30 Junho 2025
"O coração sangra ao pensar na Ucrânia, na situação trágica e desumana em Gaza e no Oriente Médio, devastado pela expansão da guerra. Somos chamados nós todos, humanidade, a avaliar as causas desses conflitos, a verificar aquelas verdadeiras e tentar superá-las, e a rejeitar aquelas espúrias, fruto de simulações emocionais e de retórica, desmascarando-as com determinação. As pessoas não podem morrer por causa de fake news".
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 27-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Essa é uma das passagens mais intensas e críticas do discurso do Papa perante o plenário do Roaco, o órgão do Dicastério das Igrejas Orientais que discute as diversas agências promovidas pela Igreja Católica de vários países do mundo, empenhadas em dar apoio financeiro às comunidades cristãs do Oriente. Quase todas as mais altas autoridades do Oriente Médio participaram da assembleia.
Com suas palavras, Leão XIV tentou romper o pesado manto de retórica e motivações instrumentais que alimentam conflitos e massacres: "É realmente triste testemunhar hoje, em tantos contextos – acrescentou o pontífice - o impor-se da lei do mais forte, com base na qual são legitimados os próprios interesses. É desolador ver que a força do direito internacional e do direito humanitário não parece mais ser vinculativa, substituída pelo suposto direito de obrigar os outros pela força. Isso é indigno do homem, é vergonhoso para a humanidade e para os responsáveis pelas nações”.
Logo em seguida disse, dirigindo-se aos líderes dos Estados: “Como se pode continuar a trair os desejos de paz dos povos com as falsas propagandas do rearmamento, na vã ilusão de que a supremacia resolve os problemas em vez de alimentar ódio e vingança? As pessoas percebem cada vez mais a quantidade de dinheiro que vai para os bolsos dos mercadores de morte e com o qual se poderia construir hospitais e escolas; mas, em vez disso, se destoem aqueles já construídos!”
Certamente, despertou grande preocupação o ataque ocorrido em 22 de junho na Igreja Ortodoxa Grega de Santo Elias, em Damasco, causando a morte de mais de 20 pessoas e cerca de sessenta feridos durante a celebração da Divina Liturgia. O medo generalizado nos palácios sagrados é que grupos islâmicos extremistas estejam retornando a uma espécie de conflito assimétrico, no qual o terrorismo volta a ser o instrumento de resposta àqueles que possuem o domínio tecnológico e militar.
O Papa já no final da audiência geral de quarta-feira voltou ao episódio sangrento na capital síria: “Esse trágico evento mostra a profunda fragilidade que ainda marca a Síria, após anos de conflito e instabilidade. É, portanto, fundamental que a comunidade internacional não desvie o olhar desse país, mas continue a oferecer-lhe apoio com gestos de solidariedade e com um renovado empenho pela paz e pela reconciliação”.
O núncio apostólico em Damasco, Cardeal Mario Zenari, respondendo ao Domani sobre a situação da comunidade cristã na Síria hoje, afirma: “A situação na Síria agora é dominada por esse evento tão sangrento que aconteceu na Igreja Ortodoxa Grega durante a liturgia do último domingo. E isso perturbou a todos, em suma, especialmente os cristãos; é a primeira vez que um ataque sangrento acontece em uma igreja. É claro que sempre houve ameaças contra cristãos durante os últimos anos de guerra; altares e ícones também foram profanados. Mas uma explosão desse tipo, como a que aconteceu anos atrás no Iraque, é a primeira vez, portanto é um alerta muito sério”.
E ainda:
"É algo que perturbou muito não apenas os cristãos, mas também a opinião pública. Há falta de segurança", acrescenta o cardeal. "Há esperança e incerteza, essas são as duas palavras que eu sinto vontade de usar: qual das duas prevalecerá? Claro, se espera, precisamente, que seja a esperança. Não é possível dizer mais, porque o fato que aconteceu no domingo passado, a explosão dentro de uma igreja, é algo alarmante que nunca havia acontecido antes”.
Por sua vez, "a comunidade internacional está tentando apoiar o novo rumo, removeu as sanções, mas há muita insegurança". Em seguida, o diplomata observa: "Todo o Oriente Médio está em uma situação de explosão de dor".
A respeito da recente notícia divulgada sobre a possível descoberta do Padre Paolo Dall'Oglio, Zenari afirmou que se trata de "um caso de histeria midiática, o comportamento da imprensa não foi sério. Essas coisas devem ser feitas com muita seriedade, a nunciatura está tratando do caso do Padre Dall'Oglio há 13 anos e tem sido assaltada por essa forma de histeria incompreensível".
O vigário apostólico de Aleppo, D. Hanna Jallouf, em entrevista à mídia vaticana, em relação ao atentado, ecoou as palavras do cardeal: "As autoridades pediram a todos os cristãos que mantenham a calma, pois suas vidas e seus bens serão defendidos e protegidos. Eles também garantiram a possibilidade de poder exercer a fé com total liberdade. Temos realmente uma grande esperança".