26 Junho 2025
“O crime contra os cristãos na igreja de Mar Elias al-Hayy – Santo Elias – é uma tentativa patética e desprezível de minar os esforços para construir a paz civil e frustrar todos os esforços para alcançar um futuro próspero e fazer progredir o Estado. É uma tentativa flagrante e mesquinha de destruir o que resta de confiança entre os diferentes membros da sociedade síria”. Com essas palavras, o Padre Jihad Youssef, prior do mosteiro de Deir Mar Mousa, comentou o atentado terrorista que atingiu a igreja ortodoxa grega de Mar Elias, em Dweila, nos arredores de Damasco, no final da tarde de domingo.
A informação é de Asmae Dachan, publicada por Avvenire de 24-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O saldo é de pelo menos 30 fiéis mortos e mais de setenta feridos na explosão ocorrida durante a missa dominical. Segundo a Defesa Civil Síria, que interveio no local imediatamente após o massacre, tratou-se de um ataque suicida do ISIS, o segundo desde a queda do regime de Bashar al-Assad.
Segundo algumas testemunhas, dois homens armados teriam aberto fogo contra os fiéis reunidos em oração e, em seguida, se explodiram. O padre Malatius Shatahi, em uma declaração ao Zaman al-Wasl, criticou a falta de atenção às denúncias que a comunidade cristã já havia apresentado nos dias e semanas anteriores: "Temos enfatizado repetidamente que, em termos de segurança, a situação não era nada boa, mas as autoridades sempre responderam que se tratava de episódios isolados e que não tinham nenhuma responsabilidade. Nenhuma ação legal foi tomada contra esses 'episódios isolados'", acrescentou. "O governo é urgentemente chamado a exercer plenamente seu papel na proteção dos cidadãos antes que seja tarde demais. Não há alternativa ao estado de direito”, escreveu o Prior Jihad Youssef.
“Um crime hediondo contra inocentes” que destaca a importância da “solidariedade” e da “unidade entre povo e governo diante das ameaças à segurança e estabilidade do nosso país”, declarou ontem o Presidente Ahmed Sharaa, prometendo às famílias das vítimas que o governo fará justiça. As novas autoridades em Damasco condenaram imediatamente o ataque e, à noite, anunciaram a prisão de seis pessoas “envolvidas” no atentado. O chefe da segurança interna, Osama Muhammad Khair Atkeh, dirigiu-se imediatamente ao local de culto para uma inspeção e falou de um ato terrorista vil do ISIS.
A Ministra dos Assuntos Sociais, Hind Kabawat, também foi à igreja de Mar Elias, prestando apoio às famílias das vítimas e à comunidade cristã local. Também esteve no local o governador de Damasco, Maher Marwan, que declarou que “o regime ainda tem apoiadores na área e que o atentado não atingiu apenas uma comunidade, mas toda a população síria”. O atentado terrorista chocou a Síria em um momento de grande instabilidade tanto no plano regional, com as contínuas ingerências de Israel no sul, que além de bombardear diversas localidades continua a penetrar por terra, quanto na frente interna.
Em 30 de maio passado, o ISIS havia atacado Damasco pela primeira vez desde a fuga de Assad, visando soldados do governo e afirmando, em seus canais, que havia atacado um "veículo do regime apóstata". O grupo terrorista já havia atacado em 22 de maio na região de al-Safa, na província de Sweida, e também na semana passada havia matado homens do exército em um ataque.
Após quatorze anos de guerra e a multiplicação de facções armadas, apoiadas também por potências estrangeiras, a Síria de al-Sharaa deve necessariamente enfrentar o problema da segurança interna e garantir a estabilidade no plano regional, com Rússia, Irã, Turquia e Israel ainda tendo muitos interesses no território.
Além disso, muitos dos ministros do atual governo, e em primeiro lugar o próprio al-Sharaa, vêm da luta armada e se formaram e militaram no HTS, considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela ONU, até 8 de dezembro de 2024. Bolsões de resistência do antigo regime ainda estão presentes em toda a Síria.
Nos últimos dias, em uma sofisticada operação de inteligência, foi preso Wassim al-Assad, primo de Bashar al-Assad, considerado um dos principais responsáveis pelo tráfico de captagon e entre os líderes da famigerada prisão de Sednaya.
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