10 Junho 2025
Recuperação da Cúria, abusos, mediação entre Ucrânia e Rússia, China. Um mês de pontificado como teste decisivo do método Prevost.
A informação é de Domenico Agasso e Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 08-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Leão XIV move-se com cautela nos dossiês para intervenções precisas – explica Agostino Giovagnoli, historiador da Universidade Católica do Sagrado Coração. Ele não gosta de decisões repentinas, proclamações, gestos sensacionalistas. A negociação entre Moscou e Kiev foi prejudicada pela pressão dos EUA: a Santa Sé opera confidencialmente e o clamor a prejudica. Prevost destaca a universalidade da Igreja como se viu na posse com a entrega do anel do pescador pelo filipino Tagle e a oração do congolês Besungu”.
Giovagnoli acrescenta: “Comparado a Francisco, ele confia mais na instituição e inclina-se a um governo institucionalmente ordenado. Ele indicou a Secretaria de Estado como contato para os embaixadores. Referiu-se à China ao agradecer a Pequim pelas palavras de bons votos após a fumaça branca e, em seguida, com a comemoração de Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos de Xangai”.
Contudo, bastaram poucas semanas para “testemunhar os ataques ao Trono por aqueles que queriam liquidar Bergoglio e aqueles que queriam um seu clone”, observa o sociólogo Massimo Introvigne. Prevost, por outro lado, “implementa o mandato do Conclave: reparar as lacerações reafirmando temas de Francisco e recuperando conteúdos de Bento XVI”. O objetivo é unir o que está dividido.
“Os tradicionalistas EUA esperavam a liberalização da missa tradicional, mas Prevost não contradiz seu antecessor”, ressalta Introvigne. “No máximo, introduzirá gradualmente na práxis uma maior tolerância para a celebração pré-conciliar. Sem, no entanto, documentos que repudiem Bergoglio”.
O sociólogo prossegue: “Como canonista sobre os abusos, ele temperará a tolerância zero com o direito à defesa em virtude de casos de sanções eclesiásticas desmentidas por absolvições civis”. Um reequilíbrio do justicialismo midiático.
“No estado de Washington, com a aprovação de Trump, os bispos rejeitaram a lei que obriga os sacerdotes a violar o segredo da confissão para denunciar abusos. Alguns prelados franceses foram a favor, mas aqueles que obedecerem serão excomungados. O que for confessado permanecerá inviolável: é lei divina. Francisco já havia reiterado o mesmo princípio com decretos da Penitenciaria Apostólica sobre a Austrália”.
Prevost combina rigor doutrinário, compaixão pastoral e uma visão missionária do Evangelho.
De um Conclave particularmente rico em diferentes perfis, emergiu o nome do Cardeal Robert Francis Prevost, agostiniano, missionário, prefeito do Dicastério para os Bispos. Um papa já destinado a fazer história, o primeiro estadunidense e o primeiro membro da ordem de Santo Agostinho a ascender ao trono papal.
Até a escolha do nome causou discussão, pela continuidade com Leão XIII que, com a encíclica Rerum Novarum, havia levado a Igreja pela primeira vez a tratar de questões sociais.
Desde a noite de 8 de maio, dentro e fora do recinto eclesiástico, os questionamentos foram imediatamente grandes, decisivos: em um momento difícil para o planeta, entre guerras em curso e anunciadas, uma economia em crise, as dificuldades do diálogo internacional e os conflitos sociais, esse novo Pontífice conseguirá abrir novos caminhos de harmonia e fraternidade? Conseguirá agir por aquela paz tão invocada em seu primeiro discurso à multidão? Conseguirá reconciliar a ala mais progressista e a mais tradicionalista da Igreja, evitando um embate que ameaça terminar em cisma?
Prevost encarna uma figura de mediação entre as sensibilidades tradicionais e as necessidades de renovação promovidas por Francisco. Seu ministério atravessou fronteiras e continentes: de sua formação nos Estados Unidos à sua missão no Peru, onde foi bispo de Chiclayo por quase uma década, tornando-se uma figura de referência na pastoral latino-americana.
Ele liderou a Congregação Agostiniana em âmbito mundial como prior geral por dois mandatos. Desde janeiro de 2023, Francisco o chamou para dirigir um dos dicastérios mais estratégicos da Cúria: o que seleciona os bispos. Prevost é um homem de oração e de governo, discreto, mas determinado.
É considerado um eclesiástico capaz de escutar, pouco inclinado aos holofotes, mas influente nos processos decisórios. Sua sensibilidade missionária o torna próximo das periferias; sua origem agostiniana acrescenta um traço espiritual peculiar ao seu perfil: a busca da verdade por meio da comunidade e da interioridade, nos passos de Santo Agostinho.
Ele tem uma visão global da Igreja, formada no campo. Não é considerado um "revolucionário", mas também não é um conservador rígido. Alguns o definem como "pragmático espiritual": sabe transitar entre diplomacia e pastoral, doutrina e discernimento.
Também no plano político, seu perfil é equilibrado: não é próximo da retórica divisionista de Trump, mas nem mesmo é hostil por princípio. Mantém uma distância prudente, preferindo uma abordagem pastoral centrada na pessoa, não na polarização.
Neste primeiro mês, mostrou-se atento à continuidade com Bergoglio e também ao empenho de reconciliar as diferentes almas da Igreja em conflito entre si, tentando reparar as lacerações, sem extremismos.
Um Papa com coração missionário, espírito organizativo, profundo senso de tradição e uma voz que pode falar ao Norte e ao Sul do mundo, católico e não católico.
Livre também no estilo. "No Vaticano, a forma é conteúdo. Estilisticamente, o pontificado de Leão XIV é o pontificado do bom senso", observa Gian Franco Svidercoschi, ex-vice-diretor do Osservatore Romano e colaborador de João Paulo II.
“Prevost demonstrou imediatamente que a unidade substancial da Igreja também exige continuidade formal entre os pontificados. Por isso, sente-se livre para recuperar elementos da tradição, porque a história da Igreja e do mundo não começa com um novo papa. Talvez não aquela forrada de arminho, mas por que abrir mão da mozeta? E por que não passar períodos de férias em Castel Gandolfo, alternando momentos de descanso com outros de trabalho? Por que um enfermeiro em vez de um médico como arquiastro pontifício? Não pertence a Leão a exigência de rompimentos contínuos de protocolos, que às vezes correm o risco de descambar em populismo”.
Na Cúria, reconhece-se a Francisco um necessário esforço de reformar, mas aprecia-se a restauração da normalidade por Prevost, segundo o qual "a falta de fé causa perda do sentido da vida, esquecimento da misericórdia, violação da dignidade, crise da família".