06 Dezembro 2025
As transições políticas e a falta de uma cultura de respeito e educação para os sentimentos.
O artigo é de Alberto Corsani, editor do Riforma, publicado por Riforma, 05-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Violência contra as mulheres: em meio ao percurso que de 25 de novembro (Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres) leva a 10 de dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos), ao qual a Federação de Mulheres Evangélicas na Itália dedica seu próprio Quaderno (ver Riforma nº 44), consideramos cuidadosamente o sobe-desce de notícias vindas da política e das instituições: notamos com satisfação o fato de que uma decisão bipartidária na Câmara levou à primeira aprovação do projeto de lei que altera o Artigo 609bis do Código Penal, especificamente em relação à violência sexual (“Quem praticar, fizer praticar ou causar sujeição a atos sexuais outra pessoa sem o livre e imediato consentimento desta última, será punido com pena de seis a doze anos de prisão”).
Bastaram poucos dias para que a magia do consenso político sobre uma questão tão importante se dissipasse. No Senado, onde o projeto de lei agora aguarda leitura, houve uma puxada de freio (Liga e Fratelli d’Itália), apesar da convicção de que ainda há tempo para prosseguir para a aprovação. Enquanto isso — outra notícia positiva — em 26 de novembro, a Câmara aprovou definitivamente (após o pronunciamento do Senado em 23 de julho) a norma que tipifica o feminicídio como crime específico.
"É muito importante que o feminicídio seja agora classificado como crime autônomo", afirma Debora Spini, professora da Universidade de Nova York em Florença e membro da Comissão de Estudos-Diálogo-Integração da Federação das Igrejas Protestantes na Itália, que consultamos porque, em 25 de novembro de dez anos atrás, ela esteve presente na assinatura, no Senado, de um importante documento ecumênico assinado por católicos, protestantes e ortodoxos, intitulado Contra a violência contra as mulheres: um apelo às igrejas cristãs na Itália. "Os 'nomes das coisas' servem para dar visibilidade, e é, portanto, importante que a violência de gênero receba visibilidade." Naturalmente, também devemos nos perguntar quais ferramentas são implementadas com uma nova norma: "A questão da 'punição' é obviamente muito complexa: para além das reações que podemos ter, não tanto como cristãos, mas como cidadãos e cidadãs, diante de casos de violência hedionda contra as mulheres, devemos ir ‘além’: não podemos esquecer que até na Constituição encontramos escrito que a punição deve ter um valor reparador e, portanto, a luta contra a violência de gênero, tanto legal quanto politicamente, não deve ser ‘desviada’ em nome de uma visão de Estado securitária ou autoritária. É essencial, portanto, que haja um ‘recurso legal’ que identifique com um nome preciso uma prática que, infelizmente, existe e precisa ser reconhecida: mas na base de tudo é importante a educação”.
Nesse clima cultural, o que as igrejas podem dizer? "As igrejas podem dizer, mas acima de tudo podem 'fazer', e esse foi o espírito do apelo ecumênico de 2015: as igrejas também intervêm na vida familiar, da preparação para o casamento à catequese e ao cuidado das almas... Elas estão envolvidas e têm um papel fundamental. Se começarmos a imaginar um mundo em que o respeito e a educação dos sentimentos fazem parte da catequese e da pastoral (um termo talvez não muito protestante, mas importante), tudo isso pode contribuir para a erradicação do flagelo da violência de gênero. Seria um passo importante. Quanto ao que as igrejas podem dizer – e aqui encontramos uma especificidade protestante – a justiça de gênero não é um apêndice, mas sim uma parte integrante do nosso testemunho ao Evangelho da Graça e ao Evangelho que liberta”.
Infelizmente, mesmo notícias muito recentes testemunham um clima e uma cultura que vão além dos casos individualmente mais graves...
O episódio no colégio “Giulio Cesare” em Roma [uma “lista de estupros” encontrada nos banheiros da escola, ndr] é fundamental: certamente aqueles jovens não estavam planejando um crime, porém, se começarmos a “normalizar” o estupro como uma brincadeira, criamos uma cultura na qual a pior violência pode florescer. Retornando ao documento assinado há dez anos, existe hoje uma sensibilidade muito mais acentuada, precisamente no aspecto da educação, em particular a educação no respeito dos sentimentos: e sobre isso temos muito a dizer, mas sobretudo a fazer.
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