Como alimentar a todos. Artigo de Carlo Petrini

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16 Novembro 2022

"O caminho para alimentar oito bilhões de pessoas é tão claro quanto revolucionário: parar de perseguir a produtividade e começar a defender a produção de alimentos. O alimento deve ser um direito, não um bem a ser negociado na bolsa, não uma commodity graças à qual se pode enriquecer à custa de alguém, da saúde do planeta e do próprio futuro da humanidade", escreve Carlo Petrini, fundador do Slow Food, ativista e gastrônomo, sociólogo e autor do livro Terrafutura (Giunti e Slow Food Editore), no qual relata suas conversas com o Papa Francisco sobre ecologia integral e o destino do planeta, em artigo publicado por La Repubblica, 15-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Há onze anos o mundo cruzava a linha dos sete bilhões de habitantes, hoje chegamos a oito.

E assim, mais cedo ou mais tarde, as discussões voltarão à suposta necessidade de aumentar a produção de alimentos para alimentar toda a população da Terra. Na verdade, não faltam alimentos: já hoje, quase um terço do que é produzido globalmente vai para o lixo, jogado fora sem ser consumido: do campo à cesta de lixo, poderíamos dizer. Às vezes descartado simplesmente porque é produzido em excesso em relação ao que é necessário; outras vezes porque mal conservado ao longo das infindáveis rotas que percorre de uma parte a outra do mundo; muitas vezes desperdiçado por nós, consumidores de países ricos, que não damos valor ao alimento.

Hoje é produzido para 12 bilhões de pessoas. Há alimento, mas 800 milhões de pessoas passam fome todos os anos.

Segundo a FAO, em 2030 a porcentagem de pessoas que sofrerão com isso será a mesma de 2015: 8%.

Significa que, apesar dos discursos, das tantas palavras ditas e das promessas, nada terá mudado em quinze anos. Outro dado que nos deveria fazer refletir: 13% dos adultos que vivem no mundo são obesos. De um lado há os que morrem de fome, do outro os que convivem com doenças devido à alimentação excessiva e à má alimentação. A dolorosa constatação é que sofremos de mal nutrição não por falta de alimentos, mas por pobreza.

Acredito que o fracasso das atuais políticas alimentares está à vista de todos: o alimento hoje não é para todos; não é limpo, considerando que um terço das emissões de gases de efeito estufa estão ligados à cadeia alimentar; e muitas vezes nem é particularmente bom.

Mas estou convencido de que oito bilhões de pessoas podem viver e comer de forma sustentável.

Digo sustentável, no sentido mais autêntico desse adjetivo: ou seja, utilizando os recursos para que eles continuem disponíveis no futuro. Alimentar-se de forma sustentável (melhor de forma duradoura) significa, portanto, garantir que aquilo que hoje nós desfrutamos possa continuar a ser desfrutado pelos nossos filhos, a começar pelo solo que está na origem de todos os alimentos que comemos. Para ser sustentável, por exemplo, a agricultura deve abandonar os agrotóxicos: venenos que matam a fertilidade do solo, além de fazer mal à saúde.

Existem muitas realidades virtuosas no mundo: pensem que mais da metade da população é alimentada por 500 milhões de pequenos produtores, empresas familiares ou pequenas cooperativas. Um tecido extremamente precioso, a salvaguardar e proteger, a defender e promover, a sustentar, mas que, pelo contrário, se encontra cada vez mais sufocado num sistema que privilegia as multinacionais, a agroindústria, os grandes nomes da química aplicada à alimentação, os que detêm as patentes e as sementes híbridas, os mesmos que arrecadam grande parte dos fundos alocados em nível internacional.

O caminho para alimentar oito bilhões de pessoas é tão claro quanto revolucionário: parar de perseguir a produtividade e começar a defender a produção de alimentos. O alimento deve ser um direito, não um bem a ser negociado na bolsa, não uma commodity graças à qual se pode enriquecer à custa de alguém, da saúde do planeta e do próprio futuro da humanidade. 

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