27 Junho 2025
Desde que Rosset, conselheira eleita no 5º arrondissement de Paris, assumiu o comando do movimento em 14 de junho, não faltaram críticas, especialmente em sites de extrema-direita.
A informação é de Sarah Belouezzane, publicada por Le Monde, 20-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Durante semanas, os membros do conselho de administração dos Escoteiros e Guias da França, 100.000 membros, estudaram os perfis para identificar a pessoa mais adequada para ocupar o cargo de presidente da organização. Eleita com 22 votos de 24 no sábado, 14 de junho, Marine Rosset parecia corresponder perfeitamente às expectativas. Bem conhecida no movimento, do qual é administradora desde 2019 e Vice-presidente desde 2022, ex-professora de história e geografia no departamento de Seine-Saint-Denis e conselheira departamental, ela deveria representar a "continuidade".
Infelizmente, alguns católicos parecem não pensar assim. As críticas não tardaram a chegar, especialmente em sites de extrema-direita como Salon Beige, Boulevard Voltaire e Frontières. Rapidamente, foram publicados artigos que consideravam o engajamento político e a vida pessoal de Marine Rosset incompatíveis com a presidência de uma instituição católica.
Em primeiro lugar, foi contestada a filiação da jovem mulher ao Partido Socialista, pelo qual foi eleita conselheira municipal do 5º arrondissement de Paris em 2020. Ela também foi candidata às eleições legislativas de 2024 na chapa da Nova Frente Popular. Outra reclamação de seus opositores: sem estardalhaço e sem esconder, Marine Rosset é homossexual e mãe de um menino. Ela também se manifestou a favor do aborto. Durante uma reunião pública em 2024, relatada pela revista Emile, dos ex-alunos da Sciences Po, ela tinha feito algumas declarações sobre o assunto, que foram posteriormente divulgadas. Na época, havia declarado: "Tenho um menino de um ano e meio e apenas um par de calças que me serve. Esse menino tem duas mães. Em países já governados pela extrema-direita, como a Itália, a nossa família não existiria".
Para além da mídia e das redes reacionárias, que criticam abertamente a eleição de Marine Rosset e sua pessoa, nos ambientes católicos se espalhou o desconforto. Segundo informações fornecidas ao Le Monde, até mesmo o capelão-geral dos Escoteiros e Guias da França, Xavier de Verchère, que não vota, expressou sua discordância de forma bastante aberta, lendo uma mensagem diante do conselho administrativo na qual explicava que não poderia se associar a tal escolha, embora apoiaria a pessoa eleita. Nas redes sociais, o abade Clément Barré, padre da diocese de Bordeaux e também membro da associação, questionou-se: "Quando se aspira a ocupar cargos de responsabilidade em uma associação católica, parece-me essencial não defender publicamente posições em contradição com o ensinamento da Igreja". No Catecismo da Igreja Católica, a homossexualidade é descrita como "intrinsecamente desordenada”.
“Não é a sua orientação sexual que cria alvoroço, explica um padre membro dos Escoteiros e Guias da França, mas sim as suas posições políticas e o seu engajamento. No entanto, as suas escolhas pessoais podem ser percebidas como escolhas públicas. E para alguns, podem parecer militantes”.
De um modo mais geral, a associação tem sido alvo de ataques há anos por parte de algumas franjas do catolicismo que a percebem como demasiado progressista e cada vez menos ligada à sua identidade católica. “Para eles, é uma consequência da nossa deriva, enquanto a vida pessoal de Marine Rosset não é nem um elemento para se transformar um emblema nem algo que se tenha o direito de criticar”, explica um membro.
“Sou muito feliz por ser presidente”, afirma Marine Rosset. “Esperava perguntas, especialmente sobre o meu engajamento político. Mas o meu empenho está em consonância com aqueles dos Escoteiros. Alguns são membros de associações, outros de partidos que não são o meu”. Existe, continua ela, "um pluralismo dentro dos Escoteiros e Guias da França: dadas as tensões que caracterizam a sociedade atualmente, nosso movimento é importante para os jovens e para a Igreja, para que a tenda seja alargada, como dizia o profeta Isaías".
"Os limites do movimento escoteiro não se limitam ao formalismo do dogma", rebate Jérôme Vignon, até recentemente administrador da associação. "Somos um movimento centrado na fé católica, de primeira evangelização, aberto aos jovens e seus pais, que nem sempre foram educados na fé. Nossa família é capaz de se alargar".
O episódio mostra claramente o desconforto ainda presente dentro da Igreja Católica quando se trata da homossexualidade de seus membros. A integração de pessoas LGBTQ na Igreja era uma preocupação do Papa Francisco. Em 2024, o movimento dos Escoteiros e Guias da França recebeu uma carta de um bispo que se queixava de um panfleto no qual duas jovens estavam de mãos dadas.