16 Abril 2025
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 15-04-2025.
"Se Francisco tivesse morrido, teria sido um problema". No dia seguinte ao Sodalício de Vida Cristã (SVC) assinar o decreto de sua dissolução assinado pelo Papa Francisco em 14 de janeiro - conforme relatado pela Religión Digital ontem - o padre catalão e enviado do Papa para investigar alegações de abuso de todos os tipos contra aquela organização peruana criada em 1971 por Luis Fernando Figari, ele reconhece em entrevista ao 'El mundo en RAC1' as dificuldades de um processo que demorou muito.
Assim, o prelado de Tortosa lamenta que o Vaticano tenha demorado muito para dissolver este ramo da Igreja: "Nos anos noventa eles receberam carta branca e cresceram como um tumor", diz este funcionário do Dicastério para a Doutrina da Fé e agora nomeado Comissário Apostólico para providenciar tudo o que for necessário "para implementar as disposições relacionadas às medidas de supressão, bem como enfrentar todas as consequências derivadas da mesma decisão", segundo um comunicado de imprensa assinado pela Irmã Simona Brambilla, prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, tornado público ao meio-dia.
"Infelizmente, nos atrasamos, pedi desculpas às vítimas, mas quando os fatos foram relatados na televisão peruana, os alarmes já deveriam ter sido disparados", disse Bertomeu, que explicou que nos anos noventa, a Igreja já começou a suspeitar de alguns novos movimentos que surgiram então, mas "eles receberam carta branca e depois cresceram como um tumor".
Bertomeu reconhece que se o papa tivesse morrido durante a hospitalização que o manteve internado no Gemelli de 14 de fevereiro a 23 de março, e em duas ocasiões com crises que poderiam ter causado sua morte, teria sido "um problema" para a investigação, embora, como este portal revelou, o decreto tenha sido assinado por Francisco um mês antes em 14 de janeiro.
"Teria sido um problema se o papa tivesse morrido no processo" porque, como aponta o padre catalão, ele deveria ter esperado para conhecer o novo papa, atualizá-lo sobre a situação e que, novamente, como Francisco, ele teria determinado que "as atividades do Sodalício não vinham de Deus e que, portanto, a entidade tinha que ser suprimida".
A investigação começou em novembro de 2023, mas obter as provas não foi uma tarefa fácil: "Temos um Direito Canônico muito limitado, e o Direito Civil, em alguns casos, também é limitado", diz na referida entrevista, onde também reconhece que "alguns desses comportamentos nem sequer eram crimes canônicos e tive de os redirecionar e enquadrar no direito disciplinar".
Após a dissolução histórica do Sodalício (cujo núcleo duro seria composto por cerca de 450 pessoas, que são os consagrados, e cerca de 20 a 25 mil apoiadores) o próximo passo é colocar o assunto nas mãos da justiça dos EUA, pois também pode haver supostos crimes de natureza econômica. "Se tivéssemos apenas a Justiça peruana, teríamos dificuldades, mas confiamos que nos Estados Unidos será diferente", conclui Bertomeu.