25 Novembro 2025
Governo federal anuncia nesta quarta-feira (26) novos recursos para reconstrução no Rio Grande do Sul.
A reportagem é publicada por Brasil de Fato, 24-11-2025.
Erechim (RS) amanheceu diferente depois do temporal de granizo que deixou bairros inteiros irreconhecíveis e expôs, mais uma vez, a vulnerabilidade das cidades gaúchas diante de eventos climáticos extremos.
O município decretou situação de emergência neste domingo (23) após registrar destruição em larga escala, com mais de 5 mil casas atingidas, segundo estimativas de autoridades e órgãos especializados em meteorologia. O que era, em muitos bairros, um cenário de telhados perfilados e ruas tranquilas se transformou em um mosaico de estruturas arrancadas, vidros estilhaçados, paredes abertas e eletrodomésticos destruídos pela força das pedras de gelo.
A prefeitura mobilizou equipes da Defesa Civil para mapear os estragos, distribuir lonas e atender as famílias que tiveram suas casas destelhadas ou parcialmente comprometidas. O atendimento de saúde também precisou ser reorganizado. O hospital Santa Terezinha suspendeu cirurgias eletivas para dar prioridade aos feridos do temporal, enquanto a Unidade de Referência em Saúde reforçou o acolhimento de quem buscava atendimento imediato. Com a rede de ensino igualmente afetada, o município suspendeu aulas nas escolas municipais, estaduais e nas instituições privadas que atendem estudantes por meio de convênios.
O volume de feridos ainda está sendo atualizado por diferentes órgãos e veículos locais, mas os números já passam da casa das dezenas. A prefeitura afirma que, embora os ferimentos tenham sido majoritariamente causados por estilhaços e quedas durante a tentativa de conter infiltrações, o risco permanece alto, especialmente para quem tenta subir em telhados comprometidos ou circular próximo a fiações expostas. A Defesa Civil orienta que reparos improvisados sejam evitados enquanto a estrutura dos imóveis não for avaliada, destacando o perigo de novos acidentes.
A situação exigiu a abertura de imóveis privados para abrigar moradores desalojados, conforme autorizado pelo decreto municipal. O documento também permite a contratação de serviços e aquisição de materiais sem processo licitatório tradicional, uma medida destinada a acelerar ações emergenciais. Para os moradores, no entanto, a principal urgência segue sendo a reconstrução das casas e a garantia de que haverá recursos suficientes para enfrentar o que muitos descrevem como o episódio de maior impacto desde antigos temporais na região.
Reconstrução e incertezas
Embora Erechim ainda contabilize danos e identifique famílias em vulnerabilidade, o evento de granizo não ocorreu de forma isolada no estado. O Rio Grande do Sul enfrenta meses de instabilidade climática severa, e o acúmulo de episódios extremos pressiona municípios, equipes de resposta e o próprio governo. A previsão de novas chuvas e rajadas de vento mantém autoridades em alerta.
Para técnicos da área meteorológica, o crescente número de ocorrências intensas tem relação com padrões atmosféricos que se tornam mais frequentes, embora o diagnóstico completo dependa de análises contínuas. Já especialistas da área de gestão de risco afirmam que a recorrência de danos reforça a necessidade de revisão de planos de adaptação e prevenção, sobretudo em municípios de médio porte.
Enquanto moradores organizam mutirões improvisados para recuperar o que resta das casas e voluntários ajudam a retirar destroços, cresce a expectativa por investimentos externos. Prefeituras da região relatam desafios comuns: falta de recursos para reconstrução, demanda ampliada por atendimento social e dificuldades logísticas para repor estruturas básicas como telhas, janelas e materiais elétricos.
O anúncio federal
O governo federal confirmou que apresentará, nesta quarta-feira (26), às 15h, no Palácio do Planalto, um pacote de R$ 1,8 bilhão para apoiar municípios do Rio Grande do Sul atingidos por enchentes e outros eventos climáticos extremos. O anúncio será feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado do governador Eduardo Leite e de ministros diretamente envolvidos nas ações de reconstrução. Segundo o governo, a iniciativa busca acelerar obras e reforçar a capacidade de estados e prefeituras para enfrentar a sequência de desastres que têm marcado o território gaúcho.
A maior parte dos recursos, R$ 1,2 bilhão, será destinada à construção de 10 mil novas moradias em áreas urbanas e rurais pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Os critérios de seleção serão definidos em parceria com os municípios, priorizando famílias que perderam suas casas ou vivem em áreas de alto risco. Representantes do governo federal afirmam que a reconstrução habitacional é considerada o eixo central do pacote, uma vez que a perda de moradias tem sido o impacto mais duradouro dos eventos extremos ocorridos.
O restante dos recursos financiará projetos de infraestrutura voltados à recuperação de ruas, sistemas de drenagem, redes de abastecimento e equipamentos públicos afetados. As propostas serão analisadas pelo Ministério das Cidades, que pretende agilizar os procedimentos em razão da urgência demonstrada pelos municípios. Embora o programa tenha abrangência estadual, cidades como Erechim, que enfrentam agora a soma de danos provocados pelo granizo com uma estrutura já fragilizada por meses de instabilidade, devem aguardar a avaliação técnica para saber quanto receberão e em quais prazos.
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