17 Agosto 2023
Não somos livres para condenar gerações ainda não nascidas. Não somos livres para apagar o passado e o futuro da humanidade. Os sistemas sociais passam, apenas a vida pode reivindicar uma continuidade ininterrupta.
O artigo é de John Scales Avery, membro da TRANSCEND Network e professor associado emérito do HC Ørsted Institute, Universidade de Copenhagen, Dinamarca. É presidente do Danish National Pugwash Group e da Danish Peace Academy, publicado por Chiesa di tutti, Chiesa dei poveri, 16-08-2023.
Nos Estados Unidos, o governo Biden adotou uma política de enviar armas avançadas no valor de vários bilhões de dólares para a Ucrânia, na esperança de enfraquecer a Rússia e de uma vitória ucraniana.
Um motivo subjacente pode ser encontrado nos enormes lucros obtidos pela indústria estadunidense das armas. Efetivamente, o complexo militar-industrial (contra o qual o presidente Eisenhower alertou em seu famoso discurso de despedida) tem controle total sobre ambos os partidos políticos. O último orçamento anual para fins militares foi de quase um trilhão de dólares.
A guerra na Ucrânia sempre foi uma guerra por procuração entre a OTAN e a Rússia, embora esteja sendo travada em solo ucraniano e comporte grande sofrimento para o povo ucraniano. A guerra está se tornando cada vez mais um confronto direto entre a Rússia e os Estados Unidos, ambas potências com armas nucleares, e se a existência da Rússia como nação for ameaçada seu governo não hesitará em usar armas nucleares.
Uma guerra nuclear em grande escala com armas termonucleares destruiria a civilização como a conhecemos, junto com grande parte da biosfera.
Esse é o perigo existencial que enfrentamos, e as políticas do presidente americano estão nos levando à beira do precipício.
É chocante pensar que nas próximas eleições presidenciais de 2024, o principal candidato republicano seja Donald Trump, processado por um grande número de crimes graves, enquanto o principal candidato do Partido Democrata é Joe Biden, que, além de seus graves erros políticos, já está demasiado idoso para cumprir mais quatro anos. Infelizmente, o que acontece nos Estados Unidos tem um efeito muito amplo no restante do mundo. Só podemos esperar que outros democratas contestem a candidatura de Biden à indicação presidencial.
Em 1985, a organização Médicos internacionais para a prevenção da guerra nuclear recebeu o Prêmio Nobel da Paz. A IPPNW foi fundada em 1980 por seis médicos, três da União Soviética e três dos Estados Unidos. Hoje, a organização tem uma grande adesão entre os médicos de todo o mundo. O professor Bernard Lowen, da Harvard School of Public Health, um dos fundadores da IPPNW, declarou em uma palestra recente:
“… Nenhum perigo para a saúde pública jamais enfrentado pela humanidade se iguala à ameaça de uma guerra nuclear. Nunca antes de agora o homem possuiu os recursos destrutivos para tornar este planeta inabitável... A medicina moderna não tem nada a oferecer, nem mesmo uma vantagem simbólica, no caso de uma guerra nuclear. ... Somos apenas passageiros transitórios neste planeta Terra. Ela não nos pertence. Não somos livres para condenar gerações ainda não nascidas. Não somos livres para apagar o passado da humanidade ou ofuscar seu futuro. Os sistemas sociais não duram para sempre. Somente a vida pode reivindicar uma continuidade ininterrupta. Essa continuidade é sagrada."
Javier Perez de Cuellar, ex-secretário-geral das Nações Unidas, ressaltou o mesmo ponto em um de seus discursos:
“Sinto”, diz ele, “que a pergunta pode ser posta justamente às principais potências nucleares: com que direito decidem o destino da humanidade? Da Escandinávia à América Latina, da Europa e África ao Extremo Oriente, o destino de cada homem e de cada mulher é marcado por suas ações. Ninguém pode esperar escapar das consequências catastróficas de uma guerra nuclear na frágil estrutura deste planeta. (…)
Nenhum confronto ideológico pode comprometer o futuro da humanidade. O que está em jogo é nada menos que isto: as decisões de hoje não dizem respeito apenas ao presente; também colocam em risco as gerações vindouras. Como árbitros supremos, com nossas controvérsias do momento, ameaçamos cortar o futuro e extinguir a vida de milhões de inocentes que ainda não nasceram. Não pode haver maior arrogância. Ao mesmo tempo, as vidas de todos os que viveram antes de nós podem perder o significado; pois temos o poder de dissolver em um conflito de horas ou minutos toda a obra da civilização, com todo o brilhante patrimônio cultural da humanidade. (…)
Em uma era nuclear, as decisões sobre guerra e paz não podem ser deixadas para os estrategistas militares e nem mesmo aos governos. Na verdade, são responsabilidade de cada homem e mulher. E é, portanto, responsabilidade de todos nós... interromper o círculo vicioso de desconfiança e da insegurança e responder ao anseio de paz da humanidade."
As armas nucleares são criminosas! Toda guerra é um crime!
A guerra sempre foi uma loucura, sempre imoral, sempre causa de sofrimentos indizíveis, desperdício econômico e destruição generalizada, e sempre fonte de pobreza, ódio, barbárie e ciclos infinitos de vingança e retaliações. Sempre foi um crime para os soldados matar pessoas, assim como é para os assassinos na sociedade civil matar pessoas. Nenhuma bandeira jamais foi grande o suficiente para cobrir as atrocidades.
Mas hoje, o desenvolvimento de armas nucleares destrutivas colocou a guerra completamente além dos limites da sanidade mental e da humanidade elementar.
Não podemos nos livrar tanto das armas nucleares como da própria instituição da guerra? Devemos agir com rapidez e decisão antes que tudo o que amamos em nosso maravilhoso mundo seja reduzido a cinzas radioativas.
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A Terra não nos pertence. Por favor não façam a guerra atômica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU