01 Outubro 2018
Antes do início do muito aguardado encontro dos bispos em Roma, que durará um mês e começará na próxima semana, dois representantes americanos já anteciparam o debate publicando uma troca de escritos sobre o documento que guiará as reuniões.
A reportagem é de Christopher White, publicada por Crux, 29-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
A correspondência entre o cardeal Blase Cupich de Chicago e o arcebispo Charles Chaput foi publicada no First Things, revista sobre religião de cunho conservador, em resposta a uma coluna do dia 21 de setembro escrita por Chaput que incluiu uma crítica de 1.300 palavras sobre o Instrumentum Laboris, documento de trabalho do Sínodo, enviada para Chaput por um "respeitado teólogo norte-americano" e publicado anonimamente em seu artigo.
No comentário original, o teólogo criticou o documento por seu “enfoque difundido em elementos socioculturais, excluindo questões religiosas e morais mais profundas”, e quatro áreas nas quais o autor enumerou críticas: “Uma compreensão inadequada da autoridade da Igreja sobre a espiritualidade”; “Uma antropologia teológica parcial"; “ Uma concepção relativista de vocação” e “Uma compreensão empobrecida da alegria cristã”.
Além disso, o teólogo afirmou que “existem outras preocupações teológicas sérias, incluindo: uma falsa compreensão da consciência e seu papel na vida moral; uma falsa dicotomia proposta entre verdade e liberdade; falsa equivalência entre o diálogo com a juventude LGBT e o diálogo ecumênico; além de tratar de forma insuficiente sobre escândalo de abuso”.
Chaput disse que a crítica que ele escolheu publicar foi uma das muitas que ele recebeu, e acrescentou, “é substancial o suficiente para garantir uma consideração e discussão muito mais ampla à medida que os bispos representantes se preparam para engajar o tema do Sínodo”.
Em sua carta aos editores da revista publicada na sexta-feira, Cupich respondeu que a crítica original "representa uma falta lamentável de compreensão do ensino magistral".
Ele também acusou o autor anônimo de "falsificar a verdade" e de se engajar em "denúncias falsas", selecionando certas partes sem colocá-las no contexto maior de todo o documento de trabalho, que tem cerca de 30.000 palavras.
Além disso, ele disse que a crítica do teólogo distorce a verdade e "mostra condescendência com as questões levantadas pelas conferências episcopais do mundo nas quais o IL [Instrumentum Laboris] está baseado".
Ele também questionou o uso da “crítica anônima”, dizendo que isso não leva a um discurso saudável.
“A visão madura de Donum Veritatis (Sobre a vocação eclesial do teólogo) fala do diálogo público e direto na busca da verdade, generoso em espírito, justo na crítica e equilibrado em tom”, escreveu. “A crítica anônima publicada pela First Things rejeita esses elementos, substituindo a seletividade, a condescendência e a implantação de verdades parciais para ofuscar a plenitude da verdade.”
Cupich concluiu citando a Declaração sobre a Liberdade Religiosa Dignitatis Humanae, do Concílio Vaticano II, que São João Paulo II também citou em sua encíclica Ut Unum Sint de 1995:
“A verdade… deve ser procurada de maneira adequada à dignidade da pessoa humana e à sua natureza social. A investigação deve ser livre, continuada com a ajuda de ensino ou instrução, comunicação e diálogo, no decurso da qual os homens explicam uns aos outros a verdade que descobriram, ou pensam ter descoberto, para assim ajudarem uns aos outros na busca pela verdade. Além disso, à medida que a verdade é descoberta, é por um consentimento pessoal que os indivíduos devem aderir a ela”.
Ele acrescentou: “O que é necessário é uma preocupação para a Igreja que é animada por um amor pela verdade. O que é necessário é o espírito de sinodalidade que o Papa Francisco fez ser o coração do próximo momento de diálogo e ensino da Igreja em busca de maneiras de levar o Evangelho de Jesus Cristo às próximas gerações. ”
A resposta de Chaput disse que a crítica anônima que ele escolheu publicar estava "entre as mais caridosas" que ele recebeu.
“O Instrumentum de um Sínodo é sempre - ou pelo menos deveria ser sempre - um trabalho em progresso, aberto à discussão e adaptação pelos Padres sinodais. Tenho certeza de que podemos contar com esse processo na próxima conversa do sínodo", continuou ele.
Ao mesmo tempo em que Chaput concordou que fontes anônimas “podem ser lamentáveis”, defendeu sua publicação dizendo que “o ambiente tóxico em muitas de nossas comunidades acadêmicas as torna necessárias”.
Mais de 300 cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos participantes de todas as regiões do mundo participarão do próximo Sínodo sobre os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional.
Chaput foi eleito pela Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB, na sigla em inglês) em novembro passado para representar o USCCB na reunião de outubro, no entanto, ele também é membro do conselho permanente do Sínodo.
Além disso, ele será acompanhado pelo cardeal Daniel DiNardo, presidente da USCCB; O arcebispo José Gomez, vice-presidente da USCCB; O bispo Frank Caggiano de Bridgeport, Connecticut; o bispo auxiliar Robert Barron, de Los Angeles.
Cupich, junto com o cardeal Joseph Tobin de Newark, foi nomeado pelo Papa Francisco no início deste mês como representante papal especial do Sínodo.
Tobin, desde então, citou a necessidade de ficar em casa em sua diocese enquanto se recupera das contínuas consequências do verão sobre o arcebispo Theodore McCarrick, que liderou a arquidiocese entre 1986 e 2000 e que renunciou ao Colégio Cardinalício após revelações de que ele era abusador em série de seminaristas e de pelo menos um menor.
O Sínodo dos Bispos começa oficialmente na quarta-feira, 3 de outubro, e vai até 28 de outubro.
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Cupich e Chaput discutem sobre documento de trabalho para o Sínodo dos Jovens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU