07 Setembro 2013
Enquanto cresce a especulação sobre ataques aéreos ocidentais contra a Síria, um comitê de bispos dos Estados Unidos apelou por uma solução política, e líderes católicos na Europa alertaram que a intervenção militar poderia levar a uma escalada de hostilidades.
A reportagem é do sítio Catholic News Service, 30-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em uma carta ao secretário de Estado dos EUA, John Kerry, o presidente do Comitê Episcopal de Justiça e Paz Internacionais reiterou o que o Papa Francisco e o rei da Jordânia, Abdullah II, disseram no dia 29 de agosto, que "o caminho de diálogo e de negociação entre todos os componentes da sociedade síria, com o apoio da comunidade internacional, é a única opção" para acabar com o conflito na Síria.
O comitê reiterou a sua antiga posição de que "o povo sírio precisa urgentemente de uma solução política que ponha fim à luta e crie um futuro (...) que respeite os direitos religiosos e a liberdade religiosa".
A carta, assinada pelo presidente do comitê, Dom Richard Pates, bispo de Des Moines, Iowa, convoca os EUA a trabalharem com outros governos para buscar as negociações e um cessar-fogo.
Em uma coluna no jornal austríaco Heute, o cardeal de Viena, Christoph Schönborn, disse que "pegar em armas somente pode ser um último recurso".
"Os programas armados anteriores tiveram sucesso na região? E as guerras no Iraque e no Afeganistão trouxeram a paz? Que bem as bombas podem fazer em um país que já está sangrando em mil feridas?", perguntou.
O presidente da Conferência dos Bispos Alemães também criticou os planos para os ataques e disse que o Tribunal Penal Internacional, apoiado pela ONU, deveria ser autorizado a investigar o ataque com armas químicas do dia 21 de agosto em Damasco, Síria.
O chefe da comissão dos bispos alemães para assuntos internacionais da Igreja, Dom Ludwig Schick, arcebispo de Bamberg, disse à agência de notícias católica KNA, no dia 28 de agosto, que uma intervenção armada não pode ser justificada pela doutrina católica, que exige "total certeza do dano confirmado", assim como "uma séria possibilidade de sucesso" e a capacidade de evitar "danos piores do que aqueles que devem ser eliminados".
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse estar convencido de que o governo sírio realizou o ataque, mas o governo do presidente sírio, Bashar Assad, culpou os rebeldes que têm combatido o governo desde 2011.
"Trata-se de armas de destruição em massa, cujo uso é proibido pelo direito internacional. Se o crime de Damasco permanecer sem resposta, então um componente importante do direito internacional ficará sob pressão, com consequências potencialmente devastadoras para a segurança internacional", disse Dom Robert Zollitsch, presidente dos bispos alemães, no dia 28 de agosto.
Ele acrescentou que "o objetivo da ação militar deve ser definido, e é preciso perguntar se um ataque militar não pode levar a uma escalada involuntária das hostilidades".
No dia 29 de agosto, o Parlamento britânico votou contra o envolvimento nos ataques.
No entanto, o presidente francês, François Hollande, disse que a votação não tinha alterado a determinação do seu país de agir, enquanto o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, disse que Washington vai continuar buscando uma coalizão para possíveis ataques.
Mais cedo, avisos contra a intervenção militar foram expressados por líderes da Igreja do Oriente Médio, incluindo o arcebispo Fouad Twal, patriarca latino de Jerusalém; o patriarca católico melquita nascido na Síria, Gregoire III Laham; e pelo bispo caldeu Antoine Audo, de Aleppo.
Enquanto isso, o Metropolita Hilarion, de Volokolamsk, chefe das relações ecumênicas da Igreja Ortodoxa Russa, disse que mais vítimas seriam "sacrificadas no altar de uma democracia imaginada" se os ataques ocorreram, e que os cristãos da Síria sofreriam com "forças extremistas radicais que tomem o poder com a ajuda dos Estados Unidos".
Preparados para agir sem a aprovação das Nações Unidas, disse ele, os EUA "desejam decidir o destino de um país inteiro com milhões de habitantes".
A Rússia é um aliado de Assad e tem se oposto vigorosamente contra a intervenção externa no conflito da Síria.
Até o dia 30 de agosto, as Conferências Episcopais da França e da Grã-Bretanha não tinham emitido declarações sobre a intervenção projetada.
No entanto, o chefe da Comunhão Anglicana, o arcebispo Justin Welby, de Canterbury, se pronunciou contra os ataques no debate do Parlamento. Mais cedo, ele disse ao jornal londrino Daily Telegraph que ele acreditava que havia uma "gama de opções entre a passividade e a mudança total de regime" na Síria.
A Conferência das Igrejas Europeias, que representa mais de uma centena de Igrejas não católicas, disse no dia 28 de agosto que o uso de armas químicas era uma "grave e alarmante escalada".
"Rezamos para que qualquer decisão tomada leve em consideração principalmente o bem do povo sírio e não as exigências da política", disse a instituição.
Estima-se que mais de 100 mil pessoas morreram na guerra civil da Síria, e 1,7 milhão ficaram desabrigadas.
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Líderes de Igrejas ocidentais alertam contra intervenção na Síria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU