29 Agosto 2025
"A nomeação de Moore Jr. para liderar a Fundação Humanitária de Gaza pode, portanto, ser vista como mais uma confirmação da crescente influência do sionismo cristão e da direita religiosa estadunidense para além das fronteiras EUA, no contexto de uma agenda cada vez mais global e polarizada", escreve Pasquale Annicchino, jurista, pesquisador do departamento de direito da Universidade de Foggia, foi professor de Direito na St. John's Law School, em Nova York, e bolsista de pesquisa no Robert Schuman Center for Advanced Studies na EUI, em artigo publicado por Domani, 27-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
A fundação, apoiada pelos Estados Unidos e Israel, está na mira das críticas de um grupo de especialistas independentes das Nações Unidas que pediram a cessação de suas atividades. Seu presidente é o Rev. Johnnie Moore Jr.
A natureza transnacional do conflito israelense-palestino e a importância simbólica e prática das ideias em jogo são bem representadas por uma instituição cada vez mais importante na Faixa de Gaza, a Fundação Humanitária de Gaza, encarregada de distribuir ajudas alimentares à população palestina.
A fundação, apoiada pelos Estados Unidos e por Israel, caiu recentemente na mira das críticas de um grupo de especialistas independentes das Nações Unidas que, em uma declaração conjunta em 5 de agosto, pediram a cessação de suas atividades porque "o envolvimento da inteligência israelense, contratados estadunidenses e ambíguas entidades não governamentais ressalta a necessidade urgente de um sólido controle internacional e ação sob a égide das Nações Unidas".
O papel da fundação
O papel central da fundação parece confirmar a influência cada vez mais importante do sionismo cristão, ou seja, a crença teológica segundo a qual o retorno do povo judeu à Terra Santa e a fundação do Estado de Israel constituem o cumprimento de profecias bíblicas.
A substituição dos órgãos das Nações Unidas pela Fundação parece consistente com a visão teológica do sionismo cristão, que vê as Nações Unidas como a precursora ou o embrião de um futuro governo mundial, uma verdadeira infraestrutura política que o Anticristo poderá usar para consolidar seu poder na Terra.
Nessa perspectiva, o Anticristo usará essas instituições para perseguir Israel e os crentes.
A figura do Rev. Johnnie Moore Jr., presidente executivo da Fundação, destaca o crescente papel das ideias do sionismo cristão. Moore Jr. é uma figura proeminente no mundo evangélico EUA, representando a classe dominante que instituições como a Liberty University souberam formar ao longo dos anos.
Essa universidade foi fundada pelo Reverendo Jerry Falwell, uma figura-chave da direita religiosa estadunidense. Foi nessa instituição que Moore Jr. iniciou sua carreira, tornando-se posteriormente um colaborador próximo e assistente de Jerry Falwell. Essa conexão é muito importante para a compreensão do perfil ideológico do atual presidente executivo da Fundação Humanitária de Gaza, considerando que a Liberty University representa um bastião do conservadorismo evangélico e do sionismo cristão.
Durante a campanha eleitoral de 2016, Moore Jr. Foi copresidente do conselho dos evangélicos que apoiaram a candidatura presidencial de Donald Trump e, nessa função, foi particularmente influente na decisão dos EUA de reconhecer Jerusalém como a capital do Estado de Israel, o que levou à mudança da sede da embaixada de Tel Aviv. Moore Jr. também ocupou cargos na Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional e, além disso, no mundo das relações públicas. Essa figura parece ser particularmente importante, pois a influência do sionismo cristão frequentemente se traduz em apoio político inabalável ao Estado israelense e, em alguns casos, a causas como os assentamentos dos colonos.
A ascensão de Moore Jr.
Para os sionistas cristãos, esse cumprimento é considerado uma obrigação de natureza divina. A formação e a ascensão de Moore Jr. nesse contexto ideológico são fundamentais para a compreensão de sua obra e de algumas das forças em jogo nesse embate transnacional, que, para alguns atores, assume conotações apocalípticas.
A nomeação de Moore Jr. para liderar a Fundação Humanitária de Gaza pode, portanto, ser vista como mais uma confirmação da crescente influência do sionismo cristão e da direita religiosa estadunidense para além das fronteiras EUA, no contexto de uma agenda cada vez mais global e polarizada.
A esse respeito, é importante ressaltar que, em março passado, durante um encontro na Jordânia com o Rei Abdullah II da Jordânia, o Bispo William Shomali, Vigário Patriarcal para Jerusalém e a Palestina, reiterou a oposição da Igreja Católica a qualquer interpretação que busque identificar um "direito bíblico" de Israel nos territórios em disputa, como promovido pelo sionismo cristão. As ideias, também nesse caso, às vezes têm consequências tão importantes quanto os fatores materiais que influenciam determinadas escolhas políticas.
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