Na COP30, agricultura precisará incluir natureza no sistema produtivo

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22 Outubro 2025

Futuro da produção de alimentos está na criação de paisagens mais resilientes e ambientalmente eficientes, e na recuperação de áreas de vegetação nativa, destaca o diretor-executivo do IPAM.

A informação é enviada pela assessoria de comunicação do IPAM, 20-10-2025. 

Unir o aumento da produção de alimentos, necessário para garantir a segurança alimentar de uma população mundial que se aproxima dos 8 bilhões, com a redução da área destinada ao cultivo e à pecuária, será um dos principais desafios da agricultura global na COP30, que ocorre em Belém entre os dias 10 e 21 de novembro. Atualmente, o setor é responsável por cerca de 20% das emissões globais de gases de efeito estufa e figura entre os principais motores do desmatamento nas regiões tropicais. Ao mesmo tempo, enfrenta safras cada vez mais imprevisíveis em razão do desequilíbrio climático, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

“A agricultura é um setor que sofre riscos, é fundamental para a humanidade e precisará se reinventar, trazendo a natureza para dentro do sistema produtivo. Hoje, o modelo vigente exclui a natureza e desmata para plantar, mas o futuro certamente não será nesse formato. Precisamos pensar em arranjos de paisagem que permitam uma maior resiliência para a agricultura do futuro”, destaca André Guimarães, diretor-executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e enviado especial da sociedade civil para a COP30.

De acordo com dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), a agropecuária foi diretamente responsável pela emissão de 631 milhões de toneladas de CO₂ em 2023, o equivalente a 27% das emissões brasileiras no período. Já as mudanças no uso da terra, frequentemente associadas à abertura de novas áreas para pastagens ou lavouras, responderam por 1 bilhão de toneladas no mesmo ano, liderando a lista de fontes emissoras de gases de efeito estufa no país.

“A agricultura é um setor importante no contexto das emissões e precisa ser trabalhado. Por conta do desmatamento e de técnicas desatualizadas, o tema se tornou um desafio a ser resolvido”, reforça André. “O fato de a COP acontecer em uma floresta tropical, como a Amazônia, e em um país essencialmente agrícola, dá ainda mais relevância a essa discussão. É uma oportunidade para refletirmos, de forma madura, sobre como transformar o atual cenário das mudanças climáticas em um debate construtivo sobre como produzir mais alimentos para uma população crescente, utilizando cada vez menos área”.

Protegendo contra o desmatamento legal

Em carta publicada na revista Nature no início da semana passada, André Guimarães e Paulo Moutinho, pesquisador-sênior do IPAM, defendem uma série de medidas para ampliar as áreas protegidas na Floresta Amazônica. Entre as iniciativas destacadas estão o investimento em assistência técnica para pequenos agricultores amazônicos — que ocupam cerca de 20 milhões de hectares — e o apoio a projetos como o Conserv, que remunera produtores pela proteção de áreas que poderiam ser legalmente desmatadas, uma área que pode chegar em 10 milhões de hectares apenas na Amazônia.

“Um dos principais desafios da agenda climática dos próximos anos é justamente reverter o processo de desmatamento, recuperando e conservando florestas — e fazer isso com mais produção. Esse é um desafio ecológico, ambiental e também econômico, porque exige investimento em tecnologia e em recuperação florestal. Parte do desafio climático do planeta é incluir a natureza no sistema produtivo e encontrar formas de financiar a regeneração da vegetação nativa”, comenta André.

Desenvolvido pelo IPAM em parceria com o Woodwell Climate Research Center e com o EDF (Environmental Defense Fund), o Conserv já firmou 23 contratos no estado de Mato Grosso, no Pará e no Maranhão, somando mais de 20 mil hectares de vegetação protegida. O programa evitou a emissão de cerca de 2 milhões de toneladas de CO₂ e garantiu o estoque de mais de 600 mil toneladas de carbono. Após cinco anos de implementação, o projeto também constatou que, mesmo após o encerramento dos pagamentos, proprietários e empresas continuam protegendo seus excedentes de vegetação nativa.

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