20 Setembro 2025
Ele foi um ambientalista ante litteram, o primeiro a argumentar que os seres humanos não dominam a Criação.
São Francisco continua a exercer um fascínio que o torna popular mesmo entre os não crentes. "Ele foi um precursor em muitos aspectos", afirma André Vauchez, professor de História Medieval e autor de Francisco de Assis, publicado pela Einaudi. E, em vista do 800º aniversário de sua morte no próximo ano, a onda franciscana está varrendo o mundo editorial com os livros recentemente lançados por Aldo Cazzullo (Francisco, o Primeiro Italiano, HarperCollins) e Alessandro Barbero (São Francisco, Laterza). Um livro de Roberto Benigni foi anunciado para 2026 pela Einaudi Stile Libero.
A entrevista é de Raffaella De Santis, publicada por Repubblica, 17-09-2025.
Eis a entrevista.
Professor, por que a figura de São Francisco atrai tantas pessoas de origens tão diferentes?
Eu começaria com a história de Francisco. É uma história que contém muitos elementos interessantes. Estamos na Idade Média. Francisco pertencia a uma classe burguesa, filho de um rico comerciante têxtil, e fazia parte da juventude dourada de Assis. Era um jovem alegre, brincalhão e brilhante. Em certo momento, porém, aquele rapaz despreocupado começou a fazer perguntas. Participou do conflito entre Perugia e Assis e acabou preso por um ano. Depois dessa experiência, começou a experimentar uma vida solitária, um pouco como um eremita, distanciando-se do mundo do pai, e foi viver na floresta.
Será que é sua vida em contato com a natureza, conversando com os animais, que o torna quase um precursor do ambientalismo moderno?
Francisco é um precursor do pensamento ecológico. Ele foi o primeiro no Ocidente a enfatizar que a natureza não está sujeita ao homem e que o homem não é o senhor da criação, mas deve respeitar sua autonomia. Esse conceito é tão oportuno que inspirou a encíclica Laudato si' do Papa Francisco, que cita o Cântico das Criaturas em seu título. Foi um texto original em muitos aspectos: não apenas porque fala da criação de uma maneira nova, mas também porque o faz em italiano, a língua do povo, e não em latim, a língua do clero.
O outro fator de divisão foi a pobreza como escolha de estilo de vida.
Francisco também foi revolucionário nisso: não pregou a pobreza, mas a viveu na prática, mendigando, vivendo sem dinheiro. Essa atenção aos pobres explica o sucesso do franciscanismo na América do Sul. Considere o teólogo franciscano Leonardo Boff, um dos principais expoentes da teologia da libertação, sempre na vanguarda do apoio aos movimentos camponeses oprimidos.
A escolha do nome Francisco por Bergoglio também foi perturbadora por esses motivos?
Certamente. Boff era amigo íntimo do Papa Bergoglio. A amizade entre os dois continuou mesmo depois que Boff deixou o sacerdócio.
A figura de São Francisco sempre teve a mesma recepção ao longo dos séculos?
Ele foi criticado por muito tempo. Lutero escreveu um tratado furioso contra os franciscanos, e o Iluminismo atacou o regime pauperista, que não contemplava o trabalho. As coisas só mudaram no século XIX, quando Francisco foi revivido pelo Romantismo, que recolocou o homem no centro da natureza.
E quanto ao sucesso editorial, essa produção abundante de livros sobre São Francisco é algo recente?
O primeiro best-seller sobre Francisco foi escrito em 1893 por Paul Sabatier, um pastor protestante interessado em história religiosa. Intitulava-se "Vida de São Francisco de Assis" e foi traduzido para todos os idiomas, alcançando 33 edições em trinta anos. Foi um sucesso incrível. O prefácio da edição russa foi assinado por Tolstói. A partir daquele momento, Francisco tornou-se um livro de todos, não apenas dos católicos. Uma figura fundamental na cultura europeia e mundial.
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