De mãos levantadas. Artigo de Raniero La Valle

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23 Outubro 2025

"Não é garantido que nessa conjuntura possa se manter a democracia nos Estados Unidos, mas temos esperança de que se mantenha a ideia de Trump de que a guerra é "estúpida" e "inglória" e a ideia de que, se não for possível chegar ao ponto de "fazer amor e não a guerra", já seria alguma coisa fazer negócios e não a guerra."

O artigo é de Raniero La Valle, jornalista e ex-senador italiano, publicado em Prima Loro, 20-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini

Eis o artigo. 

O simulacro de paz imposto por Trump em Gaza em meio aos hosanas de seus cortesãos, todos homens e uma mulher, já foi quebrado duas vezes: a primeira por Netanyahu, que deu a ordem de fechar todas as passagens por onde centenas de caminhões que transportavam alimentos e ajuda médica deveriam passar, a fim de continuar o genocídio por outros meios, e desta vez com a aprovação das ruas de Tel Aviv; a segunda vez, a paz foi quebrada pelas IDF, que retomaram os bombardeios em resposta a uma inexistente violação do cessar-fogo pelo Hamas, provocada por bandos armados pelo próprio Israel.

Parece que Netanyahu não consegue largar a presa que perseguiu com tanta tenacidade e quer levar sua guerra até o fim, até o pôr do sol; e isso parece corresponder à sua má interpretação da Bíblia, em uma passagem crítica, infelizmente também proclamada na liturgia da missa católica justamente do último domingo: o capítulo 17 do livro do Êxodo relata, como prova da eficácia da oração, que na guerra épica contra o inimigo histórico de Israel, os amalequitas, Moisés sentou-se sobre uma rocha, levantando as mãos. Aarão e Hur as sustentaram para o céu, um de um lado e o outro do outro, até o pôr do sol e quando as mãos de Moisés estavam levantadas, Israel vencia; e quando ele as abaixava, perdia. Assim, Josué, que comandava o exército, passou o povo de Amaleque ao fio da espada.

Essa passagem da Bíblia seria apenas edificante, como a Igreja incautamente a interpreta, não fosse o fato de Netanyahu ter se apresentado identificando-se com Moisés à conquista da Terra Prometida, diante de todas as nações reunidas na Assembleia da ONU em 27 de setembro último.

Felizmente, talvez aquela guerra e o próprio Moisés não tenham existido historicamente, como descritos pelo escritor sagrado sete séculos depois dos eventos narrados, e que para fundar a fé no Deus único de Israel e dos cristãos, são suficientes a fé e a bênção de Abraão, e nele de todos os gentios, que são de "430 anos antes" de Moisés, como diz São Paulo na carta aos Gálatas (Gálatas 3,17) e reiterado pelo Papa Francisco em sua catequese de 11 de agosto de 2021, provocando os protestos de dois rabinos que presidem o diálogo inter-religioso em Jerusalém e Nova York, que foram, no entanto, tranquilizados pelo Vaticano quanto ao reconhecimento cristão da Torá como caminho de salvação para os judeus.

Isso demonstra o perigo de uma leitura fundamentalista das Escrituras, que, se interpretada como epopeia nacional, leva a uma política feita de absolutos, com Netanyahu abençoando e amaldiçoando, com os ministros Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich sustentando suas mãos, e os palestinos como inimigos metafísicos a serem tratados como os amalequitas.

Trump, ainda que tardiamente, percebeu o erro de Netanyahu, que havia virado o mundo inteiro contra ele, e tentou contê-lo, enquanto, na outra frente, tenta impor a Zelensky a mesma obediência pedida do primeiro-ministro israelense, mas Zelensky não a aceita, pois ainda está determinado a obedecer à Europa e à OTAN que o levaram a acreditar que venceria a guerra contra a Rússia.

Mas Trump também está em risco, com milhões de estadunidenses enchendo as ruas e as praças em 2.700 lugares diferentes contra ele, acusando-o de se tornar um rei e recebendo em troca um bombardeio de esterco, ainda que atirado pela Inteligência Artificial (mais artificial do que inteligência). Não é garantido que nessa conjuntura possa se manter a democracia nos Estados Unidos, mas temos esperança de que se mantenha a ideia de Trump de que a guerra é "estúpida" e "inglória" e a ideia de que, se não for possível chegar ao ponto de "fazer amor e não a guerra", já seria alguma coisa fazer negócios e não a guerra.

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