08 Outubro 2025
Os barcos estavam em águas internacionais a cerca de 160 quilômetros de Gaza, perto das águas territoriais egípcias. O Conscience, o navio almirante, foi alcançado por um helicóptero que trouxe uma equipe de invasores a bordo.
A reportagem é de Alessia Candito, publicada por La Repubblica, 08-10-2025.
Primeiro os drones, um enxame cada vez mais denso que começou a sobrevoar o navio almirante da “segunda vaga”, o Conscience, da Freedom Flotilla Coalition, e depois sobre os oito veleiros que o escoltavam, montados pela associação ThounsandMadleens.
Então, o ataque propriamente dito começou, com invasores israelenses armados abordando, destruindo câmeras com metralhadoras e parando — novamente — aqueles que se aproximavam de Gaza para entregar ajuda. Pela segunda vez, uma frota humanitária foi atacada, abordada e bloqueada por Israel em águas internacionais enquanto se dirigia à Faixa de Gaza.
Para o Ministério das Relações Exteriores de Israel, que imediatamente assumiu a responsabilidade pela operação, foi "outra tentativa fútil" de violar o bloqueio naval que o Estado judeu alega ser "legítimo" e entrar no que é definido como uma "zona de combate", apesar do fato de a operação ter ocorrido perto das águas territoriais egípcias, ao sul de Damietta.
“Os barcos e passageiros foram transferidos para um porto israelense”, escreveu o ministro nas redes sociais. “Todos os passageiros estão bem e em segurança. A previsão é de que sejam expulsos em breve”, acrescentou.
Dez italianos a bordo. Tajani: "Estamos monitorando a situação." Scotto: "É um padrão que se repete."
Entre o Conscience as oito velas do ThousandMadleens estão cerca de dez italianos. "A embaixada e o consulado italianos em Tel Aviv monitoram o bloqueio da nova flotilha pela Marinha israelense desde o amanhecer", escreveu o Ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, nas redes sociais. "Uma dúzia de italianos foram detidos. Eles receberão toda a assistência consular necessária, com um pedido ao governo israelense para garantir o respeito aos seus direitos individuais até a sua expulsão. A unidade de crise da Farnesina também está trabalhando."
O deputado Arturo Scotto, que foi interceptado há uma semana e levado contra sua vontade para Israel após o embarque no navio Karma, parte da Flotilha Global Sumud, interveio imediatamente. "Menos de uma semana depois, o mesmo cenário que vivenciamos em primeira mão está se repetindo", ataca Scotto. "Navios que transportavam ajuda humanitária para Gaza — desta vez carregados de remédios e suprimentos médicos — estão bloqueados em águas internacionais sem respeito à lei. Mais uma vez, os governos não se mexeram para abrir o corredor marítimo humanitário, fechado desde 2007. Exigimos a libertação imediata de todos os ativistas, começando pelos italianos a bordo. Os holofotes não podem ser desligados de Gaza e sua tragédia."
🆘The Conscience Boat and Thousand Madleens to Gaza — part of the Freedom Flotilla Coalition — have just been intercepted!
— Global Sumud Flotilla (@GlobalSumud) October 8, 2025
Please share! Please keep your eyes on the Flotilla! pic.twitter.com/6AR1a5djoE
Interceptado perto de águas egípcias
A operação começou por volta das 4h30, na calada da noite, quando os barcos estavam a aproximadamente 160 quilômetros da Faixa de Gaza, ao largo de Port Said, Egito, mas o alarme a bordo já estava soado há horas. Os primeiros a serem interceptados foram os veleiros, seguidos pelo Conscience, a antiga balsa convertida em uma espécie de navio-hospital com 120 pessoas a bordo, incluindo mais de 90 médicos, enfermeiros, socorristas e jornalistas.
As imagens mais recentes mostram um invasor israelense — de capacete e óculos de visão noturna — vendo a câmera e, em seguida, destruindo-a com tiros de metralhadora. "Nosso navio foi atacado por um helicóptero militar", dizem da sala de controle em solo.
O assalto do céu e do mar
Dos outros barcos, os vídeos que as tripulações conseguiram gravar e enviar antes que os bloqueadores desligassem todas as comunicações mostram os Zodiacs, os rápidos barcos infláveis, carregados de soldados, ao lado dos veleiros. "Pelo menos oito navios militares estão nos abordando", foi a última comunicação antes que a nova flotilha também fosse apagada. "Eles foram atacados em águas internacionais, mais uma vez um ataque pirata", diz Michele Borgia, da Flotilha da Liberdade Itália.
Esperávamos que houvesse, pela primeira vez, mais compreensão em relação ao navio Conscience, visto que transporta profissionais médicos e 18 toneladas de suprimentos médicos, mas não houve nenhuma." A missão foi inteiramente pacífica; foi até decidido não chegar à área crítica em 7 de outubro para evitar que alguém interpretasse isso como uma provocação. "Queremos romper o bloqueio, mas politicamente, não pela força", enfatiza Borgia.
O alarme da meia-noite
Poucas horas antes, a mensagem dizia: "Há drones por toda parte aqui, tememos que possam ser interceptados em breve. Este pode ser o último vídeo que enviaremos daqui. Médicos, nós só transportamos médicos, por que isso também está sendo bloqueado?" Eram pouco mais de 23h30, horário da Itália, quando Vincenzo Fullone, porta-voz da "segunda onda" na Itália, deu o alarme.
"Emitimos um alerta geral", disse ele, em desespero, em lágrimas. Não por medo. Não por raiva. Mas, como Gaza estava perto, precisava dos médicos e remédios que o navio transportava, mas, mais uma vez, um navio carregado de ajuda humanitária foi parado a poucos passos de distância.
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