A Cisjordânia está se tornando cada vez mais um barril de pólvora: terras anexadas às colônias e ataques diários. Artigo de Nello Scavo

Foto: UNRWA

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22 Outubro 2025

"Fora de Gaza, há outra guerra, não declarada, mas travada todos os dias e todas as noites para conquistar dunum após dunum um novo pedaço da Cisjordânia", escreve Nello Scavo, repórter internacional, em artigo publicado por Avvenire, 16-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

A guerra arcaica dos dunums é travada com pás e paus, sob a ameaça de armas de fogo. Um dunum: mil metros quadrados. A ocupação, dia após dia, passou a controlar 3,4 milhões de metros quadrados, 60% da Palestina fora de Gaza. "É a Bíblia que diz isso", ouvimos os colonos gritarem repetidamente enquanto espancam palestinos culpados de se rebelarem contra a vontade dos textos sagrados. "A terra é nossa, nos foi dada", repetem em um mantra violento e obsessivo os jovens incitados pelas organizações messiânicas. Depois da terra, as oliveiras. Depois do gado, as casas. Depois das casas, as pessoas. Fora de Gaza, há outra guerra, não declarada, mas travada todos os dias e todas as noites para conquistar dunum após dunum um novo pedaço da Cisjordânia. Na noite de terça-feira, em Beit Ur al-Fawqa, a oeste de Ramallah, colonos imobilizaram e sequestraram quatro moradores palestinos. Primeiro, tentaram arrastá-los para perto do posto avançado construído em terras palestinas em Wadi Suleiman. Fontes locais, consistentes com depoimentos de ativistas estrangeiros e israelenses, confirmaram que, no momento da rebelião dos outros moradores, as forças de ocupação intervieram e protegeram os agressores. Dois dos moradores sequestrados, Khaled Munif Samara e Muhammad Ibrahim Samara, foram presos por resistirem com violência física.

Durante os dois anos de conflito na Faixa, a presença de colonos israelenses na Cisjordânia ultrapassou 800.000 pessoas, de um total de pouco menos de 3 milhões de palestinos. E os boletins diários oferecem pouca esperança de uma trégua duradoura, mesmo fora de Gaza. Os ataques são diários e têm um forte significado simbólico, visto que nos últimos meses se concentraram nas áreas ao redor de Ramallah, a capital política da Cisjordânia. Uma forma de zombar da autoridade nacional palestina e, ao mesmo tempo, desacreditá-la por ser impotente diante dos abusos.

Não importa se são extensões cheias de pedregulhos e áridas, campos férteis ou áreas desérticas. É "terra sagrada", prometida e, portanto, a ser reivindicada. E nenhum dos conquistadores em off-road e metralhadoras percebe sua ilegalidade, se também têm ministros colonos ao seu lado, como o Ministro da Segurança Nacional, Ben-Gvir, e o Ministro das Finanças, Smotrich. Eles lutam por alguns torrões de terra, às vezes por vinte árvores. E atiram, sabendo que não serão processados, como o colono que, em agosto, atirou e matou Aysen Safadi, uma das ativistas retratadas no filme vencedor do Oscar "No other land".

Os ataques são conduzidos usando métodos típicos do terrorismo. Em Kisan, não muito longe de Belém, uma equipe de colonos primeiro destruiu um pequeno olival e, em seguida, agrediu alguns moradores acampados para proteger as terras agrícolas. As tendas foram incendiadas e, em seguida, invadiram a pequena escola, assustando as crianças e afugentando as famílias, cujas terras então ocuparam. Pouco depois, as forças israelenses chegaram, protegendo os colonos que haviam se assentado na área e deixando os palestinos sem terras. Os protestos da Autoridade Nacional Palestina são basicamente inúteis. Agora, quase deixou de tornar públicos seus protestos oficiais, porque cada um deles acaba confirmando sua substancial falta de influência. A lei do dunum é escrita por apenas um lado e tem a força de um decreto. Ontem, outro foi emitido. "As autoridades de ocupação israelenses", escreve a agência de notícias palestina Wafa, "emitiram duas ordens militares para tomar aproximadamente 25 dunums de terra pertencentes a residentes palestinos na província de Qalqilia". Essa é a área onde terrenos do tamanho de quatro campos de futebol foram identificados para a construção de novos apartamentos necessários para o crescente número de israelenses que pretendem se estabelecer ali.

O episódio mais recente ocorreu há dois dias: alguns colonos sitiaram e tomaram um prédio e uma fazenda onde moravam uma mulher e uma criança em idade escolar. Quando um pequeno grupo de vizinhos se rebelou, os soldados israelenses, atraídos pela confusão, prenderam várias pessoas por exagerarem na autodefesa. Quando mãe e filho voltaram para casa, encontraram seus novos donos esperando por eles. Roupas e cadernos jogados na rua. A mulher e a criança os pegaram e, tristes, partiram para a casa de outros parentes. "Quando eu crescer, vou mandá-los embora", jurou a criança à mãe em prantos. Onde revanche e vingança marcam encontros, perpetuando a guerra que não se vê.

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