02 Fevereiro 2018
"Não por acaso na base do 'sistema preventivo' de Dom Bosco há um profundo amor pelos jovens, chave para toda a sua obra educacional", escreve Francesco Antonio Grana, jornalista, em comentário publicado por Il Fatto Quotidiano, 31-01-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sonhar é lícito. Mesmo na Igreja. Há aqueles que sonhavam há tempo um Papa como Jorge Mario Bergoglio: com sua opção pelos pobres e atento aos rejeitados do planeta. E outros que, ao contrário, e principalmente nas hierarquias eclesiásticas, que sonham com o rápido arquivamento desse pontificado e que ele permaneça apenas como um parêntese na história bimilenar da Igreja católica. E há ainda aqueles que, como o povo da Argentina que deu à luz a Bergoglio, que sonham com a visita do Papa à sua terra natal. Uma verdadeira miragem depois de cinco anos de seu pontificado, considerando que Francisco, desde o final de agosto do ano passado, ainda não nomeou um núncio apostólico para a Argentina.
Até mesmo os santos sonham. Quem concorda com isso é Dom João Bosco, fundador dos Salesianos, e não apenas porque ele realmente levou a sonhar milhares de jovens de ontem e de hoje. Mas porque foi um verdadeiro "sonhador". Isto é demonstrado por um precioso volume que reúne as contribuições de um grupo de estudiosos, coordenados pelo teólogo salesiano P. Andrea Bozzolo. O texto, tem o título de "Os sonhos de Dom Bosco. Experiência espiritual e sabedoria educacional" (Las).
"Uma das principais razões que justifica a pesquisa - disse o editor do livro de consideráveis 600 páginas - é que o próprio Dom Bosco atribuiu a alguns de seus sonhos um valor de inspiração e, em muitos aspectos, deixou-se guiar por eles". Antes de transformar os sonhos em uma original "fórmula educacional", como sabiamente apontou o jovem estudioso salesiano Antonio Carriero, o santo dos jovens deixou que se passassem muitos anos. Sua decisão só se concretizou depois de ter sido repetidamente incentivado pelo Papa Pio IX.
O volume oferece um acesso privilegiado ao mundo interior de Dom Bosco que dificilmente pode ser encontrado em outros textos. O santo, na verdade, tinha pouca inclinação a falar sobre si mesmo e era muito sóbrio em confidenciar as dinâmicas da própria alma. Ainda assim, os relatos dos seus sonhos são uma exceção. Fazendo com que fossem conhecidos, de fato, Dom Bosco não pode deixar de revelar o seu coração, para deixar vislumbrar o mundo rico de suas emoções: o medo que o assusta diante de sua missão, o desânimo diante das dificuldades, a atitude instintiva de defesa para uma tarefa maior que ele próprio, a angústia com que reage à vista do pecado, bem como a percepção de sua influência positiva sobre os eventos eclesiais e sociais de seu tempo.
Como observado por Francisco, "Dom Bosco sempre foi dócil e fiel à Igreja e ao Papa, seguindo as sugestões e orientações pastorais". Daí o aviso de Bergoglio para não "esquecer aqueles que dom Bosco chamava de ‘meninos de rua’: eles são tão necessitados de esperança, de serem formados na alegria da vida cristã”. Um convite concreto "para sair, para buscar sempre e novamente as crianças e os jovens lá onde eles vivem: nas periferias das metrópoles, nas zonas de perigo físico e moral, nos contextos sociais onde faltam muitas coisas materiais, mas acima de tudo falta o amor, a compreensão, a ternura e a esperança. Ir ao seu encontro com a transbordante paternidade de Dom Bosco".
Em uma igreja, na qual, infelizmente, não faltam em todo o mundo escândalos contínuos que ferem indelevelmente crianças e jovens, o ensinamento que vem da vida do fundador dos Salesianos pode certamente ser de grande ajuda para purificar seminários, presbíteros, paróquias e dioceses. Não por acaso na base do “sistema preventivo” de Dom Bosco há um profundo amor pelos jovens, chave para toda a sua obra educacional. Como gostava de repetir, de fato, "a subtração de benevolência é um castigo que desperta a emulação." Uma lição mais do que nunca atual, inclusive em traje secular.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os sonhos de Dom Bosco, aqueles que também agradavam aos laicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU