Massimo Folador é especialista em formação e consultoria para empresas. É autor dos livros L’organizzazione perfetta (A organização perfeita, 2006) e Verso un’economia integrale (Rumo a uma economia integral, 2020), respectivamente o primeiro e o último de uma série dedicada à eticidade dos negócios. Ambos os volumes são publicados pela Guerini.
A entrevista é de Giordano Cavallari, publicada por Settimana News, 20-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Caro Massimo, deseja introduzir os argumentos de seus livros com uma breve nota autobiográfica?
Com prazer. Sempre tentei viver minha vida profissional de uma forma intelectualmente honesta. Trabalhei muitos anos em marketing comercial, área em que o resultado econômico reinava soberano segundo os cânones. Trinta anos atrás, especialmente em Milão, dirigir uma empresa significava principalmente fazer isso da forma que também me ensinaram, ou seja, para o lucro máximo.
Com o tempo, porém, percebi que isso não estava produzindo resultados. Então, como um dom, aconteceu meu encontro com o monaquismo beneditino: abriu-me um mundo que me levou a pesquisar, tanto no meu íntimo quanto profissionalmente. Provavelmente eu estava à procura de chaves de leitura e de verdades.
Portanto, embarquei numa caminhada de fé ao lado dos monges beneditinos e, paralelamente, comecei a estudar seu modelo de empresa, em seu significado etimológico. Na verdade, empresa significa alcançar algo importante com amplas margens de risco. Estudei abadias, mosteiros e, depois, hospitais e as mil coisas que os monges fizeram. Achei que os monges haviam realizado verdadeiras empresas. Compreendi que naquele mundo poderia encontrar as chaves de leitura que eu estava procurando. Isso me levou a revisar minhas ideias sobre os modelos econômicos e a escrever meu primeiro livro, A Organização Perfeita.
Como é possível aproximar os mosteiros com as empresas contemporâneas?
Pode parecer impróprio usar o termo empresa aplicado à abadia. Mas devemos tirar do termo empresa a pátina economista que foi sobreposta a ele. A empresa é a vontade de empreender, perseguir e alcançar determinados objetivos positivos. O próprio termo "profitto" (lucro) expressa a vontade de "fazer algo para".
Os monges, portanto, faziam uma empresa no sentido de serem capazes de gerar um bem comum. O seu objetivo não era apenas fornecer obras e riquezas, mas produzir aquele bem comum que a Regra de Bento colocou no centro da vida: o verdadeiro bem é a fraternidade, o bem está em uma boa comunidade. Para realizar aquele bem, São Bento, na Regra, mais vezes nos faz compreender que existem muitas relações humanas a serem cuidadas: aquela fundamental conosco, aquela com os outros e, claro, com Deus. Todas essas relações fornecem o substrato sobre o qual a comunidade que produz o bem comum é construída.
Nos mosteiros, portanto, acontecia que o trabalho dos indivíduos colaborava para realizar um bem compartilhado entre todos. Obviamente, isso nem sempre aconteceu de maneira perfeita, nem mesmo nos mosteiros. Continua sendo uma história humana. Mas o feito histórico realizado pelos monges é verdadeiramente grandioso. Enquanto isso - nos últimos dois séculos mais ou menos - foi dito e ensinado que a empresa tinha como único objetivo a maximização do lucro. Consequentemente, entendeu-se que o bem comum coincidisse com o lucro das próprias empresas e o crescimento ilimitado do PIB: dentro de tudo isso amadureceu uma infinidade de problemas e de desigualdades, agora claramente visíveis e não mais sustentáveis. De um lado, o meio ambiente foi saqueado, do outro, a relação comunitária foi rompida.
Em meu último livro - Rumo a uma economia integral - uso deliberadamente o exemplo estadunidense, porque os EUA representam o modelo da economia clássica. Por modelo, queremos dizer algo pelo qual se orientar. Mas, já há algum tempo, o modelo estadunidense certamente não é mais o modelo ao qual se orientar.
Relato no livro dados impressionantes recentes, tanto ambientais quanto sociais: os dados estadunidenses descrevem, por exemplo, aumentos nas taxas de suicídio e diminuições na longevidade; 90% dos estadunidenses afirmam estar em pior condição do que há 25 anos; há um incremento marcante de doenças mentais, na obesidade e nas doenças cardiovasculares. Com isso quero mostrar que um determinado modelo de empresa que maximiza um dos valores em jogo, a saber, o lucro, elimina todos os outros, rompendo os verdadeiros valores da economia.
