Um estudo revela que a violência machista afeta a memória e as funções cerebrais das vítimas

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Segundo um estudo da Universidade de Granada, entre 40% e 70% das mulheres sofreram golpes na cabeça por parte de seus agressores, e entre 30% e 50% foram alvo de tentativas de estrangulamento.

A informação é de Aurora Báez Boza, publicada por El Salto, 25-11-2025. 

Esquecer uma palavra, não lembrar listas ou demorar mais para memorizar algo podem ser algumas das consequências sentidas no nível cerebral por mulheres que sobreviveram à violência machista. É o que demonstra um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa Mente, Cérebro e Comportamento da Universidade de Granada, que aponta que aquelas que passaram por esse tipo de violência apresentam impactos na memória e em outras funções cerebrais. Maria Pérez González, pesquisadora do projeto, explica: “Percebemos que as mulheres que sofreram violência de gênero mostraram maior dificuldade na primeira fase do processo de aprendizagem em comparação com mulheres que não haviam sofrido essa violência”.

Segundo o estudo, entre 40% e 70% das mulheres sofreram ataques na cabeça por parte de seu agressor e entre 30% e 50% foram alvo de tentativas de estrangulamento.

A pesquisa avaliou oitenta mulheres, quarenta que haviam sofrido violência machista e quarenta que não, por meio da memorização de dezenas de palavras enquanto sua atividade cerebral era monitorada por ressonância magnética. Após uma primeira fase em que as sobreviventes apresentaram maior dificuldade, com o tempo ambos os grupos “tinham padrões semelhantes de desempenho; no entanto, as mulheres submetidas à violência alcançavam esses resultados às custas do que chamamos de maior esforço cerebral”, explica Pérez González. Esse sobre-esforço decorre do dano neurológico causado pelos ataques violentos.

O padrão cerebral também é afetado. Durante o estudo, o grupo de mulheres sobreviventes mostrou maior desativação cerebral. No momento do reconhecimento das palavras, as participantes que sofreram violência apresentaram maior desativação na região ventromedial do córtex pré-frontal medial, no cíngulo anterior e no caudado. Essas áreas fazem parte de uma zona anterior à Rede Neural de Modo Padrão, responsável pelo repouso mental, pela autorreflexão, pelo planejamento e pela memória.

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Miguel Pérez García, professor do Departamento de Personalidade, Avaliação e Tratamento Psicológico, afirma: “O número de mulheres que sofrem golpes na cabeça ou tentativas de estrangulamento é escandaloso”. De acordo com o estudo, entre 40% e 70% das mulheres sofreram ataques na cabeça por parte de seu agressor e entre 30% e 50% foram alvo de tentativas de estrangulamento. “Esses ataques inevitavelmente causam danos cerebrais, e comprovamos que quanto maior a violência, quanto mais eventos traumáticos, maior o dano neurológico”, acrescenta o professor. Embora o estudo foque nesses ataques físicos, a equipe ressalta que o estresse pós-traumático provocado pela violência psicológica também pode gerar danos cerebrais semelhantes.

Apesar de se tratar de danos profundos, que podem aumentar a predisposição a desenvolver doenças neurológicas ao longo do tempo, a equipe de pesquisa afirma que, por meio de reabilitação e tratamento adequado, é possível reverter muitas das consequências no cotidiano dessas mulheres. O professor e pesquisador Juan Verdejo Román destaca: “Não estamos dizendo que isso se torne um peso para as mulheres ou que não possam realizar as mesmas tarefas com a mesma eficácia, mas sim que necessitam de mais esforço cerebral devido ao dano. Com a reabilitação adequada, é possível retornar aos níveis de normalidade anteriores à violência”.

O estudo pretende contribuir para que “essas sequelas sejam levadas em conta”, como enfatiza a pesquisadora Maria Pérez, e para que sejam integradas nos processos de reabilitação. Além disso, o projeto está sendo ampliado para incluir filhos e filhas de mulheres que sofreram violência machista, e dentro de alguns meses serão divulgados resultados sobre como essas agressões também afetaram o desenvolvimento neurológico deles.

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