28 Julho 2025
"Parece não haver fim para essa situação de pilhagem contínua. Não é um acaso que o verdadeiro cerne do acordo assinado em 27 de junho em Washington e abençoado por Trump como 'histórico' é, na realidade, outro: aquele econômico", escreve Giusy Baioni, jornalista especializada na África dos Grandes Lagos, em artigo publicado por Viandanti, 03-07-2025.
No grande marasma internacional, com crises antigas e novas que atraem todas as atenções sobre si, a África fica sempre na sombra. Um destino que não é inevitável, mas que, na verdade, é o que acontece: há sempre uma crise mais importante e mais urgente para contar, acompanhar, mediar, sobre a qual sensibilizar.
Certamente não se trata de fazer uma escala de importância, nem absolutamente de negar as outras tragédias atrozes em curso. Muito pelo contrário: trata-se de compreender que o nosso mundo se tornou tão pequeno que o que acontece do outro lado do globo, mesmo em áreas que nos parecem remotas, tem repercussões imediatas aqui entre nós. E vice-versa.
As dinâmicas geopolíticas repetem-se frequentemente com uma semelhança quase surpreendente. Como acontece, por exemplo, com o drama da República Democrática do Congo e de toda a região dos Grandes Lagos. Uma história complexa, um conflito que já dura mais de trinta anos, que, como tal, tem uma série de causas estratificadas e interligadas. Causas remotas, que se originam na história da colonização, e causas bem mais recentes e imediatas, como a sede implacável por matérias-primas não só pelo Ocidente, mas também pela China e agora pelo mundo inteiro, que já não pode prescindir da tecnologia. Um desenvolvimento ultrarrápido, que requer e consome recursos sempre novos, e que provavelmente exigirá ainda mais com a inteligência artificial.
Uma marcha com etapas forçada que não olha na cara de ninguém, uma corrida ao progresso a todo custo, para chegar primeiro. Sempre às custas dos últimos na Terra.
Não é por acaso que, há algum tempo, o presidente ucraniano Zelensky ofereceu ao recém-eleito Trump contratos de mineração para a exploração de depósitos de terras raras em troca da manutenção do apoio militar dos EUA. Pouco depois, a mesma idêntica proposta a Trump veio do presidente congolês Felix Tshisekedi, em luta contra o M23, o grupo armado que ocupava (e ocupa) o leste do Congo: contratos de mineração em troca de assistência militar para a reconquista do território perdido.
Dito e feito: em 27 de junho, no Salão Oval da Casa Branca, um Trump satisfeito anunciava a assinatura de um acordo "histórico" que colocava um fim à guerra entre Ruanda e a República Democrática do Congo. Um acordo que, no entanto, imediatamente levantou perplexidades de muitos lados.
"Deveríamos acolher de forma positiva uma nova iniciativa de paz para silenciar as armas e pôr fim ao sofrimento da população civil." "Mas uma paz justa e duradoura não pode ser alcançada a qualquer preço". Esse foi o comentário imediato do Dr. Denis Mukwege, ginecologista congolês e vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2018. Desde que seja paz, tudo estará bem? Ou não? E será paz de verdade?
Há dúvidas, e muitas. Primeiro, porque o conflito na região já se arrasta a décadas e suas causas profundas e incrustações serão muito difíceis de remover. Segundo, porque, ao longo dos anos, os congoleses viram serem assinados acordos após acordos e continuaram a morrer como antes. Finalmente, porque, quanto ao conteúdo, o tratado deixa muitos pontos sem solução.
Como bem explica Mukwege: “…esse acordo não se baseia no reconhecimento, pelo mediador estadunidense, da existência de um Estado agressor, Ruanda, que desafia o direito internacional todos os dias com total impunidade, e de um país atacado, a República Democrática do Congo”.
O último recrudescimento do conflito (aquele que chegou a ganhar espaço em nossos noticiários, por uma fração de segundo, entre o final de janeiro e o início de fevereiro) deveu-se – como mencionado – à ocupação de grandes partes das regiões orientais do Kivu do Norte e do Sul pelo grupo armado M23, que desde então continua a controlar também as duas capitais provinciais, Goma e Bukavu.
Ao lado dos guerrilheiros (fortemente armados e equipados), também foi documentada a presença de 3-4 mil soldados regulares ruandeses, mesmo que sua presença nunca tenha sido admitida por Kigali. Pois bem: o M23 só é mencionado nos acordos para adiar a outras negociações em curso em Doha, no Catar, entre o governo congolês e os representantes do grupo. E assim, enquanto em Washington se celebrava, no Kivu as pessoas continuam a estar sob um governo de fato, ilegítimo, que assumiu o poder apresentando-se como um "libertador", mas que administra com punho de ferro, eliminando qualquer um que ouse opor-se a ele e explorando livremente os enormes recursos minerais da região.
É verdade que existem muitas razões históricas, ligadas a etnias, terras, direitos das minorias e às múltiplas explorações desses elementos. Mas, no fim, o que realmente interessa (a Trump e a todos os outros envolvidos no jogo) são os recursos.
A República Democrática do Congo é o baú do tesouro do mundo. Seja qual for o recurso necessário, podem ter a certeza de que em algum lugar do subsolo ou na floresta congolesa pode ser encontrado. A começar pela imensa biodiversidade das florestas originais e da bacia do rio Congo, o segundo do mundo depois do Amazonas, que terá uma importância estratégica cada vez mais central. E, além disso, há todo o resto: desde os tempos dos escravos deportados para o além-mar, passando pela borracha, depois pelo petróleo e gás e pelos eternos ouro e diamantes, até os recursos estratégicos e minerais raros: a RDC é o primeiro país do mundo em termos de reservas de coltan e cobalto, às quais se acrescentou recentemente a descoberta de um enorme depósito de lítio.
O "cinturão do cobre" é importantíssimo (o enorme veio de cobre no sul, na fronteira com a Zâmbia), sem mencionar o zinco, o urânio (daqui veio aquele usado para as bombas em Hiroshima e Nagasaki), o estanho, a prata, o carvão, o manganês, o tungstênio, o cádmio, o nióbio, o titânio... e poderíamos continuar.
Um "escândalo geológico" que de bênção se transformou em maldição para as pessoas que vivem lá, que não só não se beneficiam dele, mas são frequentemente obrigadas a trabalhar nas minas (até mesmo menores) em condições péssimas, ganhando pouco dinheiro, problemas de saúde e devastação ambiental, e além disso - no leste - também guerra, instabilidade, estupros em massa e saques.
Bem: parece não haver fim para essa situação de pilhagem contínua. Não é um acaso que o verdadeiro cerne do acordo assinado em 27 de junho em Washington e abençoado por Trump como "histórico" é, na realidade, outro: aquele econômico.
O próprio Trump imediatamente comentou: "Estamos obtendo, para os Estados Unidos, muitos dos direitos de mineração do Congo", o que o texto rebuscado do acordo traduz na decisão de "lançar, dentro de três meses, o quadro de integração econômica regional multifásica".
O compromisso declarado é introduzir "maior transparência" na cadeia de suprimentos de minerais essenciais, "bloqueando assim canais econômicos ilícitos e garantindo maior prosperidade para ambas as partes, especialmente para a população, graças aos recursos naturais da região por meio de parcerias e oportunidades de investimento mutuamente benéficas". E é certamente aqui que as indústrias estadunidenses se inserirão. Uma cooperação bilateral, ou melhor, trilateral. Não só isso: a "integração bilateral" (conforme o acordo) também iniciará a cooperação na ‘gestão dos parques nacionais (e lembremos que na fronteira entre Ruanda e a República Democrática do Congo está o parque mais antigo da África, o Virunga), no desenvolvimento de energia hidrelétrica, na redução de riscos nas cadeias de suprimentos minerais, na gestão conjunta dos recursos do Lago Kivu (um lago límnico, em cujas profundezas se encontra um enorme depósito de gás) e cadeias de valor mineral e formalizadas de ponta a ponta transparentes (da mina ao metal processado), conectando os dois países em parceria, quando oportuno, com o governo e investidores dos Estados Unidos".
E como se a cooperação bilateral não bastasse, "juntamente com parceiros-chave, as Partes se comprometem a avaliar opções para conectar o quadro a outras iniciativas regionais ou internacionais de desenvolvimento econômico, inclusive por meio de projetos de infraestruturas".
Infraestruturas - é razoável supor - como o chamado Corredor de Lobito, já iniciado pelo governo Biden: uma ligação ferroviária que transportará cobalto e cobre das minas do antigo Katanga para os portos do Oceano Atlântico. Apenas um exemplo das infraestruturas já planejadas.
A energia hidrelétrica certamente será outro ponto-chave, não apenas no Kivu, onde a barragem Ruzizi 3 já está na reta final, no rio de mesmo nome, que liga os lagos Kivu e Tanganica, e que fornecerá eletricidade ao Congo, Ruanda e Burundi, mas ninguém sabe em que outras direções, sendo a bacia do rio Congo a segunda mais importante do mundo.
Talvez não seja coincidência que – ao lado dos EUA – o outro ator-chave nesse acordo seja o pequeno Catar, que entrou no jogo de repente em março passado e que agora é indicado, preto no branco, como membro do comitê de monitoramento do acordo. Um país pequeno, mas extremamente rico, e acima de tudo com grandes interesses econômicos na área, em particular pelas várias parcerias já iniciadas com Ruanda.
Será que o Catar precisa de paz para o desenvolvimento de seus interesses? Veremos. Certamente, não se poderá falar de paz até que as pessoas possam viver com segurança em suas próprias terras, sem armas, sem imposições e sem exploração.