28 Mai 2025
"Uma autêntica prática ecumênica é exigente, porque exige viver radicalmente a fraternidade na reciprocidade das informações e do confronto e, sobretudo, da paciência mútua. O pontificado de Francisco, com sua insistência no caminho sinodal, nos mostrou que o caminho ecumênico só pode ser um caminho com os outros, nunca sem os outros: em devir, isto é, inacabado como todo desejo, mas juntos", escreve Enzo Bianchi, monge, teólogo italiano, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Stampa, 24-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O segundo volume da história do caminho ecumênico, dirigida por Alberto Melloni e organizada por Luca Ferracci (Il Mulino), com a contribuição de mais de trinta especialistas internacionais - L'unità dei cristiani: storia di un desiderio. XIX-XXI sec., II. Cammini di comunione [Unidade dos cristãos: história de um desejo. Séculos XIX-XXI, II. Caminhos de comunhão] - explora os tempos e os momentos daquela revolução ecumênica, da qual o primeiro volume (Aurora Ecumênica, 2021) havia explicado o prelúdio. Em duas grandes seções, "A preparação do inesperado", sobre a efervescência ecumênica do período entre guerras, e "Tempus visitationis, a primavera do ecumenismo", que documenta a inesperada e surpreendente colheita de frutos ecumênicos entre o fim da guerra e o início da década de 1970, da fundação do Conselho Mundial de Igrejas de Genebra (1948) até o Vaticano II (1962-1965) e os encorajadores inícios de diálogos bilaterais e multilaterais, a obra acompanha aqueles caminhos de comunhão que atravessam lugares, instituições, conflitos, cruzam teologias e ideias, mas sobretudo encontram pessoas e paixões, nos quais o sonho de unidade sofre uma verdadeira "metamorfose", como Alberto Melloni o define na sugestiva introdução ("A aceleração do impossível"), transformando-se de "um desejo com contornos teológicos ainda desfocados, incerto no planejamento institucional, colocado na fronteira sedutora da utopia" em uma "realidade histórica, corpórea e visível, tanto quanto a unidade dos cristãos a que aspira" (p. 14).
L'unità dei cristiani: storia di un desiderio. XIX-XXI sec., II. Cammini di comunione, il Mulino (Foto: Reprodução)
O leitor compartilha com os protagonistas dessa história a sensação de que a abertura ecumênica das igrejas, o encontro histórico entre Paulo VI e Atenágoras em Jerusalém (1964) e a revogação dos anátemas de 1054 entre Roma e Constantinopla no final do Concílio (1965), deveriam se traduzir em uma unidade visível, em uma realização do desejo que havia motivado a reaproximação entre os cristãos após séculos de inimizade. Inexplicavelmente, aconteceu o oposto. O próprio sucesso do movimento ecumênico parece ser uma das razões que imobilizam seu desfecho: o passo decisivo da unidade, em que a responsabilidade pela decisão recai sobretudo sobre os pastores, não ocorre. O curso dos acontecimentos parece responder a uma lei inexorável não escrita, que prescreve que um despertar, uma primavera, uma profecia, deve ser seguido por um inevitável inverno, uma geada repentina que põe em discussão as esperanças despertadas no povo de Deus.
Poderia se, como sugere Melloni, talvez uma "superficialidade inculpável com que igrejas, teologias e sociedades" acreditaram que, para alcançar a unidade e preservar a paz, bastasse a ausência de conflitos violentos, "a cortesia das hierarquias eclesiásticas" e o "diálogo como profissão"? Ou a ilusão intelectual que confunde a compreensão dos problemas com a sua solução?
Explicar as razões do paradoxo histórico do enfraquecimento do sucesso ecumênico é a tarefa empreendida pela rigorosa pesquisa do livro, que não só marca uma referência em termos historiográficos, mas também levanta questionamentos que desafiam diretamente aqueles que, hoje, herdam a responsabilidade dos atores de ontem: teólogos, historiadores, autoridades eclesiásticas.
Paulo VI e Atenágoras comprometeram-se a não realizar atos senão de comum acordo, numa sinfonia que pudesse preparar o terreno para a unidade das igrejas. Uma autêntica prática ecumênica é exigente, porque exige viver radicalmente a fraternidade na reciprocidade das informações e do confronto e, sobretudo, da paciência mútua. O pontificado de Francisco, com sua insistência no caminho sinodal, nos mostrou que o caminho ecumênico só pode ser um caminho com os outros, nunca sem os outros: em devir, isto é, inacabado como todo desejo, mas juntos.
Nos recantos dessa história aninha-se aquela teologia que não é de "escola", mas que é ação do Espírito Santo que fala continuamente às Igrejas (cf. Ap 2,7). Escutar a sua voz é um imperativo que está diante de todos os cristãos, mas que o bispo da Igreja de Roma, que preside a unidade, deve ouvir antes de todos.
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