10 Outubro 2025
Os sinais encorajadores vindos dos negociadores em Sharm el-Sheikh lançam uma luz diferente sobre a carnificina diária na Faixa de Gaza. A possibilidade de uma trégua, e mesmo o início de um frágil processo de paz, "colorem" a morte, se possível, com tonalidades ainda mais irônicas e cruéis, tornam incompreensível a persistência dos bombardeios israelenses, como se os últimos números na lista de dezenas de milhares de mortos fossem a consequência final e aceitável da imensa tragédia.
A informação é de Luca Foschi, publicada por Avvenire, 09-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
De acordo com a Assessoria de Imprensa do governo de Gaza controlado pelo Hamas, entre sábado e ontem houve 230 incursões aéreas ao enclave. Seriam 118 as pessoas mortas nos últimos cinco dias (oito ontem), 72 delas na Cidade de Gaza, o centro das operações. Esses números se somam ao total de 67.183 mortos e 169.841 feridos em dois anos de conflito. "A ocupação israelense ignora os apelos por um cessar-fogo do presidente estadunidense Trump e a resposta positiva à sua proposta", afirma um comunicado divulgado ontem pelo movimento islamista.
"Em Gaza, a morte está em toda parte. Não é apenas uma sensação, mas algo tangível. A morte espreita, paira, atinge a todos", relatou Claire Magone, diretora executiva da filial francesa dos Médicos Sem Fronteiras, que retornou recentemente de uma visita de uma semana à Faixa de Gaza.
"O exército israelense está levando adiante uma estratégia de estrangulamento, atacando, por exemplo, os caminhões-tanque, mesmo aqueles claramente identificáveis como os nossos. Está bloqueando todos os serviços vitais", ressalta Magone. Como a ONU alertou no final de agosto, a fome está se espalhando rapidamente da província do norte, que inclui a Cidade de Gaza, para as "áreas seguras" do sul: "Meses sem alimentação adequada causaram danos permanentes ao crescimento e desenvolvimento das crianças. Desde sábado, pelo menos 14 foram mortas. A necessidade de um cessar-fogo não poderia ser mais urgente", declarou Catherine Russell, diretora executiva da UNICEF.
Na tabela de 1.227 páginas publicada na segunda-feira pelo Ministério da Saúde de Gaza, que lista todos os mortos pela guerra em uma ordem progressiva por idade, é preciso percorrer 11 páginas e 486 nomes para chegar à primeira vítima com pelo menos seis meses, e outras 387 páginas e 17.121 nomes para encontrar o primeiro maior de idade. Em 700 dias de guerra, "64.000 crianças foram mortas ou mutiladas na Faixa de Gaza. Os ataques israelenses continuam; o mundo não pode e não deve permitir que isso continue", alertou Russell. Mensagens peremptórias aos negociadores de Sharm el-Sheikh também chegam da Cisjordânia. Milhares de pessoas participaram ontem da "Marcha pela Soberania", liderada pelos Ministros Bezalel Smotrich e Gila Gamliel em Sebastia, um vilarejo no distrito de Nablus que está há meio século no projeto de conquista do sionismo religioso radical. "Os próximos 50 anos serão em nome da soberania", prometeu Smotrich. "Soberania na Judeia e Samaria este ano", reiterou Gamliel.
Da periferia ao coração do empreendimento colonial: ao mesmo tempo, o Ministro da Segurança, Itamar Ben-Gvir, passeou pela décima primeira vez no Monte do Templo de Jerusalém, o terceiro local mais sagrado do Islã.
A poucos passos da cúpula dourada da Mesquita de Al-Aqsa, Ben-Gvir rezou pela "vitória na guerra, pela destruição do Hamas e pelo retorno dos reféns”.
A Arábia Saudita reagiu com indignação, apelando à comunidade internacional para "responsabilizar as autoridades de ocupação israelenses por suas perigosas violações contra os locais sagrados".
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