17 Setembro 2025
"Estamos diante de um novo genocídio. Uma população inteira está morrendo. E a pergunta que fica: até quando?", escreve o Pe. Fabiano Glaser dos Santos, doutor em Teologia, presbítero da Arquidiocese de Porto Alegre, publicado por jornal Nova Folha, 29-08-2025.
Eis o artigo.
Tempos atrás eu estava assistindo um documentário sobre a Segunda Guerra Mundial, e cada vez que assisto qualquer documentário sobre esse tema, fico horrorizado com as imagens dos campos de concentração, que eram verdadeiros “matadouros” de judeus, constituídos para levar a cabo o plano de genocídio do povo judaico concebido por Adolf Hitler. Olhando as imagens das pessoas esquálidas, verdadeiros zumbis, alimentados por uma ração diária de sopa e pão, fico me perguntando como pode seres humanos tratarem outros seres humanos dessa forma. “Que bom que são imagens do passado”, penso comigo...até que olho as notícias de agora, ano 2025, e o que vejo: pessoas de uma mesma etnia morrendo de fome, esquálidas, brigando entre si por uma porção de alimento.
"Há fome generalizada em Gaza, em pleno no século 21. Uma fome que se desenvolve sob o olhar de drones e da tecnologia mais moderna. Uma fome promovida abertamente por alguns líderes israelenses como uma arma de guerra. A fome de Gaza é inegável, algo que se desenvolveu sob o nosso olhar e deve nos assombrar. É uma fome causada pela crueldade, justificada com vingança, habilitada pela indiferença e sustentada pela conivência.", afirmou o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher. Sim, a ONU declarou que existe uma fome generalizada na Faixa de Gaza, ou, traduzindo, os palestinos estão morrendo de fome.
Desde 2023 acompanhamos o acirramento do conflito entre Israel e o Hamas a partir da invasão do território israelense pelo grupo terrorista palestino. Com certeza, o ato do Hamas é condenável, pois muitos civis inocentes foram brutalmente assassinados, e outros tantos feitos reféns. Contudo, o que vimos logo após foi o início de uma série de bombardeios, intermináveis, contra a Faixa de Gaza. Desde, 61 mil palestinos já foram mortos pelos bombardeios e incursões do exército israelense na Faixa de Gaza, e, nos últimos meses, a proibição de Benjamin Netanyahu de que entre em Gaza ajuda humanitária: alimentação, medicamentos, água.
Pois bem, se a ajuda humanitária não está sendo autorizada a entrar em Gaza, ou seja, se o povo não está recebendo comida nem água devido a uma proibição do premier israelense, então podemos pensar que ele quer que o povo em Gaza passe por privação de água e comida: estaríamos então, diante de uma ação genocida, ou seja, uma ação deliberada para extermínio de um povo. A declaração da ONU de que há fome generalizada em Gaza me faz crer que sim.
No ano que celebramos os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, em que tivemos os horrorosos campos de concentração, estamos diante de um novo genocídio. O que aprendemos enquanto humanidade com os horrores da segunda guerra? Como nos enxergamos? É possível tolerar, em pleno século XXI, que uma população inteira seja exterminada deliberadamente por questões políticas e econômicas? Com certeza não podemos tolerar isso. É uma questão que toca homens e mulheres de qualquer credo religioso, ou até de credo nenhum, que tenham um mínimo de sensibilidade. A população de Israel foi às ruas pedindo que seu governo pare.
Estamos diante de um novo genocídio. Uma população inteira está morrendo. E a pergunta que fica: até quando?
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