscita a reciprocidade; é desinteressada e liberal; é amizade e comunhão: A finalidade de todas as nossas obras é o amor. Este é o fim; é para alcançá-lo que corremos; é para ele que corremos; uma vez chegados, é nele que repousaremos”. Mas será que o cristão moderno não corre cada vez mais rápido na direção do egocentrismo?
Ser deste mundo e dizer que a ele não pertencemos, não confere muito bem com as realidades históricas constantes nas Escrituras Sagradas. Deus se fez homem – e repleto de humildade, fraternidade e misericórdia, nos mostrou claramente como sermos desse mundo. Então fica a reflexão: a realidade do Jesus de Deus condiz com a realidade deste mundo, ou teremos que fundamentar um novo cristianismo para ele?
Por Cristo, com Cristo, e em Cristo.
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Será que as virtudes Teologais estão na alma do cristão moderno? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU