13 Junho 2025
Leão XIV trabalhará para "salvar o catolicismo do risco de desintegração": explica Lucio Caracciolo, que falará à RepIdee sobre o novo Papa, a quem o próximo número do Limes é dedicado ("O enigma do Papa Leão").
A entrevista com Lucio Caracciolo, jornalista e analista geopolítico italiano, é de Iacopo Scramuzzi, publicada por La Repubblica, 10-06-2025.
Um mês após o Conclave, qual sua opinião sobre o novo Papa?
Ele foi escolhido essencialmente para governar a Igreja e vincular o poder de Roma às várias conferências episcopais que estão seguindo em frente por conta própria. João Paulo II orientou a geopolítica mundial com sua personalidade transbordante, mas não tinha tempo nem vontade de lidar com as questões internas. Ratzinger era tudo menos um papa de governo. Francisco criou processos de ruptura. Agora, acredito que os cardeais escolheram alguém capaz de consertar as coisas, não tanto do ponto de vista teológico e doutrinário, mas, precisamente, na governança da Igreja.
Será um pontificado mais voltado para dentro ou, ainda assim, projetado para a geopolítica global?
As duas coisas podem andar juntas: se você não tem uma estrutura capaz de manter unido o mundo católico, não pode ter uma missão para o exterior.
Prevost terá um canal privilegiado com a Casa Branca ou será o anti-Trump?
Ele não será um papa antiestadunidense, como Bergoglio claramente era, mas ideologicamente não pode estar alinhado nem com Trump nem com o catolicismo tradicionalista em que orbita Vance. Quanto à Igreja estadunidense, dividida, corre o risco de se tornar parte de um polo alternativo a Roma que, em determinado momento, pode passar de líquido a sólido. Salvar o catolicismo do risco de desintegração, creio eu, é a verdadeira missão do papa.
Por que Putin concordou em falar com um papa nascido em Chicago depois de se recusar a falar com um papa nascido em Buenos Aires?
Talvez poderia até se entender melhor com Bergoglio, mas e depois? Com Prevost, Putin conversou com alguém que conta no país com o qual está tentando fazer um acordo, os Estados Unidos da América.
Qual o papel que a diplomacia vaticana poderia ter na Ucrânia?
É difícil para um papa mediar entre Igrejas Ortodoxas que, ainda por cima, se detestam. Eu não falaria de mediação, mas de facilitação, que acontece em segredo. A missão do Cardeal Zuppi, humanitária, mas não só, contribuiu para abrir a possibilidade de diálogo. A Santa Sé também desempenhou um papel no âmbito das negociações turcas em março-abril de 2022.
Sobre Gaza, Leão usou palavras tão alarmadas quanto as de Francisco.
Por quê?
Porque as coisas na Faixa de Gaza estão indo de mal a pior em todos os aspectos, a começar pelo humanitário. Isso não significa, para Prevost, uma crítica ao mundo judaico.
Que relação podemos esperar com a China, após o acordo sobre os bispos assinado por Francisco?
Aquele acordo foi uma aposta muito grande, talvez até um pouco arriscada, por parte de Bergoglio, mas não está funcionando como alguns poderiam esperar. No futuro, acredito que, no máximo, o status quo poderá ser mantido, o que é um status quo ambíguo.