01 Novembro 2025
Os humanos não são os únicos a conhecer o luto. Pássaros, macacos, orcas... Muitos animais adotam uma variedade de comportamentos específicos diante da morte de um dos seus.
A reportagem é de Hortense Chauvin, publicada por Reporterre, 31-10-2025. A tradução é do Cepat.
“Os animais nunca saberão o que é morrer”; “O conhecimento da morte e de seus terrores é uma das primeiras aquisições que a humanidade fez ao se distanciar da condição animal”, escreveu o filósofo Jean-Jacques Rousseau em 1754, consolidando uma ideia tão antiga quanto o orgulho humano: a consciência e a dor da morte são supostamente prerrogativa da nossa espécie.
Será? Pesquisas científicas mostraram que os animais podem usar ferramentas, curar-se, demonstrar altruísmo, conversar... Será que eles também temem e sofrem com o império do Grande Ceifador?
Responder a essa espinhosa questão é o objetivo da tanatologia comparada, que estuda a relação de outros animais com a morte. Este campo de estudo tomou corpo em 2010, após chimpanzés serem fotografados agrupados, em um silêncio incomum, observando o cadáver de um dos seus. Publicada na National Geographic, a imagem despertou considerável interesse científico, como explicam o biólogo Antonio José Osuna Mascaró e a filósofa Susana Monsó.
Um “mergulho fúnebre” de 17 dias
Em dez anos, a literatura científica sobre o assunto cresceu consideravelmente. A bióloga Emmanuelle Pouydebat oferece uma síntese fascinante em um livro publicado em setembro, Les Oiseaux se cachent-ils pour mourir? (Os pássaros se escondem para morrer?) (Delachaux et Niestlé).
É impossível falar de “uma” relação que os animais têm com a morte, como se percebe ao ler sobre o assunto, dada a grande variação de opiniões dependendo se estamos falando de formigas, corvos, leões-marinhos ou gorilas. Isso não impede a diretora de pesquisa do CNRS e do Museu Nacional de História Natural de afirmar: não, “o luto em resposta à perda não é um fenômeno exclusivamente humano”.
Entre os mamíferos, os exemplos são inúmeros. Emmanuelle Pouydebat cita, em particular, uma cena observada em 2018 pela pesquisadora Victoria Inman em um parque nacional de Botswana. Durante onze horas, uma fêmea de hipopótamo tentou manter à tona o cadáver de um filhote de seis meses — provavelmente seu próprio filhote —, chegando ao ponto de “atacar e afugentar” crocodilos que se aproximavam demais (embora as duas espécies geralmente compartilhem o habitat “sem conflitos”).
Ela também foi observada soltando bolhas, normalmente produzidas quando esses animais se comunicam. “Era como se ela quisesse que ele continuasse a respirar”, analisou Victoria Inman na época.
Golfinhos, baleias, cachalotes... Muitos mamíferos marinhos também foram observados fazendo companhia a seus mortos — um comportamento descrito como “epimelético”. No entanto, é importante não cair em uma visão idealizada do oceano: alguns (como as morsas) “abandonam seus filhotes vivos quando as condições são desfavoráveis”, explica Emmanuelle Pouydebat.
Um caso notável, entre muitos outros: em 2018, uma orca fêmea de 20 anos, apelidada de Tahlequah, foi observada com seu filhote morto na superfície. É “comum” que as orcas cuidem de seus mortos e se recusem a vê-los afundar, observa a bióloga. O “mergulho fúnebre” de Tahlequah atingiu proporções extraordinárias: ela permaneceu perto de seu filhote morto por nada menos que dezessete dias, nadando com ele por quase 1.600 km ao longo da costa da América do Norte. Em janeiro, ela foi vista novamente na costa de Seattle, carregando seu filhote mais novo, que havia morrido alguns dias antes, em seu focinho.
O luto não é uma exclusividade dos humanos
Nossos primos primatas são aqueles cuja relação com a morte foi estudada mais de perto pelos cientistas. Aqui também, seus comportamentos podem ser “muito variados”, observa Emmanuelle Pouydebat. Vigílias noturnas do cadáver, carregar filhotes mortos, cuidar, deslocar-se e inspecionar os corpos, cobri-los com folhas, abraços entre os sobreviventes, canibalismo (às vezes)... Entre alguns lêmures, macacos e grandes símios, a proteção e o cuidado dispensados aos corpos dos mortos podem durar de algumas horas a vários meses.
Isso significa que eles sentem luto? A diretora de pesquisa do CNRS cita, entre outras evidências, os trabalhos com babuínos realizados pela bióloga Dorothy Cheney e pelo primatologista Robert Seyfarth. Os dois cientistas observaram que, quando fêmeas de babuíno chacma em Botsuana perdiam um dos parentes para um predador, seus níveis de glicocorticoides — indicadores de estresse — aumentavam consideravelmente. A recuperação podia levar várias semanas, dependendo da proximidade do vínculo com o morto. Entre os humanos, esse comportamento seria chamado de “luto”.
A gorila respondeu usando os sinais: “infeliz”, “triste”, “chorando”
Emmanuelle Pouydebat também menciona a história notável de Koko. Nascida em 1971 no Zoológico de São Francisco, essa gorila fêmea foi apresentada a uma versão da Língua Americana de Sinais (adaptada aos seus dedos grandes) pela etóloga Penny Patterson. No final da vida, Koko conseguia sinalizar quase mil palavras. Para aliviar seu isolamento, seus tratadores lhe deram um gatinho, All Ball, com quem ela brincava frequentemente. Até que All Ball foi atropelado por um carro. Quando Penny Patterson informou Koko (em linguagem de sinais) sobre sua morte, a gorila respondeu usando os sinais: “infeliz”, “triste”, “chorando”.
A mesma coisa aconteceu alguns meses depois, com a morte do ator Robin Williams, que a visitava regularmente em seu recinto. Ao saber de sua morte, Koko sinalizou: “Mamãe”, “chorar”, antes de abaixar a cabeça, com os lábios tremendo. Os vídeos dessas cenas foram recebidos com reações mistas pelos cientistas, alguns lamentando que não se soubesse o que Koko havia visto antes da câmera começar a gravar, explica Emmanuelle Pouydebat. Esses casos, no entanto, têm o mérito de “levantar questões sobre a capacidade de alguns grandes primatas de terem um conceito de morte”, acredita a pesquisadora. E de enfraquecer ainda mais a fronteira erguida entre humanos e não humanos.
A morte, um conceito onipresente na natureza
Antes de Emmanuelle Pouydebat, a filósofa espanhola Susana Monsó já havia abalado nossas crenças sobre a relação dos animais com a morte. Em seu livro Playing Possum: How Animals Understand Deat (Fingindo de morto: como os animais compreendem a morte) (Princeton University Press), publicado em 2024, ela desenvolve a ideia de um “conceito mínimo de morte”. Para que um animal possua esse conceito, ele deve, segundo ela, ser capaz de distinguir um animal morto de um animal adormecido ou ausente, compreender que um cadáver não é mais um ser funcional e que esse estado é irreversível.
Alguns insetos, como as formigas, parecem não se encaixar nesses critérios. Embora tenham o hábito de remover seus corpos mortos do ninho (um processo chamado “necroforese”), esse comportamento provavelmente é uma resposta “pré-programada” à detecção de substâncias químicas emitidas pelas formigas mortas. Se esses compostos forem depositados em folhas ou pedras, as formigas os tratam como cadáveres.
No entanto, o conceito de morte provavelmente é “onipresente na natureza”, segundo a filósofa. Ela cita como prova o fato de muitas espécies (cobras, patos, gafanhotos, etc.) praticarem a “tanatose”, ou seja, fingirem-se de mortos para enganar um predador.
Nos gambás, o processo chega a extremos: suas línguas ficam azuis, sua temperatura corporal cai drasticamente e seus corpos exalam odores pútridos... “Para explicar a tanatose de uma perspectiva evolutiva, devemos postular que os predadores enganados têm um conceito de morte”, enfatiza Susana Monsó. E, portanto, que nós, bípedes, não somos os únicos a compreender as implicações disso.
Leia mais
- Greve de fome e silêncio: também existe tristeza e luto no reino animal
- O último abraço: a vida emocional dos animais. Artigo de Roberto Marchesini
- Animais conscientes: são ou não são?
- A importância do luto. Revista IHU On-Line, nº 279.
- Os animais corrigem a teologia
- Que lugar os cristãos dão aos animais?
- “Na Idade Média, os animais serviam para evangelizar os homens”. Entrevista com Éric Baratay
- De Francisco de Assis ao Papa Francisco, um outro olhar sobre os animais