03 Fevereiro 2023
O presidente da Conferência Episcopal Alemã critica o estilo de liderança do Papa Francisco.
A reportagem é publicada por Kirch und Leben, 27-01-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Além disso, Bätzing acredita que o Vaticano não queira enxergar as causas sistêmicas do escândalo dos abusos. Bätzing reage às fortes críticas do Papa e da Cúria ao Caminho Sinodal Alemão dos últimos dias.
O presidente da Conferência Episcopal Alemã (DBK), bispo Georg Bätzing, critica o estilo de liderança do Papa Francisco: “Considero muito questionável essa maneira de considerar a liderança da Igreja por meio de entrevistas”, disse o bispo de Limburg ao “Die Welt” na sexta-feira.
Ele também expressou frustração com a atitude do Vaticano em relação ao escândalo dos abusos.
“Tanto o recente documento do Vaticano quanto nossas conversas em Roma fazem supor que simplesmente não se queiram enxergar as causas sistêmicas, o background e os fatores desse escândalo".
O Papa Francisco havia criticado o debate católico sobre as reformas na Alemanha. O caminho sinodal, segundo ele, “não seria um verdadeiro sínodo. Em comum com o percurso sinodal, tem apenas o nome, não é um percurso do qual o povo de Deus participa em sua totalidade, mas apenas um percurso que é organizado por uma elite”, disse o Papa Francisco em entrevista ao Nachrichtenagentur AP (quarta-feira). Para o Sínodo mundial convocado pelo Papa, a experiência alemã não ajuda em nada.
Bätzing criticou como incompreensível o fato de Francisco ter citado a disputa sobre o celibato, ou seja, a obrigatoriedade de celibato para os padres, como exemplo de suposta ideologia alemã. “Se o celibato deve permanecer obrigatório é uma questão que vem sendo debatida há 60 anos. E que o próprio papa aceitou no Sínodo sobre a Amazônia”, disse o bispo de Limburg. “Defini-lo agora de um debate ideológico em que o Espírito Santo sai apressadamente da sala… o que significa?”.
Ao mesmo tempo, o presidente da Conferência Episcopal lastima que "não existe nenhum canal de diálogo direto” entre ele e o papa. “Esse é o ponto: tínhamos um canal de diálogo, a visita oficial dos bispos em novembro em Roma. Ficamos lá por uma semana. Com Francisco ficamos juntos por apenas duas horas e meia. Eu diria que aquele é o lugar em que papa deveria falar conosco. Então teríamos podido responder."
No entanto, o bispo de Limburg não avalia as palavras do papa como um sinal de parada para o processo de reforma alemão. Que o Papa olhe criticamente para o Caminho Sinodal Alemão, ele sempre o disse, enfatiza Bätzing. Mas Francisco em sua carta “ao povo de Deus em caminha na Alemanha" de 2019 havia dito claramente e reiterado várias vezes também a ele pessoalmente: “Vocês têm que seguir seu próprio caminho, vocês têm uma tarefa a fazer, que é tirar as consequências do escândalo dos abusos sexuais.
O presidente da Conferência Episcopal admitiu que Roma e a Igreja alemã têm "ideias fundamentalmente diferentes sobre a sinodalidade": "O Papa a entende como uma ampla coleta de impulsos vindo de todos os cantos da Igreja, depois os bispos deliberam mais concretamente a respeito, e no final, tem um homem no vértice que toma a decisão. Eu não acredito que esse seja o tipo de sinodalidade sustentável no século XXI”.
A Igreja na Alemanha, por outro lado, está procurando uma possibilidade de deliberação real e decisão comum sem ultrapassar as normas canônicas relativas à autoridade do bispo.
O bispo de Limburg mostrou-se convencido de que não haverá nenhuma ruptura.
“Simplesmente porque ninguém a quer. Temos que conversar juntos, encontrar compromissos entre nós". Francisco também disse na entrevista: “As tensões devem ser sanadas, devemos levar os nossos argumentos ao Sínodo Mundial do Vaticano atualmente em andamento. Mas este é justamente o nosso tom, é exatamente o que queremos também!”.
O presidente da Conferência também criticou os cinco bispos alemães que se dirigiram ao Vaticano por causa do previsto Concílio Sinodal. “Não me parece nem bom nem inteligente comunicar dessa forma”, disse. Os bispos (ou arcebispos) de Colônia, Augsburg, Passau, Regensburg e Eichstätt enviaram um pedido de participação no Comitê sinodal preparatório em dezembro. E o fizeram, disse Bätzing, "sem informar a nós, outros bispos". O conteúdo da carta de 21 de dezembro não seria conhecido até o momento.
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Bätzing, presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, critica o papa: liderar a Igreja por meio de entrevistas é muito questionável - Instituto Humanitas Unisinos - IHU