Os monges evitaram tal desastre. Há um trecho da Regra em que Bento adverte dizendo (cito de memória): “fazendo atividades econômicas, vocês ganharão renda, mas cuidado para que seja proporcional”. O significado é claro: "não guardem para si a riqueza, mas distribuam-na", como é próprio de uma boa empresa.
As figuras do abade e as do empresário são, portanto, na sua opinião, comparáveis?
Com meus colaboradores, trato de formação, o que significa que trato de tudo que está antes de uma eventual ação da empresa, na tentativa de dar forma prévia à ação. Tenho muito claro para mim que a verdadeira mudança, a verdadeira melhoria da empresa passa pelo dia a dia. Ao formar as pessoas, eu indico o que precisa ser feito, mas depois a mudança acontece (se acontecer) na vida cotidiana.
Quando uma transformação positiva acontece? Bento tinha ideias muito claras sobre isso: quando à frente de um mosteiro – hoje, uma empresa - há pessoas que se colocam a serviço do bem comum. A mudança positiva, de fato, vem da profundidade das pessoas, de cada pessoa e do seu conjunto, portanto, da comunidade que compõe a empresa.
A característica marcante do abade, assim como de quem dirige uma empresa, é, portanto, o cuidado com a comunidade. A figura deve ter uma personalidade poliédrica. Ele deve cuidar de todas as relações: com cada pessoa e com a comunidade como um todo, assim como com o que está sempre além. É um pai dotado de espiritualidade capaz de mergulhar na concretude das relações cotidianas. Há capítulos da Regra que impressionam por esse ponto de vista: Bento entrou no cerne das relações pessoais, porque isso é próprio do carisma do abade e - acrescento eu - do bom empresário.
Vou dar exemplos. Bento recomenda que o abade seja o guia de almas humanas antes que especialista em vários saberes e habilidades. O abade deve sentir-se responsável por essas pessoas, porque deve prestar contas por isso à comunidade e a Deus. Noutra passagem recomenda a moderação “para que os monges fortes tenham o que desejar e os fracos não se desestimulem” perante o empreendimento comum. Noutra, pede que sejam respeitados os processos decisórios: “quando há algo importante para decidir, convoque toda a assembleia; fale sabiamente sobre do que se trata, ouça a todos e no seu coração decida o que é melhor, mas antes de decidir, ouça também o último chegado, o mais jovem”. É particularmente importante para mim citar essa última recomendação: "Eu lhe dei regras, mas lembre-se de ser mais amado do que temido".
Poderia parecer nesse ponto que a abordagem de Bento é para pessoas que são boas demais, fora do tempo, hoje. Não é de forma alguma uma abordagem indulgente, a ponto de, em uma passagem - onde fala dos excomungados - dizer, mais ou menos: “se há alguém que é contra o que a comunidade faz e seus valores, eu recomendo, aja, pratique ações severas e reze; se necessário, use o ferro de corte para que a ovelha infectada não espalhe a doença para todo o rebanho”. O bem comum, portanto, pressupõe uma comunidade coesa. O abade é a pessoa que deve salvaguardar a bondade da comunidade, a ponto de ter de afastar uma pessoa, mas certamente não causar dano a essa pessoa (que talvez encontre o seu bem em outro lugar, fora do mosteiro).
O que você entende por sustentabilidade da empresa?
A sustentabilidade está cada vez mais alicerçada no bom relacionamento com o meio ambiente e com a comunidade em geral, dentro e fora da empresa, que é formada por colaboradores, clientes e fornecedores. O que se pensava em um horizonte estritamente cristão-católico está se tornando hoje uma forma indispensável de empresa, simplesmente para poder existir.
O empresário do passado, talvez bom a seu modo, mas que não se preocupa com o bem-estar dos seus trabalhadores, porque é incapaz de criar comunidades e bem comum, não tem futuro.
Isso também diz respeito a fornecedores e clientes: o bem comum é gerado entre a empresa, os seus fornecedores e os seus clientes e baseia-se cada vez mais em sentimentos de confiança e estima.
A relação da empresa com o meio ambiente é semelhante. Onde a relação com o meio ambiente é profundamente prejudicada, o valor da própria empresa é profundamente prejudicado: na coletividade não haverá mais confiança, não haverá mais estima. Temos exemplos marcantes na Itália. A ação nociva sobre o meio ambiente - agora é evidente - retorna à empresa com uma negatividade duplicada, triplicada, cem vezes maior. As empresas são obrigadas a mudar e estou cada vez mais atento a esses aspectos. Nenhuma empresa pode se conceber como algo completo em si mesma, como era antes.
Existem muitas empresas italianas em rápida transformação. E existem empresários inovadores porque carregam instintivamente dentro de si os valores de comunidade e de fraternidade típicos da tradição e cultura católica italiana que eu simplesmente evoco.
O que você fala também funciona na grande empresa de dimensões multinacionais?
Certamente nas minhas reflexões o tema das dimensões da empresa está presente. Na verdade, acho que o monaquismo italiano conheceu seu desenvolvimento típico nas dimensões menores. As pequenas comunidades - lideradas por abades à altura - puderam implementar os valores da Regra mais rapidamente do que outras. Até mesmo as experiências dos grandes mosteiros alemães, suíços e franceses, como Cluny, testemunham a capacidade - com uma boa organização - de realizar os mesmos grandes valores. É claro que as dificuldades organizacionais aumentam com o tamanho.
Transpondo o discurso para as empresas, posso dizer que na Itália temos uma longa tradição de matriz familiar, ou seja, formada por pequenas empresas: na minha opinião, essa tradição não está de forma alguma obsoleta. Os EUA também estão decidindo estudar nosso modelo, depois de tê-lo esnobado por muito tempo. Existem importantes pesquisas em andamento sobre o sistema dos distritos e das empresas familiares. Estamos finalmente percebendo que se trata de um sistema que facilita a sustentabilidade, pois a gestão familiar geralmente cuida mais do seu patrimônio e do contexto em que a empresa está inserida, pois considera seus colaboradores o recurso mais precioso, porque tradicionalmente se preocupa com as famílias e os filhos dos trabalhadores e sua educação, porque se sente parte de uma comunidade local mais ampla da qual recebe e a que aporta benefícios.
A minha, obviamente, não é uma afirmação a priori: existem pequenas empresas liderados por pessoas não qualificadas, assim como existem empresas de enormes dimensões, mesmo na Itália, liderados por pessoas capazes e em condições de indicar modelos inovadores para todo o mundo. Por outro lado, existem empresas multinacionais que, embora tenham gestores preparados, não conseguem desenvolver uma mudança positiva, por exemplo, porque suas propriedades são impessoais. Portanto, defendo que a estrutura italiana da empresa tende a facilitar a transformação, enquanto a estrutura das grandes multinacionais complica muito as coisas.
Nos meus livros escrevi sobre 48 empresas italianas que conheço pessoalmente pela seriedade e capacidade de inovação: entre estas apenas uma é multinacional; não conheci outras que eu possa indicar. Identifiquei aquela multinacional e não outras porque à frente estava uma pessoa de grande valor, digamos uma espécie de abade para os nossos tempos.
A que ponto está, então, a transformação das empresas rumo à sustentabilidade?
Com a Pontifícia Universidade Antoniana Franciscana, estou realizando um estudo sobre a realidade de Taranto. Percebemos facilmente que em Taranto aconteceu, no mínimo pelas dimensões dos problemas, o que nunca gostaríamos que acontecesse: o critério de maximização do lucro, continuado por décadas, levou a uma situação ambiental trágica que só a magistratura foi capaz de conter. Os lucros estão congelados e a situação ocupacional e social é igualmente terrível. É um exemplo.
Em minha opinião, ainda não sabemos quantas empresas continuam fazendo o que foi feito em Taranto. Mas isso é o suficiente para dizer que o equilíbrio foi quebrado e por isso não é possível continuar. O Papa Francisco está dando um impulso impressionante a essa mudança: a Laudato si' está se tornando, depois de 5 anos, o texto de economia mais lido no mundo.
Só agora estamos percebendo que a economia - como justamente afirma Francisco - é uma casa comum. A empresa não pode ser propriedade apenas do proprietário: a empresa pertence à comunidade, que se encontra num município, numa província e em um país, no nosso caso, a Itália. A empresa é de uma ampla comunidade que vive em um ambiente.
A definição “economia integral” expressa, portanto, a necessidade urgente das empresas de melhorar e desenvolver relações corretas com o meio ambiente e com a comunidade. Na minha opinião, essa consciência está crescendo, embora enfrentemos enormes atrasos. Se os primeiros sinais de urgência vieram sem dúvida do meio ambiente, agora vêm os sinais cada vez mais alarmantes do setor social: a redução da longevidade e a realidade dos jovens que não trabalham e não estudam são sinais muito preocupantes. São muitas as pessoas como eu que escrevem, realizam conferências e encontros por todo o lado, a dizer: “caros amigos, não é verdade que confundimos vaga-lumes com lanternas?”. O tema de nossos discursos não pode mais ser a maximização do lucro que elimina os outros valores!
E o que você pode dizer sobre as relações humanas na empresa?
Por que a longevidade está diminuindo? Porque a qualidade de vida está piorando. Um tipo de economia específico e um tipo de trabalho específico afetam a qualidade de vida. Em outros países, isso agora é claramente perceptível. Na Itália estamos em um equilíbrio precário. Quando a qualidade de vida das pessoas é prejudicada, alguém começa a se questionar e a protestar com razão.
Eu penso nos jovens. Hoje, os jovens exigem - mais do que nós que já temos uma certa idade - qualidade de vida e de trabalho. Se a qualidade não for levada em consideração, os jovens podem deixar a empresa na hora, também porque sabem que ainda podem contar com o apoio da família.
Depois tem o tema do cliente: o cliente também pede à empresa uma relação de melhor qualidade: cada vez mais compra apenas o que considera sustentável em relação ao ambiente e à comunidade onde vive. As relações humanas dentro e fora da empresa permanecem juntas. Portanto, não só está aumentando um tipo de consciência ética, mas está aumentando a consciência da necessidade econômica da transformação das empresas. Parece-me que a crise provocada pelo vírus está acelerando os processos, e é bom que isso aconteça.
Por fim, para responder à sua pergunta, considero uma pesquisa realizada pela Universidade Católica há dois ou três anos: dizia que cerca de 20% das empresas italianas de médias dimensões se agrupam em torno do modelo de valor. Talvez seja um dado excessivo em relação à realidade, mas certamente é representativo de uma sensibilidade crescente, assentada no terreno de uma cultura de valores que a Itália continua a cultivar, apesar de tudo.
Quais são os fatores econômicos que empurram na direção da transformação?
A empresa tem duas alavancas fundamentais à sua disposição: a alavanca de receita e a dos custos. Uma relação melhor com os colaboradores, fornecedores e clientes incide sobre a alavancagem das receitas, da qual é um componente significativo. Mas certamente o lucro também é obtido agindo sobre a alavanca dos custos, comprimindo-os. A esse respeito, cito um importante empresário, um amigo, certa vez me disse: “Massimo, este ano fechei com um lucro muito alto, significa que distribuí mal o meu valor. Significa que não incentivei os meus colaboradores o máximo que podia, não trabalhei para baixar o preço do produto para os meus clientes, não fiz contratos adequados com os meus fornecedores, ou seja, guardei muito para mim".
Aqui está, esse é evidentemente um excelente empresário, pois não acredita na lógica da maximização do lucro, para o bem da sua própria empresa. O conceito de sustentabilidade atua no equilíbrio ético das duas alavancas.
Outro aspecto é aquele dos investimentos e dos financiamentos. Já existem fundos que não financiam mais empresas que produzem produtos considerados não éticos: o Banco Etico, mas não só.
Há também a questão do tipo de produto: cada produto é diferente do outro em qualidade e precisamente no tipo. Evidentemente, produzir armas é muito diferente de produzir alimentos. Nesse ponto, o aspecto ético fica ainda mais complexo e, para mim, interessante. Certamente pergunto aos empresários: “O que você produz? Como você o produz isso? Se você não produzisse, outros o fariam e como?”. Convido a refletir. Hoje, quem fabrica determinado tipo de produto é prejudicado - por exemplo, por formas de investimento - quando, justamente, não é reconhecida a eticidade e, portanto, a sustentabilidade da empresa.
Empresas privadas, de terceiro setor e empresas públicas: quais são as diferenças?
É claro que a empresa pública é caracterizada por dinâmicas adicionais em relação à privada. Eu próprio fiz parte do conselho de administração de uma empresa pública e sei o que significa: metade do tempo é gasto na elaboração de documentos que têm mais a ver com a jurisprudência do que com o conteúdo do trabalho, mas entendo que isso seja necessário em relação aos cidadãos e as despesas públicas.
Dito isso, existem empresas públicas que são joias, porque por dentro há pessoas que agem como se as coisas da empresa fossem suas. As pessoas não são privadas ou públicas: é o seu valor que faz a diferença. A competência humana e profissional no setor público é ainda mais valiosa do que nas empresas privadas ou do terceiro setor. O bem comum é antes de tudo público e depois privado. Há muito que melhorar, mas também vejo sinais positivos na esfera pública.
Você fala aos empresários sobre os beneditinos (e o evangelho) apertis verbis?
Meu discurso formativo começa necessariamente com o marketing e com a empresa, não com o evangelho. A esse respeito, lembro-me de um abade que estava comigo um dia antes de iniciar uma apresentação e que me disse: “Massimo, obrigado pelo que você está fazendo. Gostei muito do seu livro e as coisas que você diz, mas você nunca cita Jesus Cristo… em nenhuma página”. Respondi-lhe: “Padre, certamente o senhor tem razão, obrigado por me ter assinalado isso: simplesmente não me dei conta”. Depois de fazer a apresentação a um grupo de empresários, no final, com a franqueza típica dos monges, voltou a falar-me dizendo: “Massimo, começo a perceber porque você não cita Jesus Cristo: talvez, a curto prazo, seja melhor assim”.
Isso aconteceu cerca de quinze anos atrás. Hoje escrevo explicitamente que a economia italiana é fruto dos valores católico-cristãos e, portanto, de sua união com os valores laicos e laico-socialistas. Não hesito em recomendar aos empresários um texto como a Laudato si'. Acontece-me de citar o evangelho, mesmo de forma aberta: obviamente mais para alguns e menos para outros. Respeito muito a liberdade de pensamento de todos. Meu trabalho está na comparação, na busca das coisas boas que estão por toda parte.
Estou convencido de que debaixo de tantas cinzas há brasas acesas. Acho que o evangelho e os valores da tradição cristã existem na forma de brasas. Às vezes, alguns leigos muito laicos ardem mais do que católicos muito católicos. Acredito que, se houver a capacidade de remover as cinzas, as brasas serão descobertas. Às vezes acontece de encontrá-las imediatamente. Outras vezes, leva muito tempo.
Para o meu trabalho, o Papa Francisco é um exemplo: porque, ao falar, ele é capaz de passar de momentos de alta teologia a momentos de simplíssima cotidianidade. Ele sabe se mover de cima para baixo, mas também de baixo para cima.
Os entes eclesiásticos e os institutos religiosos também podem ser definidos como empresas: eles precisam de formação?
Também trabalhei e ainda trabalho com entidades eclesiásticas e afins. Muitas vezes entrei com a alegria de poder exclamar: “Finalmente estou em um ambiente onde posso falar abertamente!”. Na verdade, não tive menos dificuldade. Encontrei ambientes e pessoas ambivalentes: por um lado, pessoas esplêndidas, católicos de grande profundidade, a quem haviam ensinado que o dinheiro é apenas uma mercadoria do diabo e para quem, portanto, resultava e resulta quase impossível falar de uma demonstração de resultados; por outro lado, conheci pessoas para quem trabalhar numa instituição de natureza eclesial ou em qualquer outra empresa era e é a mesma coisa. Raramente encontrei coincidências: dois em um. Na verdade, às vezes encontrei um em dois: ou seja, as mesmas pessoas dissociadas em si mesmas nas duas funções.
Em meus livros, menciono os grandes santos sociais do século XIX. Falo de Dom Bosco, por exemplo. Diz-se que ele foi um santo empresário. Ele foi certamente uma pessoa animada por um grande carisma evangélico: sabia usar o seu carisma e torná-lo concreto. Aqui está, em figuras como essas, realizou-se a síntese para a qual trabalho. Os empresários, mesmo nas entidades eclesiais, devem ser dotados de um carisma evangélico e, entretanto, deveriam saber fazer as contas da melhor maneira possível.
Ao contrário de cerca de quinze anos atrás - quando ainda observava uma nítida dicotomia de competências e saberes na Igreja -, parece-me notar uma maior capacidade de diálogo, uma maior abertura e, portanto, uma maior capacidade de integração de competências. Como pode ser visto pelo que digo e pelo que escrevo, estou confiante. E se cheguei a isso foi graças a um espírito que sopra na direção da novidade, com a contribuição conjunta de economistas, sociólogos, técnicos ambientais, filósofos... e teólogos: homens e mulheres, obviamente! Estou convencido de que o futuro deve ver uma profunda integração das competências e dos saberes, também na Igreja.