28 Agosto 2025
A Guiana vai realizar eleições no dia 1° de setembro para renovar o parlamento e definir o novo chefe de Estado. Três candidatos concorrem com chances reais de ocupar a presidência do país.
A reportagem é publicada por RFI, 27-08-2025.
As eleições no país vizinho à Venezuela, que enfrenta uma crise com os Estados Unidos, mostram um equilíbrio entre os três principais candidatos.
Na disputa pelos votos estão o atual presidente Mohamed Irfaan Ali, o líder da oposição Aubrey Norton e o bilionário Azruddin Mohamed. Os três têm chances praticamente iguais e são apontados como favoritos para a eleição presidencial, que vai acontecer na próxima segunda-feira na Guiana.
Apesar de dividirem as opiniões da população, os três têm perfis bem distintos.
Candidato da situação
O atual presidente Irfaan Ali (Partido Progressista do Povo, PPP/C) vem da comunidade muçulmana de origem indiana, que forma majoritariamente a população do país. Filho de um casal de professores, Irfaan Ali nasceu em Leonora, uma vila localizada na margem oeste do Rio Demerara. A capital Georgetown fica na margem leste.
Tendo estudado no Reino Unido e na Jamaica, incluindo um doutorado em planejamento urbano e regional, Ali, de 45 anos, trabalhou em vários departamentos governamentais do país. Ele foi eleito pela primeira vez para o Parlamento em 2006. Em seguida, ocupou cargos ministeriais nos governos de seu partido. Ali foi escolhido pelo secretário-geral do PPP/C e ex-presidente (1999-2011), Bharrat Jagdeo, como candidato presidencial em 2020. Nas eleições daquele ano, venceu David Granger.
Irfaan Ali é o primeiro presidente da Guiana a realmente se beneficiar do boom do petróleo, que é explorado no país desde 2019.
Durante seu mandato, a Venezuela relançou reivindicações sobre o Essequibo, um território administrado pela Guiana, mas alvo de uma disputa histórica entre os dois países. Contando com o apoio dos Estados Unidos, Irfaan Ali adotou uma postura firme e intransigente em relação a Caracas.
Candidato da oposição
Aubrey Norton, que nasceu em Christianburg, cidade ao sul de Georgetown, é membro da comunidade afro-guianense. Membro dos Jovens Socialistas, formado em Cuba e no Reino Unido, Norton sempre manteve uma postura de extrema-esquerda. Nome forte no Congresso Nacional do Povo (CNP), é líder da oposição desde 2022.
O político de 68 anos afirma querer reduzir o desperdício e o peculato, e destinar esses recursos à educação e ao aumento de salários e pensões. Aubrey Norton também quer subsidiar a eletricidade e a água. “Usaremos os recursos do petróleo e do gás para tirar o povo da Guiana da pobreza”, prometeu.
Conhecido por sua retórica e veemência, Norton acusou abertamente o atual governo de corrupção. Líder da APNU (Coalizão Parceria para uma Nova Unidade), ele tem afirmado que os dias do PPP/C no poder estão contados.
Terceira via
Pouco conhecido na política guianense, Azruddin Mohamed é um bilionário controverso, que fundou um partido para concorrer ao pleito do próximo dia 1° de setembro. Pelo WIN (Vencemos/Investimos na Nação), disputará a presidência do país.
Nascido em Georgetown, Azruddin Mohamed tem 38 anos e é filho de um rico empresário. Segundo algumas publicações da mídia guianense, o candidato do WIN levou uma vida de playboy na juventude. Para o professor de direito na Universidade da Guiana, Neville Bissember, o candidato “desafia o tradicional sistema bipartidário da Guiana”.
Azruddin Mohamed afirma ter se tornado bilionário por meio da mineração de ouro e foi sancionado pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Tesouro dos EUA, que o acusa de sonegação fiscal. O candidato promete combater a corrupção na Guiana e abalar a elite política. Na campanha, Azruddin Mohamed garante que, caso seja eleito, abrirá mão do salário presidencial.
“Ele representa um número desconhecido de votos, mas claramente é um incômodo para os dois principais partidos. O suficiente para ser eleito? Impossível dizer”, enfatiza o professor Neville Bissember. Pouco simpático com a mídia, Mohamed atrai as pessoas com sua juventude, seu dinamismo e seu jeito direto de falar sobre as questões que envolvem a Guiana.
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