"Se Trump se distrair, a trégua em Gaza não será mantida". Entrevista com Nasser al-Qudwa

Foto: Wikimedia Commons | The White House

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15 Outubro 2025

Nasser al-Qudwa é sobrinho de Yasser Arafat e ex-ministro das Relações Exteriores da Palestina. Seu nome está entre os candidatos ao governo de transição na Faixa de Gaza. "É absurdo, no entanto, que os palestinos estejam sob proteção internacional. E o Hamas precisa mudar."

A entrevista é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 15-10-2025.

Não é Israel quem decidirá se haverá uma segunda fase do acordo, mas uma pessoa chamada Donald Trump. Se ele permanecer envolvido e determinado na implementação do plano, isso acontecerá. Se, por qualquer motivo, ele não o fizer, nos encontraremos em apuros. Nasser al-Qudwa vem da escola dos pragmáticos: em vez de discutir grandes esquemas, ele está acostumado a ser concreto. Sobrinho de Yasser Arafat, nascido na Cidade de Gaza há 72 anos, al-Qudwa representou a OLP nas Nações Unidas de 1991 a 2005 e serviu como Ministro das Relações Exteriores. Ele foi recentemente readmitido no conselho de governo do Fatah. Seu nome está circulando entre os possíveis candidatos para o governo de transição de tecnocratas que deve governar Gaza.

Eis a entrevista.

O senhor estará na próxima administração da Faixa?

Nada oficial ainda. Se me pedirem, aceito, por senso de responsabilidade. No entanto, não gosto do termo tecnocrata.

Por que?

É importante escolher os membros com base na competência, não na filiação política. Mas se alguém for politicamente ativo e competente, tudo bem.

A julgar pelo que está acontecendo em Gaza, a trégua já parece estar vacilando.

Vamos ver como vai a segunda fase, que é muito mais complexa que a primeira. O problema é que não há clareza e unidade.

A que se refere?

Não existe um centro palestino; há uma situação na Cisjordânia e outra em Gaza. Mesmo entre os países árabes, não parece haver confiança mútua, talvez devido à ausência de um 'mestre' palestino para comandar a situação.

Como você avalia o Plano Trump?

É difícil definir, mas está em pauta, é a realidade atual, gostemos ou não. Ela lista uma série de princípios, digamos 20, mas faltam muitos detalhes fundamentais.

Qual?

Não está claro sobre o futuro do Hamas, a governança da Faixa de Gaza e a segurança. E, acima de tudo, sobre o futuro político da Palestina, ou seja, a solução de dois Estados.

Em termos de governança, indica um governo de transição supervisionado por um “conselho de paz” liderado por Trump e com Tony Blair.

Colocar o povo palestino sob proteção internacional ou restabelecer algum tipo de Mandato Britânico é absurdo. Nada pode ser construído sem os palestinos; precisamos dialogar. Mas não podemos conversar com o Hamas sem antes passar por uma transformação política. Simplesmente dizer: "Não faremos parte do governo de Gaza" não é suficiente.

Mudar como?

Seu controle sobre Gaza — política, administrativa e securitária — deve acabar. Quanto às armas, não gosto do termo 'desarmamento' porque evoca episódios dolorosos da nossa história.

Qual?

Toda vez que nos desarmamos, massacres ocorreram. É melhor dizer que as armas devem ser colocadas sob o controle de uma entidade oficial. No entanto, o que Israel está exigindo — desarmamento e exílio — é ridículo.

O Hamas diz que são vocês na AP que não falam com eles.

E eu respondo: Quem quer falar com você? Quem quiser é um perdedor político. Eles também devem tomar medidas na direção certa e parar de agir ilegalmente.

Você está realmente convencido de que o Hamas está pronto para reformas? E que isso basta para Israel negociar diretamente?

Não será fácil, mas temos que trabalhar para isso. Não cabe aos israelenses decidir.

Seu tio Arafat teria gostado do Plano Trump?

Arafat foi um líder histórico; ele teria agido de forma diferente. Mas a situação mudou, e precisamos enfrentá-la como ela é.

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