Adeus à "guinada católica": 6 de cada 10 jovens se declaram "sem religião" na Espanha

Foto: Viktor Mogilat | Pexels

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27 Novembro 2025

  • A Cátedra José María Martín Patino de Cultura do Encontro apresenta a edição de 2025 do Relatório Espanha, com foco em temas como habitação, juventude, religiosidade, imigração e os efeitos do turismo.

  • Os jovens gastam 92% do seu salário com aluguel, e a taxa de propriedade de imóveis entre os menores de 35 anos cai para 27%. Os 10% mais ricos da Espanha detêm quase 60% da riqueza, e a renda mediana das famílias com menos de 35 anos caiu mais de 20% em duas décadas.

A reportagem é publicada por Religión Digital, 26-11-2025.

A Cátedra José María Martín Patino de Cultura do Encontro da Universidade Pontifícia de Comillas, com o apoio e a colaboração da Fundação Ramón Areces, apresentou o Relatório Espanha 2025, uma análise abrangente que examina as transformações sociais, econômicas e culturais mais relevantes do país nos últimos 40 anos. Este ano, “a análise centra-se em questões que ilustram claramente os tempos de mudança em que todas as sociedades estão imersas, mas particularmente as sociedades europeias e espanholas”, revela Agustín Blanco, diretor da Cátedra e coordenador do Relatório Espanha.

Entre os temas abordados no relatório deste ano, elaborado por autores da Universidade Pontifícia Comillas e de outras universidades, três se destacam por estarem relacionados a questões econômicas. O primeiro diz respeito à habitação e aos jovens: o relatório destaca que a idade média de emancipação da "geração inquilina", como é chamada no relatório, chega a 30,4 anos, em comparação com a média europeia de 26,3 anos. O custo do aluguel de um apartamento inteiro representa 92% do salário de um jovem, e apenas 3,3% das moradias são sociais. A propriedade de imóveis entre os menores de 35 anos cai de 58% em 2017 para 27% em 2024, enquanto 80% dos jovens inquilinos gostariam de poder comprar uma casa.

Em relação a essa questão, o relatório analisa um segundo ponto econômico: o turismo e sua relação com a sustentabilidade, considerando as críticas que enfrenta devido ao seu impacto na habitação e no meio ambiente. O relatório alerta para a insustentabilidade do modelo atual, o crescimento exponencial da hospedagem turística e os conflitos sociais em destinos superlotados. Por essa razão, propõe a transição para um turismo responsável que priorize a convivência e a redistribuição de benefícios.

A terceira questão econômica é a desigualdade hereditária e a concentração de riqueza. Os 10% mais ricos detêm 56,6% da riqueza, enquanto as heranças equivalem a 10% do PIB. A renda mediana das famílias com menos de 35 anos caiu 21,7% em duas décadas, em comparação com um aumento de 35% para as famílias com mais de 75 anos. O desemprego entre os jovens com ensino superior atinge 6,9%, um dos índices mais altos da União Europeia.

Declínio nos casamentos religiosos

Outro tema abordado no Relatório Espanha 2025 é a secularização da sociedade espanhola. A percentagem de pessoas que se declaram sem religião triplicou em duas décadas: de 13,2% em 2000 para 40% em 2024, atingindo 60% entre os jovens. O número de católicos praticantes estabilizou-se em torno de 15-20%, enquanto os casamentos religiosos caíram drasticamente: de 76% em 2000 para 19% em 2022. Ao mesmo tempo, o pluralismo religioso está a crescer: as minorias representam agora 10% da população, com 2,2 milhões de muçulmanos e 1,5 milhões de protestantes e cristãos ortodoxos.

Além disso, o ex-ministro das Universidades, Joan Subirats, escreveu um capítulo analisando a erosão democrática em um contexto de múltiplas crises (climática, econômica, desigualdade, pertencimento social, etc.) e aceleração tecnológica. O ex-ministro enfatiza a necessidade de mais ciência e melhores políticas públicas para sustentar a legitimidade democrática e lidar com a incerteza global. Ele afirma que a democracia está sendo corroída pela digitalização, pela inteligência artificial e pela fragilidade institucional, e destaca que os desafios residem em diversas áreas-chave: desigualdades amplificadas pela tecnologia, a tecnocratização das políticas públicas e a privatização da agenda pública. Em resposta, Subirats defende uma ciência socialmente robusta, a criação de laboratórios de inovação social e a democratização do conhecimento, pois, como ele aponta no relatório, “sem a integração efetiva da ciência nas políticas públicas e na participação cidadã, a erosão democrática se aprofunda”.

Redes sociais e migração

O Relatório Espanha 2025 também analisa como as redes sociais estão transformando a migração. 96,3% dos migrantes acessam as redes sociais por meio de dispositivos móveis, tornando-as uma ferramenta essencial para planejar viagens, manter contatos e buscar emprego. No entanto, o relatório alerta para os riscos: 87% das notícias sobre migração que circulam nas redes sociais são falsas, alimentando discursos de ódio e desinformação.

 “Essas plataformas aceleram a integração cultural, mas também podem reforçar a segregação digital”, afirma Cecilia Estrada, diretora da Cátedra de Refugiados Forçados da Universidade Comillas e autora deste capítulo. A UE enfrenta um paradoxo demográfico: precisa de imigração para compensar a queda da taxa de natalidade, mas mantém políticas restritivas e focadas na segurança. A autora enfatiza a necessidade de alfabetização digital, proteção de dados e regulamentação de conteúdo para coibir a manipulação e garantir direitos, e propõe “ir além de modelos de integração ultrapassados ​​em direção a uma governança inclusiva e justa”.

A questão da migração está ligada ao desafio demográfico, que também aparece no Relatório Espanha 2025. Os autores alertam para a crise demográfica que ameaça o futuro da Europa: a idade média na Europa é de 44,5 anos, e os maiores de 65 anos já representam 21,3% da população. Além disso, a taxa de dependência atingiu 33,4%, pressionando o Estado de bem-estar social. Portanto, o relatório apela para uma integração efetiva, recursos suficientes e governança inclusiva, alertando que, até 2100, haverá um trabalhador ativo para cada 1,2 aposentados, comprometendo a coesão social e a legitimidade democrática.

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