20 Mai 2025
Sereno e sorridente, o Papa parece estar à vontade entre o povo e, nesse sentido, comunica-se como o Papa Francisco. Muitos destacam que Robert Francis Prevost parece ter aprendido bem rápido o difícil "ofício" de ser Papa. Ele se move com confiança, como se estivesse em casa, e ao se comunicar com as pessoas que vêm "ver Pedro", sua linguagem é simples.
O artigo é de Luis Badilla, jornalista, publicado por Domani de 16-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Logo nos primeiros dias do novo pontificado, surgem sinais de mudanças significativas. São numerosos, mas não muito visíveis nem fáceis de decodificar. O primeiro poderia ser resumido assim: ele será o papa do texto e, portanto, de uma comunicação clara.
Não se trata de uma novidade pequena, se nos lembrarmos das inúmeras vezes em que o Papa Francisco teve que lidar com mal-entendidos ou distorções de suas palavras. Como aquelas lembradas entre as dez frases mais famosas da época contemporânea: "Quem sou eu para julgar uma pessoa gay?" (28-08-2013).
Dessa afirmação nasceu a percepção de que Francisco estava mudando a doutrina sobre a homossexualidade na Igreja. Mas, em doze anos, isso nunca aconteceu.
Foi uma falsa reforma, inflada pela mídia. Para compreendê-la plenamente, é preciso confrontá-la com a verdadeira reforma da inadmissibilidade da pena de morte: graças a uma mudança no texto do catecismo e a uma solene declaração (1º de agosto de 2018) que empenha a Igreja Católica a lutar pela abolição da pena de morte em todo o mundo.
Disciplina do texto
Até agora, Leão XIV acrescentou duas ou três palavras de improviso em seus discursos, não mais do que meia linha. Esse estilo, que permaneceu entre parênteses por mais de uma década, não só lhe confere autoridade imediatamente graças ao texto, mas também auxilia o trabalho dos jornalistas e reduz ao mínimo a liberdade dominante de interpretação e de leitura que havia sido difundida durante anos nos contatos com o Bispo de Roma. Todos se sentiam autorizados a dizer com suas próprias palavras o que o papa havia dito, garantindo que sua leitura era aquela correta.
Além disso, os textos eram difundidos com demora e por sistemas emperrados, a ponto de, nesse interim, as mídias mais rápidas – as agências – condicionarem imediatamente, de uma forma ou de outra, o magistério papal.
Os jornalistas muitas vezes entravam em acordo, mas se uma leitura imprecisa, incorreta ou insuficiente das palavras do pontífice se concretizava, não havia nada que pudesse ser feito. Na comitiva do Papa Francisco, reconhecia-se que, na rede, ganha quem chega primeiro, e depois se verá. Mas erros e exageros, até mesmo manipulações ou falsificações, quase nunca eram reconhecidos ou corrigidos.
Trabalho coletivo
À disciplina do texto, o pontífice parece acrescentar outro indício: o respeito pelo trabalho coletivo. Exceto a saudação lida da varanda central da Basílica de São Pedro no dia da eleição, escrita pelo papa da primeira à última palavra, no caso de outros textos pronunciados até agora, Leão XIV sabe apreciar e valorizar o trabalho anônimo e silencioso dos curiais. Sem mitificar, trata-se de uma realidade – com todos os seus defeitos (duramente criticados pelo Papa Francisco em diversas ocasiões) – que, posta à prova, se revelou sólida: a armadura poliglota do papado, invejada por outros governos.
A Cúria Romana e o seu âmago, constituído pela Secretaria de Estado, não eram bem vistos por Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, mas são as estruturas do governo central da Igreja Católica às quais Leão XIV provavelmente dedicará particular atenção e cuidado.
Outros indícios dizem respeito às formalidades do protocolo, à residência temporária no palácio do Santo Ofício (onde é vizinho do Cardeal Angelo Becciu), às disposições para a reorganização da funcionalidade logística e hoteleira de Santa Marta, aos projetos em andamento para o retorno ao Palácio Apostólico.
A relação com o povo
Sereno e sorridente, o Papa parece estar à vontade entre o povo e, nesse sentido, comunica-se como o Papa Francisco. Muitos destacam que Robert Francis Prevost parece ter aprendido bem rápido o difícil "ofício" de ser Papa. Ele se move com confiança, como se estivesse em casa, e ao se comunicar com as pessoas que vêm "ver Pedro", sua linguagem é simples.
Em um debate na Rádio Nuevo Tiempo – uma das vinte e uma emissoras localizadas na diocese peruana de Chiclayo, onde vivem um milhão e meio de habitantes e onde o Papa foi bispo – dizia-se dias atrás: “Ele gosta de montar andaimes para remodelar e reformar. Nada deve ficar estragado, ele nos dizia”.
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