23 Novembro 2022
Há cerca de dois anos, a Conferência Episcopal Alemã vem realizando uma reorganização radical dos seminários para a formação sacerdotal, devido ao pequeno número de candidatos ao ministério ordenado. A ideia original era agrupar a fase de formação em três sedes centrais, mas nem todas as 27 dioceses do país concordaram.
Atualmente fala-se em doze sedes e, na discussão, também entrou o problema do papel da mulher na formação. O coordenador deste laborioso processo de reorganização é o jovem bispo Michael Gerber (nascido em 1970), recentemente nomeado bispo de Fulda, depois de ter sido auxiliar durante alguns anos na diocese de Freiburg.
Dentro da Conferência Episcopal é membro da Comissão para as vocações e para os jovens. O portal Katholisch.de o entrevistou e publicou suas respostas no dia 8 de novembro – que reproduzimos aqui – sobre a fase atual do processo de renovação dos seminários e sobre os futuros desdobramentos (A. Dall'Osto).
A entrevista com Michael Gerber, bispo de Fulda, é de Roland Müller, publicada por Katholisch.de e reproduzida por Settimana News, 22-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
D. Gerber, o senhor é o presidente da Comissão para as vocações sacerdotais e os serviços pastorais da DBK (Conferência Episcopal Alemã). No contexto desta função, coordena o processo de reorganização da formação sacerdotal na Alemanha. Há dois anos, foi publicado o projeto de agrupar os estudos teológicos em três centros. Agora, porém, fala-se de cerca de dez sedes centrais. Esse é o número final?
Afinal, trata-se de uma jornada, e certamente continuará a ser assim nos próximos anos. Há muitas coisas sob escrutínio em nossa Igreja neste momento. Atualmente, nas sedes de Munique, Sankt Georgen (Frankfurt am Main) e Erfurt - ainda que em menor escala - está sendo preparada ou iniciada a cooperação entre as dioceses para a formação sacerdotal. Mas também continuam a existir outras sedes para estudos de teologia.
Na nova edição que acaba de ser publicada do Regulamento de Base para a formação sacerdotal, entre outras coisas, também são delineadas as coordenadas essenciais da cooperação de várias dioceses em uma sede comum de formação. Até agora, tratou-se mais de acordos bilaterais entre uma diocese com um seminário de acolhida e a diocese de envio. Queremos agora examinar mais de perto a relação entre a diocese de origem de um seminarista e como deveria ser a sede central.
O que isso significa concretamente?
Conheço essa temática desde os tempos em que era reitor (Regens) do seminário de Freiburg, no qual partilhávamos a fase preparatória com outras dioceses. Agora queremos determinar juntos quem tem essas obrigações: qual é a tarefa da liderança local no seminário regional?
E qual é a tarefa do reitor encarregado dos seminaristas de suas respectivas dioceses de origem por seu próprio bispo? Isso precisa ser bem esclarecido.
O decano da Faculdade Teológica Católica de Bonn, Jochen Satermeister, falando recentemente da prevista centralização da formação sacerdotal, disse que o estado atual da questão não estava totalmente claro para ele. É necessário explicar melhor a evolução do processo de reestruturação?
Fundamentalmente, temos que considerar as consultas como um percurso. Comunicamos nossos resultados anteriores à conferência episcopal. Agora o problema é ver que ressonância encontram nas diferentes dioceses. No geral, houve muitas respostas, mas isso não significa que todas as 27 dioceses apoiem totalmente essa orientação. Nas sedes citadas acima, há uma certa orientação positiva.
Nas fases mais recentes do percurso, colocou-se uma questão que considero muito importante. O candidato e seus formadores devem se perguntar qual lugar e qual ambiente podem oferecer os melhores pressupostos para a formação humana, espiritual e científica.
As colaborações mencionadas em relação a uma sede regional não têm, portanto, um significado absoluto a ponto de poder dizer "aqui a diocese X envia todos os seus candidatos". A razão principal deve considerar o efetivo crescimento dos candidatos.
Há alguns anos, foi anunciada uma redução drástica para apenas três sedes de formação sacerdotal na Alemanha. Alguns meses atrás, houve um repensamento. Consegue entender as razões do descontentamento que surgiu pelo pequeno número de apenas três centros de formação seminarística?
Para mim é muito importante que nós - de acordo com Inácio de Loyola - distingamos muito bem fins e meios para refletir sobre nossos problemas. O objetivo é ter pessoas bem formadas, não só para o sacerdócio, mas também para os outros serviços pastorais.
É muito importante, a meu ver, sublinhar isso, de modo que esta ligação entre formação e tarefas pastorais já seja considerada agora de fundamental importância. Para atingir esse objetivo é necessário entender quais são os meios mais adequados para a formação e, ao mesmo tempo, em que sedes isso pode acontecer. Ao lado disso, é preciso considerar o que uma diocese oferece em termos de estudo.
Um significado particular tem o estudo da teologia. Acredito que seja importante para nós continuarmos a ter sedes para o estudo da teologia nas universidades estatais. Essa oportunidade está ligada à formação sacerdotal, mas possui um valor específico. É preciso entender por que a reflexão teológica de nível acadêmico é importante em nossa sociedade.
No que diz respeito à formação, é igualmente importante para mim afirmar que a teologia tem uma força formadora: é muito mais do que transmitir conteúdos teológicos, porque o estudo da teologia contém uma ampla dimensão formativa. Por exemplo, o discurso sobre a “crítica da hermenêutica” pode ajudar a refletir criticamente sobre como eu percebo a realidade, a realidade que me rodeia e a realidade que eu mesmo sou. Isso é de grande importância, pois um dos principais motivos dos abusos está na falta de percepção da realidade.
Em algumas dioceses houve grande descontentamento com as propostas, pois temia-se que, no futuro, não haveria mais um seminário propriamente dito.
Eu também sou bispo de uma diocese que renunciou ao seu seminário e mestrado em sua faculdade. Existe um círculo de pessoas que estão intimamente ligadas à faculdade e para elas esta é uma transição muito dolorosa. Eu entendo isso muito bem. Os responsáveis da diocese e dos comitês estão plenamente cientes disso.
O senhor acredita que a criação da Universidade de Colônia para a Teologia Católica (KHKT) pelo card. Woelki esteja ligada à discussão sobre as sedes dos estudos teológicos que se arrasta há algum tempo?
Isso deve ser perguntado aos responsáveis em Colônia. Interessa-me que nós, além das faculdades das universidades estatais, mantenhamos na Igreja sedes próprias de estudo, como acontece em Sankt Georgen. Acredito que a formação nessas sedes seja orientada para o futuro, porque em Sankt Georgen várias dioceses colaboram e a experiência da ordem jesuíta também deixa sua marca.
Além disso, a universidade está bem conectada com muitas outras instituições acadêmicas ao redor do mundo e também com a Universidade Goethe de Frankfurt am Main, onde a teologia também é ensinada. Uma sede eclesiástica deve, portanto, ser mantida se atender a esses requisitos e olhar para o futuro.
Como os seminaristas que estudaram anteriormente em sua própria diocese conseguem se identificar com ela sem perder o contato?
Esse é efetivamente um problema também em nossa diocese de Fulda, onde essa nova situação surgiu recentemente. A tal respeito, a ligação dos vários cursos de formação é de grande importância. A intenção é desenvolver um senso de pertença entre os estudantes da diocese em relação aos serviços pastorais.
Há alguns meses, fiz uma caminhada de dois dias no Rhön (área montanhosa cerca de trinta quilômetros a nordeste de Fulda) com estudantes de todos os grupos vocacionais da diocese. A comunicação que tivemos entre nós foi muito significativa. Como diocese, somos estimulados a olhar para nosso enraizamento específico de uma maneira nova e criativa.
A sociedade hoje é caracterizada pela mobilidade, por isso as pessoas que irão trabalhar em uma diocese precisam ter um amplo horizonte de experiência também em relação ao local de estudo e trabalho.
No próximo ano será publicado o novo Regulamento para a formação sacerdotal. Que resultados do Fórum Sacerdotal do Caminho Sinodal serão incluídos nele?
Nos últimos dois anos, houve uma estreita comunicação entre os fóruns do Caminho Sinodal que tratam da formação sacerdotal e o grupo de trabalho da Conferência Episcopal, responsável pelo texto da Ratio Nationalis, quadro de referência para a formação sacerdotal. Exemplo disso é o texto As mulheres na Igreja e na teologia do Caminho Sinodal. Esse texto pede que as mulheres desempenhem um papel importante na formação sacerdotal no futuro.
No texto original, propus uma passagem que foi aceita na assembleia sinodal: que haja uma maior conexão entre os formadores dos diversos cursos. Há duas atenções que precisam ser atendidas: por um lado, a mulher deve desempenhar um papel relevante, aliás decisivo, na formação sacerdotal; por outro lado, deve ser criada uma conexão próxima.
O reitor do seminário e os outros responsáveis pela formação deverão, no futuro, ter uma responsabilidade compartilhada pelas fases essenciais da formação. Eu incluí essa preocupação na emenda do Fórum das Mulheres e foi incorporada ao texto. Esse é apenas um exemplo de como a Ratio Nationalis e os textos do Caminho Sinodal interagem entre si. Em suma, esta é uma experiência de sinodalidade também para mim: um lado não espera simplesmente que o outro publique algo, mas há uma troca contínua.
A designação de “Regens” (reitor) seria concebível para a formadora responsável?
Existe uma disposição no direito canônico de que o responsável pela formação sacerdotal deve ser um sacerdote como reitor; isso não significa que as mulheres também não possam ser responsáveis.
Em Freiburg, como reitor, aprendi que a educação religiosa está firmemente nas mãos das mulheres e que sua opinião sobre a idoneidade dos seminaristas deve ser levada em consideração. É possível progredir nessa direção.
A responsabilidade da mulher na formação sacerdotal deve dizer respeito não só a um setor específico, mas a toda a dinâmica formativa. Nesse sentido, não devemos nos deter nos títulos, mas olhar para os passos que concretamente podemos realizar.
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Alemanha: a reorganização dos seminários. Uma avaliação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU