"O discurso de Trump, cheio de mentiras e ilusões, prova a degradação dos EUA". Entrevista com Jeffrey Sachs

Trump discursando na ONU | Foto: Casa Branca

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24 Setembro 2025

Entrevista com o ex-assessor do secretário-geral da ONU, Guterres: Há um ataque contínuo à ordem internacional. A UE precisa intervir e parar de beijar o anel de Washington.

A entrevista é de Paolo Mastrolilli, publicada por La Repubblica, 24-09-2025.

O mundo precisa parar de se enganar: Trump está tirando os Estados Unidos da ordem internacional criada após a Segunda Guerra Mundial. O restante da comunidade global precisa se unir urgentemente para se manter viva mesmo sem os Estados Unidos. A essa acusação, o economista da Universidade de Columbia, Jeffrey Sachs, ex-assessor do secretário-geral da ONU, António Guterres, acrescenta um alerta especial dirigido a nós: a Europa precisa tomar a decisão mais importante: se continua implorando pela bênção de uma Casa Branca que a detesta ou se lidera a alternativa.

Eis a entrevista.

Como você avalia o discurso do presidente?

Uma vergonha tremenda para os EUA, cheia de falsidades e ilusões. Demonstra o quão instável é o cenário político americano.

Que falsidades?

Quase todos os parágrafos estavam cheios de mentiras, deturpações, exageros ou delírios. Continham megalomania, vulgaridade e humilhações de todos os outros governos. Era uma representação autêntica de sua visão de mundo.

Vamos prosseguir por tema, começando pelas mudanças climáticas.

Ele é um idoso completamente ignorante e corrupto. Não sabe nada sobre clima ou sistemas energéticos. Não tenho dúvidas de que ele recebe apoio financeiro da indústria petrolífera, mas cada palavra que ele disse era falsa, e isso é facilmente demonstrável.

Ele disse que a imigração está nos mandando para o inferno.

Ele é casado com uma imigrante, e sua mãe também era uma, como todos nós, americanos. Ele fez um discurso nacionalista e racista. A questão da imigração e das fronteiras é séria, mas a forma como ele a aborda é um apelo à vulgaridade, à falsidade e à degradação da dignidade humana. É isso que vivenciamos a cada hora nos EUA: a degradação completa da política americana. Vocês precisam parar de se ajoelhar diante das imposições dele, como a Europa fez.

Por que ele odeia tanto o Velho Continente?

Ele odeia todo mundo, não leve isso para o lado pessoal. É uma manifestação da insegurança dele. Trump não tem amigos, só vassalos que beijam o anel.

Depois de ceder nas tarifas, a Europa ainda poderá se recuperar?

Claro. A Europa interpretou mal os últimos 25 anos, tornando-se vassala dos EUA. Líder após líder, vocês se preocuparam apenas em agradar o presidente americano. Agora, vocês enfrentam o colapso político dos EUA, uma crise de malevolência e ignorância, onde não é do seu interesse beijar o anel.

Não reconhecerá a Palestina porque seria um presente ao Hamas.

Os EUA são cúmplices de genocídio. Trump é um criminoso de guerra no sentido literal da palavra, porque está auxiliando o assassinato em massa do povo palestino. A Comissão de Direitos Humanos da ONU demonstrou isso na semana passada.

Sobre a guerra na Ucrânia?

Isso terminará quando a OTAN deixar claro que não tem intenção ou interesse em se expandir para Kiev.

Este é o fim da ordem internacional e do multilateralismo?

Não, porque os EUA são apenas um dos 193 membros da ONU, com 4,1% da população mundial e talvez 14% do PIB global. Eles não podem destruir a organização dos outros 192 países. Os EUA estão passando por uma crise profunda que se estenderá por anos, mas isso não deve impedir outros de resolver os problemas cruciais do planeta. No entanto, muito terá que ser feito sem os EUA, ou apesar dos EUA. Eles podem até deixar a ONU, mas seu trabalho continua mais essencial do que nunca e deve ser levado adiante mesmo sem Washington.

Então o resto do mundo precisa entender isso e se preparar?

Exatamente, e a decisão crucial cabe à Europa. Os outros estão avançando, enquanto a Europa continua correndo para a Casa Branca para obter permissão para tudo. É patético, a Europa tem que mudar.

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