19 Novembro 2025
São Tomás. Damiano Simoncelli analisa uma trilogia: além da animalidade, uma investigação sobre o comportamento animal em que compara a nossa forma de agir e a deles, e uma série de passagens sobre a convivência com os animais.
O artigo é de Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, de 16-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O oitavo centenário do nascimento de Tomás de Aquino, ocorrido entre 1224 e 1226, com predominância para o ano de 1225, já gerou e continuará a gerar uma bibliografia substancial, que se soma à imensa obra distribuída ao longo dos séculos. Monumental (em todos os sentidos), contudo, é a sua produção filosófica e teológica, apesar da sua breve existência: faleceu a 7 de março de 1274, na Abadia de Fossanova, a caminho de Lyon, para onde fora convocado como perito para o concílio ecumênico que ali se realizaria.
Cada recanto do legado textual desse gigante do pensamento, que também havia cativado Dante, foi explorado, a começar pela famosa Suma Teológica, uma verdadeira obra arquitetônica, até mesmo em sua impressionante abordagem sistemática. A tese de Umberto Eco sobre a estética do Aquinate é, por exemplo, bastante conhecida, assim como se direcionaram sem trégua sobre a obra e a visão desse grande dominicano, o tomismo e a chamada Escolástica, com resultados por vezes até fundamentalistas, mas também com um valioso florescimento teórico posterior. Dentro desse delta ramificado da exegese de Tomás, uma corrente realmente surpreendente é aquela alimentada por um pesquisador da Universidade Ca' Foscari de Veneza, Damiano Simoncelli: ele aprofundou-se na "ética animal" que descobriu dentro de uma sua análise específica que avaliou um vasto campo textual, desde sua obra juvenil, O ente e a essência do Doutor Angélico, até a segunda parte da já mencionada Suma Teológica. De passagem, recordo a emoção que sempre senti quando, como diretor da Biblioteca Ambrosiana de Milão, segurava em minhas mãos o bifólio autógrafo da Suma contra os Gentios, incapaz de decifrar uma única linha devido à críptica caligrafia de Tomás.
Na realidade, o livro de Simoncelli estrutura-se como uma antologia meticulosamente elaborada, com comentários minuciosos que contextualizam os diversos recortes textuais das obras de Tomás de Aquino.
Esses estão dispostos numa espécie de trilogia marcada por temas sugestivos: a animalidade que está em nós e fora de nós, tornando-as semelhantes e diferentes ao mesmo tempo; a investigação sobre o comportamento animal, comparando a nossa forma de agir e a deles; e, finalmente, uma sequência sugestiva de passagens sobre a nossa convivência com os animais e, portanto, a definição do domínio humano, mas também da nossa relação com eles.
De certa forma, mesmo nesse caso, Tomás revela-se um precursor, ainda que segundo categorias atreladas a coordenadas histórico-culturais datadas: configuram-se como uma síntese original e criativa entre o pensamento agostiniano e o ensinamento aristotélico, mediado pela reflexão árabe. Como escreve o estudioso que o interpreta, ele "aborda o tema a partir do ponto de vista da experiência humana, procurando preservar a sua especificidade, recorrendo à analogia sem abandonar o quadro fundamental de referência para o agir humano, ou seja, a atividade providencial de Deus sobre o universo criado".
É certo que a sensibilidade contemporânea segue novos percursos e perspectivas científicas e teológicas diferentes e mais articuladas. É isso que atesta, por exemplo, o ensaio de Martin M. Lintner de título semelhante, Ética Animal (Queriniana 2020), que não é citado por Simoncelli na bibliografia geral, apesar de apresentar uma breve visão da doutrina tomista sobre o assunto (pp. 69-70). Entre outras coisas, lembramos que não poucos estudiosos se dedicaram a reabilitar a inteligência e a complexidade das espécies animais: penso, por exemplo, em Emmanuelle Pouydebat e seu recente e curioso artigo "Les oiseaux se chachent-ils pour mourir?" (Delachaux et Niestlé, p. 208), que abala muitas crenças sobre a relação dos animais com a morte.
Deixando aos leitores a escuta da mensagem do Doutor Angélico sobre esse tema, gostaria de salientar que o texto do estudioso da Ca' Foscari, que também colabora com o Instituto Tomista da Pontifícia Universidade Dominicana Angelicum em Roma, é publicado pela editora Morcelliana de Brescia, que este ano celebra o seu centenário. O nome deriva do sacerdote bresciano Stefano Antonio Morcelli (1737-1821), latinista e humanista, mas também pároco, enquanto o seu atual diretor é Ilario Bertoletti, herdeiro de uma tradição que inclui personalidades culturais que por vezes se cruzaram também com o futuro Paulo VI, Giovanni Battista Montini, também de Brescia.
O Catálogo Histórico 1925-2025, publicado para a ocasião, com curadoria de Daria Gabusi com Paolo Terzi e aberto por uma trilogia de ensaios históricos muito significativos, é impressionante. Com quase 750 páginas, oferece 3.368 fichas muito detalhadas, com um aparato igualmente surpreendente de apresentações das várias séries e revistas publicadas pela Morcelliana, começando pela conhecida Humanitas (1946) e terminando com o recente Annuario di filosofia della medicina (2023). Consultar esse catálogo também oferece a oportunidade de debruçar-se sobre a alta teologia do século XX, com figuras como Karl Rahner, von Balthasar, de Lubac e, especialmente, Romano Guardini com sua Opera omnia. A grande filosofia também está presente, com o Diário de Kierkegaard, e a história eclesiástica, emblematicamente representada pela História do Concílio de Trento, do prestigiado Hubert Jedin, entre outras.
A cultura católica e o pensamento secular e inter-religioso frequentemente se cruzam: uma referência indispensável é a série Pellicano rosso, criada pelo inesquecível Paolo De Benedetti e que já se aproxima dos 400 títulos, sem mencionar, no passado, o extraordinário intelectual Don Giuseppe De Luca, uma "personalidade flamejante, criativa e estimuladora", como é descrito no ensaio introdutório de Massimo Marcocchi. Uma última menção entre muitas possíveis: a tradução acompanhada pelo original em grego da Bíblia Septuaginta com curadoria do grande hebraísta Paolo Sacchi, um arquétipo do diálogo intercultural e inter-religioso com o mundo helenístico.
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