08 Abril 2025
“Nos últimos dias recebi expressões de proximidade de alguns de vocês que, ao me encontrar, sorriam de lábios fechados e me davam tapinhas nas costas, como se faz ao prestar condolências”. O arcebispo Erio Castellucci, teólogo e presidente do Comitê Nacional da Assembleia Sinodal da Conferência Episcopal Italiana, fala disso com ironia.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 04-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como quando os jornalistas lhe perguntam sobre as divisões na Igreja italiana e ele sorri: “Alguns são de direita, outros de esquerda, há também extraparlamentares tanto de direita quanto de esquerda”. O documento que seria a síntese de anos de trabalho não foi votado ontem pela assembleia que se reuniu esta semana no Vaticano. Uma chuva de emendas e intervenções críticas. Ficou claro que a maioria dos delegados - ou seja, 1.008 pessoas: 7 cardeais, 168 bispos, 252 padres, 34 religiosos, 17 diáconos e 530 leigos, entre os quais 277 mulheres e 253 homens - não o aprovaria: uma rejeição de fato, porque foi considerado demasiado vago e até mesmo reticente em questões como o papel das mulheres na Igreja ou a homossexualidade. Para muitos, as 50 proposições que pontuam o documento não refletiam o sentido das propostas que vieram da “base”.
A proposição n.5 sobre o “acompanhamento de pessoas em situações afetivas especiais”, por exemplo, afirmava: “As dioceses, valendo-se também de experiências de formação e práticas já existentes, devem se empenhar na formação de operadores e de novos percursos para que as comunidades sejam companheiras de viagem e favoreçam a integração das pessoas que sofrem por se sentirem à margem da vida eclesial por causa de suas relações afetivas ou condições familiares ‘feridas’ ou não conformes ao matrimônio sacramental (casados no civil, divorciados em segunda união, coabitantes, etc.), de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero”. Pobre demais, para muitos - houve quem lamentasse a falta do acrônimo “lgbtq” - em comparação com a discussão que vem se desenrolando na Igreja italiana há quatro anos.
O mesmo aconteceu com relação à “responsabilidade eclesial e pastoral das mulheres” (número 43), com a recomendação de “promover a nomeação de mulheres (leigas e religiosas) como líderes de estruturas diocesanas e em funções de responsabilidade pastoral nas dioceses, paróquias e associações”, ou também os “recursos econômicos para a corresponsabilidade de gestão” dos leigos (46).
Assim, decidiu-se adiar tudo para a Assembleia de 25 de outubro: o documento a ser votado será reescrito. Consequentemente, também foi adiada de maio para novembro a Assembleia Geral da CEI, que deverá “receber” o texto. “As muitas propostas de emenda apresentadas pelos 28 grupos exigem um repensamento global do texto e não apenas o ajuste de algumas de suas partes”, explicou Castellucci. A moção final fala de “criticidades”.
Entre janeiro e fevereiro, chegaram as últimas contribuições de todas as dioceses. O problema começou nessa fase: a síntese dos 196 relatórios chega a 1.064 páginas, enquanto o documento final tinha cerca de trinta.
“Presumimos, erroneamente, que estava claro que as proposições tinham a intenção de ser um texto de passagem, quase um índice argumentado”, diz Castellucci. Mas as emendas foram tão numerosas que não era mais possível corrigi-lo: era preciso reescrevê-lo.
Nenhuma censura, “não houve divisão em relação aos homossexuais, para mim a escolha é que todos se sintam parte desta casa, independentemente de suas situações afetivas”, esclarece o cardeal Matteo Zuppi, presidente da CEI: “Há uma certa decepção, mas não em relação à assembleia, onde houve um grande senso de liberdade e de sentimento eclesial. Há uma certa decepção porque gostaríamos de ter respeitado o cronograma que havíamos estabelecido. Mas é normal que haja discussões. Essa é a beleza da vida e de uma Igreja que está viva: se caminha”.
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