05 Março 2020
O envelhecimento gradual da população não é apenas um fenômeno específico das potências industrializadas. Afeta também as economias de renda média e baixa. É uma cultura, o atraso na idade de ter filhos, por razões profissionais e vitais, se espalhou por lugares que escapam à percepção do subconsciente coletivo, que situa essas bombas-relógio sociais em lugares como o Japão e países europeus como a Itália. Um recente relatório publicado pelo Financial Times revela países que enfrentam sérios riscos de colapso de suas pirâmides populacionais.
A reportagem é de Diego Herranz, publicado por Público, 03-03-2020. A tradução é do Cepat.
Alguns deles, com ameaças latentes de descenso de seu estrato social, com as conseguintes consequências sobre seu tecido produtivo e sua capacidade de criar riqueza. A Itália, a terceira economia do euro, ocupa o vigésimo lugar dessa lista, na qual o jornal britânico explora as causas dessa crise social, focadas no declínio de nascimentos e na desaceleração dos fluxos migratórios. Mesmo assim, toma isso como um exemplo. A taxa de natalidade no país transalpino caiu para 1,32 filhos por mulher, longe dos 2,1 necessários para sustentar a estabilidade da população ao longo do tempo. Devido, entre outros aspectos, à perda de confiança de seus cidadãos no futuro econômico do país e às dúvidas que suscita entre os italianos em idade de procriação sua capacidade patrimonial e monetária para abordar a educação de seus descendentes. No Japão, outro dos paradigmas desse fenômeno, sua juventude desiste de ter filhos. É outro país onde a bomba demográfica está especialmente ativa.
Mas não são os únicos. Uma recente reportagem da BBC, resgatado pelo Business Insider, explica que o envelhecimento da população também se espalhou por todos os países da Europa Oriental. Na Bulgária, por exemplo, a fulgurante recessão demográfica levou o governo de Sofia a promover medidas para melhorar a educação e as oportunidades econômicas no país, com o objetivo de impedir a fuga de jovens em busca de ofertas de emprego e profissionais, geralmente em relação a outros parceiros da União Europeia. Enquanto nos Estados Unidos, apesar das previsões de que manterá seu crescimento populacional a médio prazo, seus cidadãos mais jovens estão adiando o momento de se tornar pais, o que implica um envelhecimento gradual, de qualquer modo.
A Organização das Nações Unidas publica regularmente suas projeções nesse campo e estima que o mundo possa mudar drasticamente nas próximas décadas em termos de seu mapa populacional. Em seus cálculos, incluem dados oficiais sobre fertilidade, mortalidade, migrações internacionais e neles corroboram o estudo do Financial Times. Seus 20 países com maior probabilidade de acelerar suas taxas de envelhecimento coincidem com os estabelecidos pela ONU, com contratempos entre 2020 e 2050. Dentro de uma classificação que exclui territórios como Wallis e Futuna, ilhas tropicais de origem vulcânica e sob soberania francesa - entre Havaí e Nova Zelândia - que deve perder até 18,7% de sua população, nas próximas três décadas, devido ao aquecimento global.
Estes são os vinte países com os riscos mais intensos de contração do censo populacional. Em ordem crescente. Do menor para o maior.
20.- Itália. Sua população cairá de 60,5 milhões, em 2020, para 54,4, em 2050, um descenso de 10,1%.
19.- Cuba. Sua população cairá de 11,3 milhões, em 2020, para 10,2, em 2050, um descenso de 10,3%.
18.- Macedônia do Norte. Sua população cairá de 2,1 milhões, em 2020, para 1,9 em 2050, um descenso de 10,9%.
17.- Portugal. Sua população cairá de 10,2 milhões, em 2020, para 9,1, em 2050, um descenso de 10,3%.
16.- Geórgia. Sua população cairá de 4 milhões, em 2020, para 3,5, em 2050, um descenso de 11,8%.
15.- Polônia. Sua população cairá de 37,8 milhões, em 2020, para 33,3, em 2050, um descenso de 12%.
14.- Hungria. Sua população cairá de 9,7 milhões, em 2020, para 8,5, em 2050, um descenso de 12,3%.
13.- Estônia. Sua população cairá de 1,3 milhão, em 2020, para 1,2, em 2050, um descenso de 12,7%.
12.- Grécia. Sua população cairá de 10,4 milhões, em 2020, para 9,0, em 2050, um descenso de 13,4%.
11.- Romênia. Sua população cairá de 19,2 milhões, em 2020, para 16,3, em 2050, um descenso de 15,5%.
10.- Albânia. Sua população cairá de 2,9 milhões, em 2020, para 2,4, em 2050, um descenso de 15,8%.
9.- Japão. Sua população cairá de 126,5 milhões, em 2020, para 105,8, em 2050, um descenso de 16,3%.
8.- Moldávia. Sua população cairá de 4,0 milhões em 2020 para 3,4 em 2050 um descenso de 16,7%.
7.- Croácia. Sua população cairá de 4,1 milhões, em 2020, para 3,4, em 2050, um descenso de 18%.
6.- Bósnia-Herzegovina. Sua população cairá de 3,3 milhões, em 2020, para 2,7, em 2050, um descenso de 18,2%.
5.- Sérvia. Sua população cairá de 8,7 milhões, em 2020, para 7,1, em 2050, um descenso de 18,9%.
4.- Ucrânia. Sua população cairá de 43,7 milhões, em 2020, para 35,2, em 2050, um descenso de 19,5%.
3.- Letônia. Sua população cairá de 1,9 milhão, em 2020, para 1,5, em 2050, um descenso de 21,6%.
2.- Lituânia. Sua população cairá de 2,7 milhões, em 2020, para 2,1, em 2050, um descenso de 22,1%.
1.- Bulgária. Sua população cairá de 6,9 milhões, em 2020, para 5,4, em 2050, um descenso de 22,5%.
O custo do descenso da população é manifesto. John Maynard Keynes, recorda Robin Harding, em artigo no Financial Times, já tinha previsto em uma de suas conferências – Algumas consequências do descenso da população, em 1937 - que a superpopulação significava que um número menor de pessoas teria acesso à distribuição de riqueza. Um presságio do baby boom que se seguiu às décadas pós-guerra mundial. Mas os declínios demográficos causam ainda piores efeitos econômicos.
A premonição de Keynes se cumpre hoje. Quase como uma profecia. Porque o componente econômico está entre as principais razões para o declínio nas taxas de natalidade. A fertilidade nos países ricos está abaixo do nível de 2,1 filhos por mulher. No entanto, não é apenas um fenômeno de potências industrializadas. Nações catalogadas em grandes mercados emergentes, como Irã, Tailândia e Brasil, também protagonizam descensos que os colocam abaixo do limiar do crescimento vegetativo. E na Coreia do Sul, o índice caiu para 0,98, no ano passado.
Mesmo em países como os Estados Unidos, existem apenas 1,73 nascimento por mulher. As Perspectivas da População Mundial da ONU indica que é altamente improvável que um novo boom parental seja gerado nas economias de alta renda e avança que 27 países atualmente têm menos população do que em 2010. Suas previsões também indicam que outros 55 países, incluindo a China, experimentarão descensos em 2050. Os retrocessos demográficos no século atual, em consequência, serão habituais.
O relatório da Organização das Nações Unidas é retumbante a esse respeito. Os danos colaterais à economia de uma recessão demográfica global desse calibre serão substanciais. Haverá menos população para estimular a produção, um número menor de consumidores e, portanto, os padrões de vida - salários e rendas per capita serão reduzidos. Tudo isso contribuirá para recriar o fantasma que atingiu Keynes nesse campo: uma perda de investimentos com um censo maior de empresas competindo em termos competitivos para alcançar uma oferta de consumidores de muita menor dimensão.
Na Europa, os números são alarmantes. É, de longe, o continente mais antigo e a bomba demográfica prejudicará seriamente o dinamismo econômico e as finanças públicas. O Velho Continente possui a maior longevidade e menores taxas de fertilidade do planeta, com uma idade média de 43 anos, doze anos acima do resto do mundo. Dados que convidam as autoridades de seus países a tomar medidas sobre o assunto. Porque a ONU espera que o censo europeu comece seu declínio no próximo ano. E porque o número de concidadãos em idade ativa - entre 20 e 64 anos - atingiu o teto em 2010 e este ano será 12 milhões a menos, uma queda de 6,1% e, em 2050, a população ativa diminuirá em 50 milhões.
Em outros lugares, esse fenômeno também se enraizará. China e Coreia do Sul registrarão um envelhecimento relâmpago de suas populações. Neste exercício, a idade média saltará mais de 40 anos, o dobro da dos anos 70 do século passado, enquanto o Japão abrigará a maior proporção de habitantes com mais de 65 anos do mundo. Philipp Engler, economista do FMI, prediz perdas de renda per capita “substanciais em todo o mundo desenvolvido, mas, principalmente, entre os países europeus”.
Martina Lizarazo, especialista em demografia em Bertelsmann Stiftung, think tank sediada em Bruxelas, estima que até 2050 as mudanças no envelhecimento reduzirão a renda per capita na França, Espanha, Itália e Alemanha - as quatro principais economias do euro -, entre 4.759 e 6.548 euros, em valores de 2010, e disparará os gastos com saúde e pensões. A Comissão Europeia prevê que as despesas em saúde para cuidar de idosos e associados a pensões totalizarão 25% do PIB da União Europeia, em 2040. Um aumento de 2,3 pontos percentuais.
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O risco de colapso demográfico se concentra na Europa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU