28 Fevereiro 2023
A partir de algumas datas significativas como a coincidência, em 2025, da celebração da Páscoa por católicos e ortodoxos e, sempre em 2025, do 1700º aniversário do Concílio de Niceia, o autor aspira a um encontro providencial entre o Papa Francisco e o patriarca Bartolomeu I em Antioquia, cidade-berço do cristianismo das origens, janela para o Levante. Também poderia significar o renascimento dessa cidade, agora devastada pelo terremoto.
O comentário é de Riccardo Cristiano, vaticanista italiano e fundador da Associação de Amigos do Pe. Paolo Dall’Oglio, publicado por Settimana News, 26-02-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Associei nos meus pensamentos o devastador terremoto da Anatólia à conversa do Papa Francisco com os jesuítas que trabalham no Congo, publicada precisamente naquelas horas. Essa coincidência me fez pensar como seria lindo, importante que o papa fosse à Antioquia em 2025!
Poucos sabem que a Antioquia ainda existe e poucos se lembram de seu significado para os cristãos, exceto aqueles que o estudam. O esquecimento é produto do desaparecimento do cristianismo levantino, ou seja, do Levante de que quase ninguém mais fala, como se o Levante e os seus portos não tenham sido por séculos a alma do Mediterrâneo e do encontro entre os povos e as culturas da bacia.
Devemos nos resignar à divisão tribal e esquecer as origens da história do cristianismo? Como leigo, não acho possível, muito menos desejável. Por isso gostaria muito que o Papa fosse lá, na Antioquia, em 2025. Seria possível? O que aprendi nas horas do terremoto devastador parece dizer sim.
Na conversa que teve no Congo com os jesuítas, Francisco disse, conforme noticiado pontualmente na última edição de La Civiltà Cattolica, que, juntamente com o patriarca ecumênico de Constantinopla, a maior autoridade do mundo ortodoxo, está trabalhando na ideia de encontrar uma data comum para todos os cristãos para a celebração da Páscoa. Assim, depois de cinco séculos, tantos quantos nos separam da introdução do calendário gregoriano que também diferenciou a data da Páscoa, todos os cristãos poderiam encontrar uma data comum para celebrar a morte e a ressurreição de Cristo, na mesma noite santa. Seria um fato de extraordinária importância.
Para conseguir isso, Francisco está pensando em reunir todos os chefes das Igrejas cristãs, ou assim parece. Em 2025 - ocasionalmente, mas de forma muito significativa - a data da Páscoa coincidirá nos calendários juliano e gregoriano. Assim será nos países da Europa oriental e nas Igrejas Ortodoxas, assim como aqui entre nós italianos.
Na conversa a que me refiro, o Papa disse: “Sim, estamos preparando um encontro para 2025. Com o Patriarca Bartolomeu queremos chegar a um acordo para a data da Páscoa, que coincidirá precisamente naquele ano. Vamos ver, se sim, poderemos nos acertar para o futuro. E queremos celebrar esse Concílio como irmãos. Estamos nos preparando".
O novo "concílio" ao qual Francisco aludiu parece capaz de assumir um caráter ecumênico - de estilo sinodal - de tal magnitude que envolve pessoalmente o papa, sua beatitude Bartolomeu I, patriarca de Constantinopla, e os outros chefes das Igrejas Cristãs orientais.
Não sei mais sobre isso, mas parece-me bastante evidente a referência ao primeiro Concílio, aquele de Jerusalém, no qual se encontrou um acordo entre a linha da Igreja de Jerusalém e aquela proposta por São Paulo.
Além disso, o centenário do Concílio de Niceia (325) ocorrerá precisamente em 2025 em que se chegou a um acordo para a fórmula da Profissão de fé dos cristãos. Então – embora não saibamos nada sobre o programa ao qual o papa e Bartolomeu I estão trabalhando – Jerusalém e Niceia podem ser possíveis sedes.
Para um Papa que está fazendo de tudo para dar uma dimensão sinodal à Igreja Católica, essas primeiras referências são evidentemente muito importantes, na perspectiva de uma nova comunhão - a redefinir - entre todos, rumo àquela unidade cristã que respeite as diversas especificidades.
Se levarmos em conta o momento histórico em que nos encontramos, o encontro entre Igrejas espalhadas em países envolvidos em terríveis conflitos adquire uma profundidade política, além de cultural, de grande importância: em um mundo fraturado, o papa volta a se definir como "bispo de Roma" e tornar profundamente humano o modelo cristão, no respeito recíproco das Igrejas e na valorização da diversidade.
Por que, então, não ir também a Antioquia? Em minha simplicidade teológica, também proponho aquela sede a Francisco e Bartolomeu no programa de 2025. É fácil dizer porque Antioquia, novamente.
Antioquia hoje é esquecida antes que destruída pelo terremoto. As origens e a identidade da Igreja Ortodoxa Siríaca, da Igreja Siríaca Jacobita, da Igreja Maronita, da Igreja Católica síria e das Igrejas Malankara, ortodoxa e católica estão enraizadas em Antioquia.
Nos textos católicos - e também outros - leio que Antioquia é o lugar onde, pela primeira vez, os crentes em Jesus Cristo, morto e ressuscitado segundo a fé, foram definidos como "cristãos".
Antioquia é uma das sedes patriarcais da antiga pentarquia, com Jerusalém, Alexandria, Constantinopla e Roma. Mas hoje a antiga cidade foi removida inclusive dos mapas geopolíticos tendo sido encerrada no seu contexto sírio-libanês, na periferia turca. Agora também é destruída pelo terremoto. Os testemunhos dizem-nos que não resta "pedra sobre pedra" desta cidade esquecida da Turquia.
A história dos primeiros séculos conta que um terremoto de igual gravidade a devastou em 115. A presença em Antioquia do imperador romano Trajano e do seu filho Adriano, justamente naquela circunstância – dado que ambos conseguiram salvar-se – facilitou a reconstrução da cidade. Quase todos os preciosos mosaicos são - ou foram – posteriores ao terremoto de 115.
Quem se projeta no futuro sabe o quanto é importante ter um passado e manter uma ligação com ele. Para os cristãos do Oriente árabe, o passado não se chama apenas, naturalmente, Jerusalém, mas também Antioquia. O anúncio de uma visita, daqui a dois anos, do papa e dos chefes das Igrejas cristãs poderá não ter um efeito de reconstrução comparável à presença de Trajano e Adriano, mas para este Mediterrâneo fraturado e seu cristianismo - em dificuldades - poderia significar uma reconstrução ainda mais importante.
Significaria devolver ao que resta do cristianismo - naquelas terras - um futuro, retornando às raízes afundadas no Levante ao longo dos séculos, ou seja, naquele mundo precursor da Europa, que ia da Grécia à Síria e ao Egito. Hoje aquele Levante é identificável sobretudo nas Igrejas de Antioquia, justamente: a sírio-libanesa que se debruça sobre o Iraque e aquelas igrejas cristãs que servem de janelas da casa árabe-islâmica.
Só as janelas cristãs podem permitir aos cidadãos daqueles povos olhar para o mundo plural, como característica histórica e própria do Mediterrâneo, ajudando a Europa a reencontrar a sua alma pluralista.
É importante para mim sustentar que os cristãos são as janelas do mundo árabe-islâmico: é apenas uma imagem, mas com uma importante ancoragem na realidade. As casas árabes tinham janelas nos pátios internos, enquanto os muros eram fechados para o exterior. Foram os missionários cristãos - de Beirute - que introduziram o urbanismo das ruas e, portanto, as janelas voltadas para elas, com a abertura para a sociabilidade e a vida em comum. Assim sendo, alguém, com grande visão, falou das Igrejas do Levante como "Igrejas do Islã", expressão hoje esquecida - se não pior - mas utilizada por alguns patriarcas, inclusive em tempos recentes.
Colocada no esquecimento bem antes do terremoto, Antioquia conserva, mesmo sob os escombros, raízes cristãs vivas não só para os três Estados hoje sem fronteiras certas (Síria, Líbano e Iraque), mas também para a Índia. As Igrejas de Antioquia são, portanto, as Igrejas do Levante: verdadeiro patrimônio mediterrâneo sem o qual uma nova comunhão e uma nova fraternidade mediterrânea será impossível.
Estou convencido disso. Ir para a Antioquia para falar com o Levante – ao falar aos cristãos do Levante – seria uma maneira concreta de reabrir aquele mundo separado, fraturado, separado de seu lugar de origem: Antioquia. A alternativa é o isolamento da cultura árabe-islâmica, precipitada no fechamento sem mais relações: sem judeus, sem cristãos.
Os cristãos orientais - mais do que todos os outros - correm o risco de não ter futuro. Sua extinção constituiria a extinção do cristianismo histórico. Enquanto redescobrir o passado, no momento da sua destruição, poderia ajudar muito a reconstruir a terra como irmãos, no vínculo entre os povos, com casas, igrejas e mesquitas, cheias de portas e janelas.
Vou citar apenas um exemplo da catástrofe: hoje, no Líbano, com um salário médio mensal, compram-se 3 "barris" de gasolina (a unidade de cálculo local, igual a cerca de 20 litros), enquanto com o mesmo salário, em 2018, se compravam cerca de 30, 10 vezes mais.
Em todo o Levante histórico ninguém mais se sente cidadão: em Damasco, Beirute, Latakia ou Aleppo, até Bagdá. Já não se trata mais de cidades, mas de acampamentos que se degradam na posse das tribos, onde os chefes fazem e desfazem, ditam a lei. Restam as ruínas econômicas e espirituais, agora também aquelas dos muros, com o isolamento cultural.
As ruínas de Antioquia, portanto, falam da história e das possibilidades de vida juntos para todos os levantinos, na sua inerente pluralidade. Por tudo isso que tentei expressar, acho que seria muito bom se Francisco e Bartolomeu fossem juntos em 2025, pelo menos para uma escala de algumas horas. Poderiam fazer isso para permitir que os povos do Mediterrâneo reencontrem a si mesmos. Para mim seria uma mensagem decisiva, e certamente elevada!
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2025: Francisco e Bartolomeu juntos em Antioquia? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU