09 Abril 2025
Não resiste ao sorvete. Sabores: limão, manga e doce de leite, acompanhados por waffles. Quem leva o sorvete diretamente para sua casa é Sebastian Padron, um sorveteiro argentino que há oito anos abriu uma loja na Via Gregorio VII, perto do Vaticano, e quase imediatamente começou a receber pedidos do cliente mais prestigioso que poderia esperar. O sorvete é um dos poucos prazeres que o Papa Francisco se permite durante esse período de convalescença. E o toma com prazer e o oferece a seus colaboradores. O sorveteiro entrega os potes na recepção da Casa Santa Marta, ou diretamente na cozinha do hotel dentro dos Estados Pontifícios que Francisco escolheu como sua residência desde o Conclave.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 08-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
No domingo, Bergoglio fez uma visita surpresa à Praça São Pedro para assistir ao Jubileu dos Enfermos. Desde que retornou ao Vaticano, há duas semanas, estava apenas trancado em casa em convalescença. No edifício de seis andares construído para hospedar os cardeais durante os conclaves, moram normalmente cerca de cem funcionários da Santa Sé, além dos hóspedes especiais, cardeais e bispos que passam pelo Vaticano por alguns dias. Mas desde seu retorno, o pontífice argentino não desce ao refeitório, onde costumava almoçar, nem à capela do térreo, aquela em que nos primeiros anos de seu pontificado, e também durante a pandemia, celebrou a missa matinal. “Ele está no segundo andar, nós não o vemos”, contam ou outros inquilinos da casa. Bergoglio vive confinado ao andar onde fica sua suíte, a 201 e, por razões óbvias de privacidade e saúde, todo o andar está fora dos limites para os outros hóspedes da Domus.
O dia do Papa é pontuado pelos tratamentos. O despertador está programado para o amanhecer. Depois do café da manhã e de dar uma olhada nos jornais, Bergoglio vai até a capela em seu andar e lá concelebra a missa com seus secretários. Em seguida, todas as manhãs, ele passa por uma dupla sessão de cerca de duas horas: fisioterapia respiratória, ou seja, exercícios que o Papa pode fazer mesmo se estiver acamado ou sentado, para recuperar o uso autônomo dos pulmões, e fisioterapia motora, caminhadas pelo corredor acompanhado pelo tutor, mas também movimentos com os braços, para recuperar o tônus muscular após 38 dias de hospitalização.
Francisco, que sempre foi muito metódico, alterna os exercícios com o repouso, depois se dedica um pouco ao trabalho, que retomou em sua mesa há alguns dias: principalmente a leitura de documentos, a preparação ou a aprovação de textos a serem distribuídos e, também as nomeações, que avalia com especial cuidado. Depois do almoço, que vem da cozinha do andar térreo, e de um cochilo, a tarde segue o mesmo ciclo: exercícios, descanso, trabalho. Raramente, antes de anoitecer, liga para alguém por vídeo chamada (uma sobrinha na Argentina, um amigo), comunicações breves durante as quais, no entanto, Bergoglio nunca deixa de contar algumas piadas. Ele também voltou a ligar para uma saudação em vídeo para a paróquia de Gaza, à noite, às 20h, por meio do smartphone de um secretário. Ele janta cedo, lê um pouco e depois vai para a cama para dormir.
Francisco vive com o nariz ligado ao concentrador de oxigênio, mas com o passar dos dias reduziu os fluxos e recuperou um pouco a fala, como se viu no domingo na Praça São Pedro: ele fez uma breve saudação com uma voz ainda fraca, mas nada comparável às palavras sussurradas da sacada do Hospital Gemelli no dia em que recebeu alta da policlínica, e menos ainda à entrecortada mensagem de áudio transmitida durante a internação.
O andar foi adaptado à situação. O Vaticano não confirma isso, mas, embora sem reformas ou grandes obras, a Casa Santa Marta agora está preparada para poder intervir prontamente no caso de uma crise respiratória semelhante à que ele teve no Gemelli. Quem fornece o equipamento necessário, além da cama especial, é a Direção de Higiene e Saúde, uma espécie de ministério da saúde do Vaticano, dirigido pelo eficiente e discreto professor Andrea Arcangeli, anestesista reanimador que fazia parte da equipe de médicos que assistiu João Paulo II em seus últimos anos. Além dele, há Luigi Carbone, o médico que apareceu na coletiva de imprensa no Gemelli, e mais uma dezena de médicos e enfermeiros que gravitam em torno do Papa. Aqueles que vêm de fora e poderiam trazer germes ou vírus são solicitados a usar uma máscara.
Após a saída do Vaticano no domingo, nos perguntamos se Francisco abrirá mais exceções à regra nos próximos dias para receber alguns convidados, se ele aparecerá na varanda de São Pedro para a bênção urbi et orbi de Páscoa. Até o momento, poucos têm acesso ao segundo andar. Francisco está cercado pela equipe médica que cuida dele 24 horas por dia, começando por Massimiliano Strappetti, o enfermeiro de confiança que nunca o perde de vista, e um segundo enfermeiro fixo, Andrea Rinaldi. Atuando como intermediários com o mundo exterior são os três secretários: padre Fabio Salerno e padre Daniel Pellizzon, que moram no mesmo andar que o Papa, e padre Juan Cruz Villalon, que também esteve muito presente no Gemelli, que mora no andar de baixo. Também moram no segundo andar os dois assistentes de quarto do Papa, Piergiorgio Zanetti, um ex-gendarme, e Daniele Cherubini, um ex-enfermeiro. Juntamente com os guardas suíços que se revezam no andar e os gendarmes que vigiam a Casa Santa Marta, eles agora são a família que acompanha o Papa durante seus dias de convalescença.